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TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

A poligamia e a Natureza do Homem (2)

29.04.23 | Manuel

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As recompensas da violência

Se a reprodução tem sido a recompensa e o objectivo do poder e da riqueza, então não surpreende que, frequentemente, também tenha sido a causa, e a recompensa, da violência.

Consideremos o caso dos habitantes das ilhas Pitcairn. Em 1790, nove amotinados do navio HMS Bownty atracaram em Pitcairn com seis homens e treze mulheres polinésios. A milhares de quilómetros da habitaçãoo mais próxima, sem conhecimento do resto do mundo, começaram a construir uma vida na pequena ilha. Reparemos no desequilíbrio: quinze homens e treze mulheres. Quando a colónia foi descoberta, dezoito anos mais tarde, tinham sobrevivido dez mulheres e apenas um dos homens. Dos outros homens, um tinha-se suicidado, um tinha morrido de causas naturais e doze tinham sido assassinados. O sobrevivente era simplesmente o último homem a ficar de pé numa orgia de violência inteiramente motivada pela competição sexual. O homem converteu-se prontamente ao cristianismo e estabeleceu a monogamia para a comunidade de Pitcairn. Até aos anos 30 do século XX a colónia prosperou e foram mantidos bons registos genealógicos. Os estudos destes registos mostram que a receita funcionou. À parte o adultério raro e ocasional, os habitantes de Pitcairn eram e permanecem monógamos.

A monogamia, reforçada pela lei, pela religião ou por sanções, parece reduzir a competição assassina entre os homens. De acordo com Tácito, as tribos germânicas que tanto frustraram vários imperadores romanos atribuíam o seu sucesso em parte ao facto de serem uma sociedade monógama e por isso eram capazes de dirigir a sua agressão para fora do seu grupo (embora esta explicação não se aplicasse aos romanos poligâmicos bem sucedidos). Não era permitida mais de uma mulher a nenhum homem, pelo que nenhum homem tinha incentivo para matar outro membro da sua tribo para ficar com a sua mulher. Isto não quer dizer que a monogamia imposta necessitasse de se estender aos escravos capturados. No século XIX, na ilha de Bornéu, uma tribo, os Iban, dominava as guerras tribais da ilha. Ao contrário dos vizinhos, os Iban eram monógamos, o que impedia ao mesmo tempo a acumulação de homens solteiros ressentidos nas suas fileiras e os motivava para feitos de grande coragem com o prémio de escravas estrangeiras como recompensa.

Um dos legados de ser antropoide é a violência intergrupo. Até aos anos 70, os primatólogos ocupavam-se a confirmarem os nossos preconceitos sobre antropóides pacíficos a viverem em sociedades não violentas. Depois começaram a observar o lado sinistro e raro da vida dos chimpanzés. Os machos de uma «tribo» de chimpanzés, por vezes, levam a cabo campanhas violentas contra machos de outra tribo, procurando e matando os seus inimigos. Este hábito é muito diferente da territorialidade de muitos animais, que se contentam em expulsarem os intrusos. O prémio pode ser obter o território inimigo, mas é uma recompensa pequena para uma ocupação tão perigosa. Uma recompensa muito mais valiosa aguarda a aliança de machos bem sucedida: as fêmeas jovens do grupo derrotado juntam-se aos vencedores.

Se a guerra é algo que herdamos directamente da hostilidade entre grupos dos machos antropóides por causa das fêmeas, sendo o território meramente um meio para obter sexo, então segue-se que as pessoas tribais devem fazer guerra por causa das mulheres, e não por causa do território. Durante muito tempo os antropólogos insistiram em que a guerra era travada por causa de recursos materiais raros, em particular proteínas, de que frequentemente havia falta. Por isso, quando Napoleon Chagnon, treinado nesta tradição, foi à Venezuela nos anos 60 para estudar a tribo Yanomamö, aguardava-o um choque: «Estas pessoas não lutavam pelos motivos que fui treinado a acreditar – obtenção de recursos raros. Lutavam por causa das mulheres.». Ou, pelo menos, era o que diziam. Na antropologia existe uma tradição de que não devemos acreditar no que as pessoas nos dizem; por isso Chagnon foi ridicularizado por acreditar nelas. Ou como ele diz: «É-nos permitido admitir que o estômago é uma fonte de guerra, mas as gónadas não.» Chagnon voltou várias vezes e, por fim, acumulou um conjunto aterrador de dados que prova, para além de qualquer dúvida, que os homens que matam outros homens (unokais) têm mais esposas, independentemente do seu estatuto social, do que os homens que não são assassinos.

Entre os Yanomamö, a guerra e a violência são ambas principalmente por causa do sexo. A guerra entre duas aldeias vizinhas desencadeia-se por causa do rapto de uma mulher, ou por retaliação a um ataque que teve essa motivação, e resulta sempre no facto de as mulheres mudarem de mãos. A causa mais comum da violência dentro de uma aldeia também é o ciúme sexual; uma aldeia que é demasiado pequena tem uma grande probabilidade de ser atacada por causa das mulheres, mas uma aldeia que é demasiado grande geralmente divide-se devido ao adultério. Nos Yanomamö, as mulheres são a moeda de troca e a recompensa da violência masculina. A morte violenta é comum na sociedade Yanomamö. Aos 40 anos dois terços das pessoas perdem um parente próximo devido a homicídio. Mas esse facto não atenua a dor nem o medo do assassínio. Para os yanomamö que abandonam as florestas, a existência no mundo exterior com leis que impedem o assassínio crónico é milagrosa e extremamente desejável. De igual modo, os Gregos lembravam com carinho a substituição da vingança pela justiça como sendo um marco através da lenda do julgamento de Orestes. De acordo com Ésquilo, Orestes matou Clitemnestra por esta ter morto Agamémnon, mas as Fúrias foram persuadidas por Atenas a aceitarem o veredicto do tribunal e a acabarem com os feudos de sangue. Thomas Hobbes não exagerou quando listou entre as características da humanidade primitiva «o medo contínuo e o perigo de morte violenta», embora tivesse menos razão na segunda parte da frase, que é a mais familiar, «e a vida do homem era solitária, pobre, difícil, abrutalhada e curta».

Chagnon acredita agora que a sabedoria convencional – as pessoas apenas lutam por recursos escassos – está errada. Se os recursos são escassos, então as pessoas lutam por eles. Se não o são, não lutam. «Porquê preocupar-se», diz ele, «em lutar por nozes mongongo quando a única vantagem em ter este tipo de frutos poder ter mulheres. Por que não lutar pelas mulheres?» Ele acredita que a maioria das sociedades humanas não estão à beira da limitação de recursos. Os Yanomamö poderiam facilmente ter jardins maiores, deitando abaixo mais floresta, e ter mais árvores de cultivo, mas depois teriam alimento a mais.

Nada existe de particularmente estranho nos Yanomamö. Todos os estudos das sociedades pré-letradas feitos antes de os governos nacionais serem capazes de impôr as suas leis sobre elas revelaram rotineiramente níveis elevados de violência. Um estudo calculou que nossas sociedades um quarto de todos os homens era morto por outros homens. No que diz respeito aos motivos o sexo é o motivo dominante.

O mito fundador da cultura ocidental, a Ilíada, de Homero, é uma história que começa com uma guerra por causa do rapto de uma mulher, Helena. Os historiadores consideram há muito o rapto de Helena para Tróia como não sendo mais do que um pretexto para uma confrontação territorial entre os Gregos e os Troianos. Mas poderemos ser assim tão confiantemente condescendentes? Talvez os Yanomamö realmente vão para a guerra por causa das mulheres, como dizem. Talvez os gregos de Agamémnon também o fizessem, tal como disse Homero. A Ilíada começa com – e é dominada por – uma discussão entre Aquiles e Agamémnon cujo motivo e a insistência de Agamémnon em confiscar uma concubina, Briseida, de Aquiles em compensação por ter de devolver a sua concubina, Criseide, ao seu pai sacerdote que assegurara a ajuda de Apolo contra os Gregos. Este desentendimento nas fileiras, causado por uma disputa sobre uma mulher, quase fez com que os Gregos perdessem a guerra, que, por sua vez, tinha sido originada por uma disputa por causa de uma mulher.

Nas sociedades pré-agrárias, a violência pode muito bem ter sido uma rota para o sucesso sexual especialmente em tempos de tumulto. Em muitas culturas diferentes, os presos feitos durante a guerra tendiam a ser mulheres e não homens. Mas permanecem ecos nos tempos modernos. Muitas vezes os exércitos foram tão motivados pela oportunidades que a vitória proporcionava em termos de violações como por patriotismo ou por medo. Os generais, reconhecendo isto, fechavam os olhos e ignoravam os excessos das suas tropas e faziam por lhes proporcionarem seguidoras de acampamento. Mesmo neste século o acesso a prostitutas tem sido um objectivo mais ou menos reconhecido das licenças de terra da marinha. E a violação continua a acompanhar a guerra. Em 1971, no Paquistão Oriental (actualmente Bangladesh), durante uma ocupação pelas tropas paquistanesas ocidentais que teve a duração de nove meses, os soldados podem ter sido responsáveis pela violação de cerca de 400 000 mulheres. Em 1992, na Bósnia, os relatos de campos de violação organizados para os soldados sérvios tomaram-se demasiado frequentes para serem ignorados. Don Brown, um antropólogo de Santa Bárbara, lembra-se dos seus tempos no exército: «homens falavam sobre o sexo dia e noite; nunca falavam sobre o poder».

(A Rainha de Copas – O Sexo e a Evolução da Natureza Humana, Matt Ridley. Gradiva, 2004).

Imagem de destaque: Os amotinados abandonam William Bligh e os seus companheiros do HMAV Bounty, 29 de Abril 1789.

Povo arménio: O genocídio do século XX que o mundo ocidental silenciou

26.04.23 | Manuel

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Por Daniel Cecchini

Em 24 de abril de 1915, teve início um massacre que duraria quase oito anos com saldo de mais de um milhão e meio de mortos e a diáspora dos que conseguiram sobreviver. Durante meio século, nenhum país do mundo reconheceu esse extermínio como "genocídio", a ponto de, antes de desencadear a Segunda Guerra Mundial, Hitler perguntar ao seu Estado-Maior: "Quem se lembra do extermínio dos arménios?"

Quando a Primeira Guerra Mundial começou, os Jovens Turcos ficaram do lado da Alemanha e do Império Austro-Húngaro. Nesse contexto, a minoria arménia foi descrita como "inimigos da segurança nacional" devido à sua proximidade com a Rússia.

“Quem, afinal, hoje se lembra do extermínio dos arménios?”, Adolf Hitler perguntou retoricamente aos membros de seu Estado-Maior em 22 de agosto de 1939 em uma reunião realizada em Obersalszberg, menos de dez dias antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Nessa reunião, minutos antes, ele havia anunciado sua decisão de invadir a Polónia – o que aconteceu no dia 1º de setembro – e também qual era o destino que aguardava o povo polonês sob seu governo. “Eu mantenho prontas para o momento oportuno minhas 'Unidades Crânio', com a ordem de matar sem piedade ou graça todo homem, mulher e criança de raça ou língua polonesa. Só assim conseguiremos o espaço vital de que precisamos.”

Quando pronunciou a frase, menos de 25 anos haviam se passado desde o início, em 24 de abril de 1915, do genocídio do povo armênio no Império Otomano, governado pelo partido ultranacionalista conhecido como Jovens Turcos, com um equilíbrio entre um milhão e meio e dois milhões e meio de mortes em oito anos e a diáspora dos sobreviventes.

A menção ao "extermínio dos arménios" não era gratuita na boca do ditador alemão, que havia planejado não apenas eliminar os poloneses, mas também eliminar os judeus, os ciganos e qualquer minoria "inferior à raça ariana" com resultado que, seis anos depois, somaria pelo menos seis milhões de vítimas.

Ao falar do massacre de uma cidade inteira e do seu esquecimento, o líder nazi dizia que os vencedores não eram obrigados a prestar contas e que o caso arménio era um exemplo.

O do povo arménio na Turquia foi o primeiro genocídio do século 20 e começou em 24 de abril de 1915 com a prisão e morte dos representantes mais importantes da comunidade. Pouco tempo depois, começaram as deportações em massa, supervisionadas por autoridades civis e militares, e que foram acompanhadas por uma campanha de assassinatos perpetrada por forças paramilitares, compostas principalmente por curdos e circassianos.

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Cena de um dos linchamentos em massa de militantes arménios pelas forças dos jovens turcos: o linchamento do povo armênio na Turquia foi o primeiro genocídio do século XX

Os que sobreviviam às transferências, que tinham de fazer a pé, sob a mira das espingardas, sem água nem comida, acabavam em campos de concentração montados no deserto sírio, onde o seu destino já estava traçado: ali morreriam de fome ou sede e os que tentassem fugir seriam mortos a tiros.

Durante essas longas marchas, que ocorreram entre 1915 e 1916, cerca de um milhão de homens, mulheres e crianças armênios morreram. Nos anos seguintes, até 1923, uma repressão seletiva mataria mais centenas de milhares, muitos deles escondidos e sob a proteção de famílias turcas horrorizadas com o massacre a que assistiam.

Tal exibição de morte não poderia passar despercebida. Houve jornalistas, missionários, diplomatas e militares estrangeiros que noticiaram o que se passava, mas o contexto da Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914, e as notícias sobre o desenrolar das batalhas fizeram com que ficasse em segundo plano diante de opinião pública, público internacional.

O fim da guerra não mudou a situação. Hitler não errou ao dizer, um quarto de século depois, que pouquíssimas pessoas se lembravam do extermínio dos arménios.

Naquela época, a palavra "genocídio" não existia. Somente em 1944 foi cunhado pelo jurista judeu-polonês Rafael Lemkin, que conseguiu fugir da perseguição nazista e se refugiou nos Estados Unidos, em seu livro O poder do Eixo na Europa ocupada, onde o definiu como "qualquer ato com a  intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico ou religioso enquanto tal".

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Após a primeira etapa do massacre de extermínio, iniciou-se o período de deportações em massa para campos de concentração no meio do deserto.

Um povo perseguido

Os armênios lutavam pelo reconhecimento de sua nacionalidade contra o Império Otomano desde meados do século XIX e a onda de independência cresceu após a derrota na guerra russo-turca em 1888, quando o Império Otomano teve que conceder a independência à Sérvia, Montenegro e Romênia, e meia independência para a Bulgária.

O que a Turquia não aceitou foi a criação de um estado armênio, temendo seu alinhamento com a Rússia. No entanto, a luta pela autonomia não parou, não só dentro do enfermo Império Otomano, mas também na Europa, com a formação de vários partidos políticos pró-independência.

Em retaliação, entre 1894 e 1896, Sutan Abdul Hamid II perpetrou uma furiosa repressão contra os armênios no que ficou conhecido como os “massacres hamidianos”, com saldo de milhares de assassinados. A partir daí passou a ser chamado de "Sultão Vermelho", por causa do sangue que derramou.

O sultão foi derrubado em 1908 por um grupo de oficiais do exército do Comité de União e Progresso, conhecidos como “Jovens Turcos” . Seu projeto nacionalista visava reviver as velhas glórias do Império Otomano e, para isso, esmagar as minorias.

Quando começou a Primeira Guerra Mundial, os Jovens Turcos alinharam-se com a Alemanha e o Império Austro-Húngaro -as "Potências Centrais"-, para estar do lado que acreditavam ser vitorioso e restaurar o poder do lado dos vencedores. Império Otomano.

Neste contexto, a minoria arménia foi praticamente considerada como um elemento que não hesitaria em alinhar-se com o inimigo histórico russo. Eles foram descritos como “inimigos da segurança nacional”.

O massacre começou por grupos paramilitares que atacaram e cometeram assassinatos em massa nas aldeias armênias mais próximas da fronteira com a Rússia, e a situação se agravou após a derrota otomana para as tropas russas na batalha de Sarıkamış, em janeiro de 1915, na qual armênios e outros não – os muçulmanos foram acusados ​​de colaborar com o inimigo.

Três meses depois começaria o extermínio sistemático da população arménia.

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“Não consigo entender como, cem anos depois, o atual governo da Turquia pode continuar negando o massacre de nossos compatriotas, que não admite que tenha sido genocídio”, disse um dos últimos sobreviventes.

24 de abril de 1915

A data precisa do início do que hoje é conhecido como o genocídio do povo armênio pode ser definida. Em 24 de 1915, o governo dos Jovens Turcos  ordenou a prisão de 250 intelectuais e líderes da comunidade armênia , incluindo alguns membros do parlamento otomano. Eles foram primeiro presos, depois deportados e finalmente fuzilados na maioria deles.

Esse foi o começo. Um mês depois, com a desculpa da guerra, o governo dos Jovens Turcos dissolveu o Congresso e promulgou "Os Dez Mandamentos da União e do Comitê de Progresso", onde a população armênia era vista como um grupo de traidores aos quais  era  necessário perseguir

Depois dessa primeira etapa, buscou-se a eliminação de todos os jovens, e isso foi feito com um mecanismo perverso. “Mais de 60.000 homens armênios foram recrutados para o exército otomano e depois mortos. Eles foram obrigados a cavar suas sepulturas antes de serem fuzilados . Algumas prisões e a formação de campos de concentração também ocorreram no início daquele ano”, explica o historiador e jornalista Vardan Bleyan.

Finalmente, começaram as deportações em massa dos homens que haviam escapado da primeira etapa do massacre, mulheres, idosos e crianças. Foram obrigados a marchar a pé, sem comida nem água, para campos de concentração no meio do deserto.  Aqueles que tentaram escapar foram mortos a tiros, aqueles que finalmente conseguiram chegar aos campos morreram de fome lá .

 

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Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, Chipre, Estados Unidos, França, Grécia, Itália, Líbano, Polônia, Rússia, Eslováquia, Suécia, Suíça, Vaticano, Uruguai e Venezuela são alguns dos países que descrevem o ocorrido como genocídio com o povo arménio

Uma prova de horror

Em abril de 2015, no centenário do início do genocídio armênio, a BBC entrevistou um dos poucos sobreviventes ainda vivos.

Yevnigue Salibian tinha 101 anos e não conseguia mais andar, mas relatou com extraordinária clareza a provação que ela e sua família sofreram. Quando o massacre começou, ele tinha apenas um ano de idade, mas as relações de seu pai com o prefeito da cidade de Aintab, onde moravam, permitiram que permanecessem até 1921 em relativa segurança.

“De nossa casa víamos multidões passando, incluindo crianças pequenas, mulheres e idosos. Havia muitas crianças. Eles gritaram: ' Estou com sede. estou com fome . Mamãe me dê um pouco de pão. Tenho muita sede. Me dê água. Eu não posso andar. Mãe, não consigo andar'”, lembrou ela na entrevista.

Quando o prefeito não pôde mais protegê-los, toda a família fugiu para a Síria em dois vagões e depois se refugiou em Beirute, capital libanesa, e depois nos Estados Unidos.

“Não consigo entender como, cem anos depois,  o atual governo da Turquia pode continuar negando o massacre  de nossos compatriotas, que não admite que tenha sido genocídio”, disse ele naquela entrevista.

E acrescentou: “Eles mataram muitos armênios. Um milhão e meio, ou mais. É um número muito alto. Nós os encontraremos no céu. O genocídio armênio ocorreu antes que a palavra “genocídio” fosse cunhada. Foi criado pelo jurista judeu polonês Rafael Lemkin em 1944, após fugir da perseguição nazista e se refugiar nos Estados Unidos.

Um genocídio negado

No 108º aniversário do início do extermínio do povo armênio no Império Otomano, a posição formal da Turquia é que essas mortes, ocorridas durante "relocação" ou "deportação", não podem ser consideradas "genocídio", posição que tem sido apoiado por uma série de justificativas: que os assassinatos não foram deliberados ou sistemáticos, que os assassinatos foram justificados porque os armênios representavam uma ameaça como um grupo cultural simpatizante da Rússia; ou que os armênios simplesmente morreram de fome.

Quando em agosto de 1939, antes de lançar a invasão da Polônia, Hitler perguntou ao seu Estado-Maior quem se lembrava do extermínio dos armênios, ele sabia do que estava falando. Até então, nenhum país do mundo o havia condenado oficialmente.

O Uruguai foi a primeira nação a fazê-lo, em 1965, meio século após o início do genocídio.

Hoje, mais de vinte países no mundo começaram a descrevê-lo dessa forma, de alguma forma fazendo o que consideram justiça com a memória das vítimas. Entre eles estão Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, Chipre, Estados Unidos, França, Grécia, Itália, Líbano, Lituânia, Holanda, Polônia, Rússia, Eslováquia, Suécia, Suíça, Vaticano e Venezuela.

O Parlamento Europeu e a Subcomissão das Nações Unidas para a Prevenção da Discriminação e Proteção das Minorias também reconheceram isso.

No momento em que este livro foi escrito, os armênios em todo o mundo continuam a lutar para que os assassinatos em massa cometidos contra eles sejam reconhecidos como genocídio sem qualquer desculpa.

Fonte

MORTOS PELO FASCISMO

24.04.23 | Manuel

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De facto, o regime de Salazar não foi igual ao nazismo e a PIDE não foi igual à Gestapo, mas imitaram muito bem.

É bom recordar o que foram os crimes do fascismo, quais os cidadãos que foram assassinados – a memória da história é essencial a cada povo para poder encontrar caminhos de futuro. Não se pode renegar ou branquear a história, mesmo que não pertencesse ao número dos vivos nenhum dirigente, beneficiário ou colaborador do fascismo, o que nem é o caso.

O fascismo existiu, os fascistas ainda existem em Portugal e é bom que tudo isto esteja presente na memória colectiva e individual.

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Fig: Algumas das figuras mais sinistras da PIDE: Ao centro, o Seixas (Henrique de Sá e de Seixas) que foi chefe dos guardas no Tarrafal e mais tarde guarda-costas de Salazar. Ao que parece, terá ido para o Tarrafal como "castigo" pelos excessos cometidos quando se encontrava colocado no Porto, aqui tinha por hábito agredir os presos com uma matraca, que baptizara de "Arriba Espanha!", até o sangue espirrar pelas paredes (Foto in "DL")

*

Relembremos, pois, aqueles que verteram o seu sangue pela liberdade e por um mundo melhor:

- 1931, o estudante Branco é morto pela PSP, durante uma manifestação no Porto;

- 1932, Armando Ramos, jovem, é morto em consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa;

- 1934, Américo Gomes, operário, morre em Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista ferroviário morre durante a tortura em consequência da repressão da greve de 18 de Janeiro; Júlio Pinto, operário vidreiro, morto à pancada durante a repressão da greve de 18 de Janeiro; a PSP mata um operário conserveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal

-1935, Ferreira de Abreu, dirigente da organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede da PIDE (então PVDE);

- 1936, Francisco Cruz, operário da Marinha Grande, morre na Fortaleza de Angra do heroísmo, vítima de maus tratos, é deportado do 18 de Janeiro; Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante a tortura;

- 1937, Ernesto Faustino, operário; José Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias; Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PIDE (PVDE) durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior, operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;

- 1938, António Mano Fernandes, estudante de Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigente do PCP, morre no Tarrafal após lenta agonia sem assistência médica;

- 1939, Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima de doença e de maus tratos;

- 1940, Jaime Fonseca de Sousa, morre no Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no Tarrafal;

-1941, Jacinto Faria Vilaça, Casimiro Ferreira; Albino de Carvalho; António Guedes Oliveira e Silva; Ernesto José Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;

- 1942, Henrique Domingues Fernandes morre no Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!); Bento António Gonçalves, secretário-geral do P. C. P. Morre no Tarrafal; Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar, morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no Tarrafal;

- 1943, Rosa Morgado, camponesa do Ameal (Águeda), e os seus filhos, António, Júlio e Constantina, são mortos a tiro pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal; Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa; Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;

- 1944, general José Garcia Godinho morre no Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente), mais 40 camponeses são feridos a tiro.

- 1945, Manuel Augusto da Costa morre no Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo; Alfredo Dinis (Alex), operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de tuberculose em consequência dos maus-tratos na prisão;

- 1946, Manuel Simões Júnior, operário corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação; Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, é morto por espancamento após quinze meses de prisão;

-1947, José Patuleia, assalariado rural de Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;

- 1948, António Lopes de Almeida, operário da Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal; Joaquim Marreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de deportação; António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de Janeiro de 1934, morre quase cego e após doença prolongada;

- 1950, Militão Bessa Ribeiro, operário e dirigente do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade; José Moreira, operário, assassinado na tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é lançado por uma janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;

- 1951, Gervásio da Costa, operário de Fafe, morre vítima de maus tratos na prisão;

- 1954, Catarina Eufémia, assalariada rural, assassinada a tiro em Baleizão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos braços;

- 1957, Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do Porto; José Centeio, assalariado rural de Alpiarça, é assassinado pela PIDE;

- 1958, José Adelino dos Santos, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores são feridos a tiro; Raul Alves, operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é lançado por uma janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do embaixador do Brasil;

- 1961, Cândido Martins Capilé, operário corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada; José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa numa rua de Lisboa;

- 1962, António Graciano Adângio e Francisco Madeira, mineiros em Aljustrel, são assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro, operário de Alcochete, é assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do 1º. de Maio em Lisboa;

- 1963, Agostinho Fineza, operário tipógrafo do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma manifestação em Lisboa;

- 1964, Francisco Brito, desertor da guerra colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, é assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;

- 1965, general Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos são assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno (Espanha), os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco e o subinspector Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;

- 1967, Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;

- 1968, Luís António Firmino, trabalhador de Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto, trabalhador rural, é morto à pancada no posto da PSP de Lamego por condenar publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite sem assistência;

- 1969, Eduardo Mondlane, dirigente da Frelimo, é assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;

- 1972, José António Leitão Ribeiro Santos, estudante de Direito em Lisboa, militante do MRPP, é assassinado a tiro durante uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu assassino, o agente da PIDE Coelho

da Rocha, viria a escapar-se na “fuga-libertação” de Alcoentre, em Junho de 1975;

- 1973, Amilcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;

- 1974, (dia 25 de Abril), Fernando Carvalho Gesteira, de Montalegre, José James Barneto, de Vendas Novas, Fernando Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante dos Açores, são assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua António Maria Cardoso, são ainda feridas duas dezenas de pessoas A PIDE acaba como começou assassinando.

Aqui não ficam contabilizadas as inúmeras vítimas anónimas da PIDE, GNR e PSP em outros locais de repressão. Mas ainda podemos referir, duas centenas de homens, mulheres e crianças massacradas a tiro de canhão durante o bombardeamento da cidade do Porto, ordenada pelo coronel Passos e Sousa, na repressão da revolta de 3 de Fevereiro de 1927. Dezenas de mortos na repressão da revolta de 7 de Fevereiro de 1927 em Lisboa, vários deles assassinados por um pelotão de fuzilamento, às ordens do capitão Jorge Botelho Moniz, no Jardim Zoológico. Dezenas de mortos na repressão da revolta da Madeira, em Abril de 1931, ou outras tantas dezenas na repressão da revolta de 26 de Agosto de 1931. Um número indeterminado de mortos na deportação na Guiné, Timor, Angra e no Cunene. Um número indeterminado de mortos devido à intervenção da força fascista dos “Viriatos” na guerra civil de Espanha e a entrega de fugitivos aos pelotões de fuzilamento franquistas. Dezenas de mortos em São Tomé, na repressão ordenada pelo governador Carlos Gorgulho sobre os trabalhadores que recusaram o trabalho forçado, em Fevereiro de 1953. Muitos milhares de mortos durante as guerras coloniais, vítimas do Exército, da PIDE, da OPVDC, dos “Flechas”, etc.

De facto, o regime de Salazar não foi igual ao nazismo e a PIDE não foi igual à Gestapo, mas imitaram muito bem.

(O texto com a relação das mortes do fascismo, assim como a parte final, é da autoria da Comissão “Abril Revolucionário e Popular”)

Tempos perigosos: a propaganda contra o consumo de carne

24.04.23 | Manuel

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E beber leite é 'perturbador' e racista

Por Ben Bartee

Como documentei anteriormente no The Daily Bell, um dos principais projetos em andamento dos tecnocratas globalistas no WEF é forçar os camponeses a trocar carne por larvas de farinha, ostensivamente para combater a “mudança climática”.

Enriquecer Bill Gates, investidor anjo no produto sintético de “carne cultivada em laboratório” Impossible Burger, é um benefício auxiliar. ( Gates investiu US$ 75 milhões na indústria vegana de carne de laboratório.)

Pessoas como Bill Gates, a mídia corporativa nos faz acreditar, são enviadas do céu para corrigir nosso comportamento abominável.

Para vender as larvas de farinha ao público, os senhores saturam a mídia corporativa com propaganda vegana. Suas campanhas se baseiam alternadamente em apelos à moral ou à saúde, dependendo do tato que lhes convém no momento.

Cirurgião vegano recomenda veganismo (chocante)

Por Insider:

“Um cirurgião cardíaco que era adventista do sétimo dia, uma fé que incentiva o vegetarianismo… descreveu suas experiências operando pacientes que comiam uma dieta baseada em vegetais, observando que suas artérias eram saudáveis ​​e flexíveis. Em contraste, ele observou que as artérias dos carnívoros estavam tão obstruídas com placa devido ao acúmulo de colesterol que o médico disse que elas pareciam “crocantes”.

O principal problema com muito do discurso vegano é que os evangelistas trabalham de trás para frente em suas posições morais filosóficas (ou neste caso religiosas) para coletar evidências científicas para apoiar suas conclusões.

Neste artigo, o médico nem fornece dados clínicos reais que possam informar sua posição, em vez disso cita vagamente a sensação estética subjetiva das artérias dos pacientes enquanto ele realiza uma cirurgia nelas.

CNN instrui donos de animais a alimentá-los com insetos para a mudança climática

Além de humanos degenerados poluindo a atmosfera com suas formas de comer carne, a CNN também quer enfatizar que:

os animais de estimação desempenham um papel significativo na crise climática… Sua dieta rica em carne é o maior contribuinte para suas pegadas de carbono, que requer uma abundância de energia, terra e água para produzir. E a produção de alimentos para animais de estimação emite enormes quantidades de  gases que aquecem o planeta.”

“Venha tomar seu Gates-slop, Rover. É hora do jantar."

Os especialistas em clima entendem que cães e gatos adoram comer aspargos, assim como os ursos polares não sabem nadar segundo Al Gore (eles podem nadar centenas de quilômetros, aqui na realidade). Respeite a Ciência™.

A mídia está repleta de relatos de evangelistas veganos matando seus gatos com dietas veganas, enfraquecendo seus pequenos músculos cardíacos até que desistam.

Se a Deusa da Terra Gaia deseja uma coisa acima de tudo, são gatinhos sacrificados em seu altar. Matar Mittens pela Terra é amoroso e liberal.

A carne de laboratório de Bill Gates causa cancro?

Enquanto os auto-satisfeitos tecno-escravos estão ocupados salvando a Terra com o Impossible Burger de Bill Gates, eles podem estar se dando câncer no processo.

Via  Bloomberg:

“O grande asterisco buzinante é que  as células de carne normais não continuam se dividindo para sempre. Para fazer com que as culturas de células cresçam a taxas grandes o suficiente para alimentar um negócio, várias empresas, incluindo as três grandes, estão discretamente usando o que é chamado de  células imortalizadas , algo que a maioria das pessoas nunca comeu intencionalmente. Células imortalizadas são um elemento básico da pesquisa médica, mas  são, tecnicamente falando, pré-cancerígenas e podem ser, em alguns casos, totalmente cancerígenas.”

Além de gatinhos mortos, o câncer também é amoroso e liberal.

Risível estudo de propaganda anti-carne encontra estupenda vantagem atlética para os veganos!

Nutritionfacts.org – financiado por vários fornecedores de produtos e serviços veganos, como Rise of the VeganFit Vegan Coaching e Plant Perfection Foods – retirou da obscuridade um estudo ridículo de 115 anos atrás em uma tentativa de provar que o veganismo promove performance atlética.

Via NutritionFacts.org:

“Quantas flexões de joelho profundas você consegue fazer? Um atleta carnívoro fez mais de 1.000, com o grupo como um todo com uma média de 383, mas os atletas que comem vegetais os superaram, com uma média de 927. Mesmo os vegetarianos sedentários tiveram um desempenho melhor do que os atletas carnívoros; eles tiveram uma média de 535 flexões de joelho profundas.

O estudo é falho e essencialmente inútil por muitas razões. O principal deles é o fato de ter incluído apenas 49 participantes. Baseava-se apenas em auto-relato. Também não levou em conta de forma alguma a ingestão de proteínas, a idade dos participantes, seu estado de saúde subjacente, etc.

Vice demoniza consumidores de laticínios: 'Perturbador'

A vice “editora de cultura” Daisy Jones recebeu a ligação de que os bebedores de leite deveriam ser difamados, então ela começou a trabalhar alucinando uma cena que (provavelmente) nunca aconteceu em um festival de música do Reino Unido.

Por vice:

“Eu estava em  Glastonbury  no mês passado, esperando por Diana Ross, quando vi um homem adulto fazendo fila para um lugar chamado  The Milk Stand . Ele apoiou o cotovelo no bar, esfregou o cavanhaque e disse: "Só uma caixa de leite para mim, por favor, cara". Estava 28 graus lá fora. E assim que os primeiros acordes de “I'm Coming Out” começaram, pude vê-lo com o canto do olho, bebendo leite, pequenos filetes de líquido branco caindo em cascata pelo queixo. E eu pensei: 'Desculpa? Você está bem?"

Jones continua comparando o consumo de laticínios com o consumo de sêmen:

“Por que você, como adulto, está bebendo um líquido branco feito dentro de um corpo? E, pior, por que você está bebendo especificamente o líquido corporal branco das vacas? Você sabe quais outros líquidos se encaixam nessa categoria? C ** e alta.

É verdade que os humanos são os únicos animais que consomem laticínios após a infância. Mas também é verdade que os humanos consomem laticínios há literalmente seis mil anos. Estamos nisso há tanto tempo que desenvolvemos enzimas digestivas adultas para quebrar a lactose.

Em sua jihad vegana em andamento, a VICE previsivelmente declarou que

“o leite foi nefastamente cooptado e transformado no símbolo preeminente tanto dos neonazistas quanto da 'alt-right'.”

Sim, até o leite é racista!

Este artigo foi originalmente publicado no The Daily Bell.

A poligamia e a Natureza do Homem

20.04.23 | Manuel

 

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Imperadores altamente sexuados

Em finais dos anos 70, Mildred Dickemann, antropóloga da Califórnia, decidiu aplicar algumas ideias darwinianas à história e à cultura humanas. Propôs-se simplesmente ver se os tipos de previsões que os biólogos evolutivos faziam para os outros animais também se aplicavam aos seres humanos. O que descobriu foi que nas sociedades orientais altamente estratificadas do passado as pessoas pareciam comportar-se exactamente como seria de esperar se soubessem que o seu objectivo na Terra era deixarem o maior número de descendentes possível. Por outras palavras, os homens tendiam a procurar a poligamia, enquanto as mulheres lutavam para casarem com os homens de uma classe social superior. E afirmou que muitos costumes culturais — os dotes, o infanticídio feminino, a clausura das mulheres, de modo que a sua virgindade não pudesse ser danificada — eram consistentes com este padrão. Por exemplo, na Índia as castas elevadas praticavam mais infanticídio feminino do que as mais baixas, porque existiam menos oportunidades para exportarem as filhas para castas ainda mais elevadas. Por outras palavras, o casamento era um negócio: poder masculino e recursos para o potencial reprodutivo da fêmea.

Na mesma altura dos estudos de Dickemann, John Hartung, da Universidade de Harvard, começou a observar os padrões das heranças. Colocou a hipótese de um homem (ou mulher) rico numa sociedade polígama ter tendência para deixar os seus bens a um filho, e não a uma filha, porque um filho rico poderia dar-lhe mais netos do que uma filha rica. Isto acontece porque o filho pode ter filhos com várias mulheres, enquanto a filha não pode aumentar o número de filhos mesmo que case com muitos maridos. Por isso, quanto mais polígama é uma sociedade, mais provável é que mostre um padrão enviesado de herança a favor dos machos. Uma pesquisa que envolvia quatrocentas sociedades encontrou evidências que apoiam fortemente esta hipótese.

É claro que isso não prova nada. Pode ser uma coincidência que os argumentos evolutivos prevejam o que acontece de facto. Existe uma história que aconselha a ter cuidado e que os cientistas contam uns aos outros sobre um homem que corta as patas de uma pulga para testar a sua ideia de que os ouvidos da pulga estão nas patas, Depois diz à pulga para saltar, e ela não salta, pelo que conclui que tinha razão: 0s ouvidos das pulgas estão nas patas.

Apesar disso, os darwinianos começaram a pensar que a história humana talvez possa ser iluminada por um raio de luz evolutivo. Em meados dos anos 80, Laura Betzig propôs-se testar a noção de as pessoas estarem sexualmente adaptadas para explorarem qualquer situação que encontrem. Não tinha grandes esperanças de ter sucesso, mas acreditava que a melhor maneira de testar a conjectura era simplesmente postular a previsão mais simples que podia fazer: que os homens tratariam o poder, não como um fim, mas como um meio para obterem sucesso sexual e reprodutivo. Ao olhar em redor para o mundo moderno, não se sentiu encorajada: de Hitler ao papa, frequentemente, os homens poderosos não tinham filhos. Eram tao consumidos pelas suas ambições que lhes ficava pouco tempo para namoriscarem.

Mas, quando examinou o registo da história, Betzig ficou surpreendida. A sua previsão simplista era confirmada uma e outra vez. Apenas falhou nos últimos séculos no que diz respeito ao Ocidente. E não só: na maioria das sociedades poligâmicas existiam mecanismos sociais complicados para garantirem que o polígamo poderoso deixava um herdeiro polígamo.

As seis «civilizações» independentes da história antiga — Babilónia, Egipto, Índia, China, Astecas e Incas — eram menos notáveis pelo seu grau de civilidade do que pela concentração de poder. Eram todas governadas por homens, um homem de cada vez cujo poder era arbitrário e absoluto. Estes homens eram déspotas, o que significa que podiam matar os súbditos sem temerem retaliações. Essa vasta acumulação de poder traduzia-se sempre, sem excepção, numa produtividade sexual prodigiosa. O rei da Babilónia Hammurabi tinha milhares de «mulheres» escravas à sua disposição. O faraó egípcio Akhenaten tinha trezentas e dezassete concubinas e «rebanhos» de consortes. O líder asteca Montezuma disponha de 4000 concubinas. O imperador indiano Udayama mantinha 16 000 consortes em apartamentos rodeados de fogo e guardados por eunucos. O imperador chinês Fei-ti tinha 10000 mulheres no seu harém. Os Incas, como já vimos, mantinham virgens à sua disposição por todo o reino.

Estes seis imperadores, cada um típico dos seus antecessores e sucessoras, não só tinham haréns igualmente grandes, mas empregavam técnicas semelhantes para os encherem e guardarem. Recrutavam jovens (geralmente em idade pré-menstrual), mantinham-nas em fortes altamente defensáveis e à prova de fuga, guardavam-nas utilizando eunucos, mimavam-nas e esperavam que dessem à luz os filhos do imperador. Eram comuns medidas para aumentar a fertilidade do harém. As amas de leite, que permitiam que as mulheres retomassem a ovulação ao diminuir o seu período de amamentação, datam de pelo menos do código de Hammurabi do século XVIII aC.: eram motivo de canções nas canções dc embalar sumérias. A dinastia Tang de imperadores da China mantinha registos cuidadosos das datas de menstruação e concepção no harém para ter a certeza de copular apenas com as concubinas mais férteis. Os imperadores chineses também eram ensinados a conservaram o esperma para manterem a sua quota de duas mulheres por dia e alguns chagavam a queixar-se dos seus deveres onerosos. Estes haréns dificilmente podiam ter sido concebidos mais cuidadosamente como máquinas de reprodução dedicadas ao alastramento dos genes do imperador.

Os imperadores não eram mais do que exemplos extremos. Laura Betzig examinou cento e quatro sociedades politicamente autónomas e descobriu que «em quase todos os casos o poder prevê o tamanho do harém de um homem». Os pequenos reis tinham cem mulheres; os grandes reis tinham mil e os imperadores 5000. A história convencional far-nos-ia acreditar que estes haréns eram apenas uma das muitas recompensas que esperavam os homens que procuravam obter poder e tinham sucesso, a par dc todas as outras vantagens do despotismo: criados, palácios, jardins, música, seda, muitos alimentos c desportos de massas. Mas as mulheres ocupam um lugar relativamente elevado na lista. O ponto dc vista de Betzig é o de que uma coisa é descobrir que os imperadores poderosos eram polígamos, mas outra muito diferente é descobrir que cada um adoptava medidas semelhantes para aumentar o seu sucesso reprodutor dentro do harém: amas de leite, monitorização da fertilidade, clausura das concubinas, etc. Estas não eram medidas de homens interessados em excessos sexuais, eram medidas de homens interessados em produzirem muitos filhos.

No entanto, se o sucesso reprodutor era uma das vantagens do poder despótico, salienta-se uma característica peculiar. Todos os seis imperadores destas sociedades antigas eram casados monogamicamente. Por outras palavras, todos elegiam uma parceira acima de todas as outras como «rainha». Isto é característico das sociedades humanas polígamas. Onde existem haréns existe uma mulher mais importante, tratada de modo diferente das outras mulheres. Geralmente, é de origem nobre e, o que é crucial, apenas ela dá à luz herdeiros legítimos. Salomão tinha um milhar de concubinas e uma única rainha.

Betzig investigou a Roma imperial e descobriu que a distinção entre o casamento monogâmico e a infidelidade polígama se estendia do topo a base da sociedade romana. Os imperadores romanos eram famosos pelas suas proezas sexuais, mesmo casando com uma única imperatriz. As aventuras amorosas de Júlio César com mulheres eram «geralmente descritas como extravagantes» (Suetónio). Suetónio escreveu sobre Augusto: «A acusação de ser um perseguidor de mulheres pegou, e diz-se mesmo que, já idoso, ainda detinha uma paixão por desflorar raparigas — que eram escolhidas pela mulher». As «luxúrias criminais» de Tibério «eram dignas de um tirano Oriental» (Tácito). Calígula «fez avanços a quase todas as mulheres de estatuto de Roma» (Dio), incluindo as suas próprias irmãs. Até mesmo Cláudio era fornecido pela mulher, que lhe arranjava «diversas criadas para ele dormir com elas» (Dio). Quando Nero flutuou ao longo do rio Tibre, «mandou construir uma fiada de bordéis temporários ao longo das margens» (Suetónio). Tal como no caso da China, embora não tão metodicamente, a reprodução parece ser a principal função das concubinas.

Mas os imperadores não eram especiais. Quando um patrício rico chamado Gordian morreu ao liderar uma revolta a favor do pai contra o imperador Maximino em 237 d.C., Gibbon comemorou-o deste modo:

Vinte e duas concubinas reconhecidas e uma biblioteca com 62 000 volumes testemunhavam a variedade dos seus gostos e das produções que deixou e, ao que parece, quer uma, quer outra, foram concebidas para utilização, e não para ostentação

Os nobres romanos «vulgares» mantinham centenas de escravos. No entanto, virtualmente, nenhuma das escravas tinha funções ao redor da casa; as escravas eram muito caras se fossem vendidas quando jovens. Os escravos, geralmente, eram forçados a permanecer celibatários; então por que é que 0s nobres romanos compravam tantas escravas jovens? Para gerarem novos escravos, dirão os historiadores. Mas isso faria com que as escravas grávidas fossem vendidas por preços elevados, o que, porém, não acontecia. Se uma escrava não fosse virgem, o comprador podia processar legalmente o vendedor. E porquê insistir na castidade entre escravos e escravas se a reprodução é a função das escravas? Existem poucas dúvidas de que aqueles escritores romanos que igualavam as escravas a concubinas diziam a verdade. A disponibilidade sexual sem restrições das escravas «é tratada como um lugar-comum na literatura greco-romana desde Homero; apenas os escritores modernos conseguiram ignorar esse facto».

Além disso, os nobres romanos libertavam muitos dos seus escravos em idades surpreendentemente jovens e com concessões de riqueza suspeitosamente grandes. Esta não p0de ter sido uma decisão sensata em termos económicos. Os escravos libertados tornavam-se ricos e numerosos, Narciso era o homem mais rico da sua época. A maioria dos escravos libertados nascia na casa dos donos, enquanto os escravos das minas ou de quintas raramente eram libertados. Parecem existir poucas dúvidas de que os nobres romanos estavam a libertar os filhos ilegítimos, nascidos de escravas.

Quando Betzig desviou a sua atenção para a cristandade medieval, descobriu que o fenómeno do casamento monogâmico e do acasalamento poligâmico estava tão escondido que era necessário desenterrá-lo. A poligamia tornou-se mais secreta, mas não acabou. Nos tempos medievais, o recenseamento mostra que no campo existia uma razão entre os sexos muito enviesada a favor dos homens, uma vez que havia tantas mulheres «empregadas» nos castelos e nos mosteiros. Os seus empregos eram de criadas de servir de vári0s tipos,mas formavam uma espécie de «harém» solto, cujo tamanho dependia claramente da riqueza e poder do dono do castelo. Em alguns casos, os historiadores e os escritores eram mais ou menos explícitos ao admitirem que os castelos continham «gineceus», onde o dono do harém vivia em retiro luxuoso.

O conde Baudouin, patrono de um clérigo literário chamado Lambert, «foi enterrado na presença de vinte e três bastardos, bem como de dez filhos legítimos». «O seu quarto de dormir tinha acesso aos aposentos das criadas e aos quartos das raparigas adolescentes no piso superior. Também tinha acesso ao quarto aquecedor, ‘uma verdadeira incubadora para bebés de peit0’». Entretanto, muitos camponeses medievais tinham sorte se conseguissem casar antes da meia-idade e tinham poucas oportunidades para praticarem sexo.

(A Rainha de Copas – O Sexo e a Evolução da Natureza Humana, Matt Ridley. Gradiva, 2004)

Iamgem de destaque: Ismail ibne Xarife, foi mulei e sultão de Marrocos da dinastia alauita, reinando entre 1672 a 1727. Teve, segundo os registos, 500 esposas e um total de 888 filhos (548 rapazes e 340 raparigas).

Antero de Quental

18.04.23 | Manuel

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AOS MISERÁVEIS
Vós vedes esses lobos carniceiros,
Que em volta d0s redis andam bramindo?
Que onde se espalha o sangue são primeiros,
E últimos onde o Amor esta sorrindo?
Tremeis de medo ao vê-los? ou, rasteiros,
Da vista deles vos andais sumindo?
Ou, cheios de ódio, estais a invejá-los?
Pois, em verdade, que é melhor chorá-los!

Eles não vêem deste grande mundo
Mais que os tectos dourados de seus paços...
Vós tendes todo o céu largo e profundo
Por tecto, e por palácio esses espaços!
O que Deus dá a todos... o fecundo...
Que não se nega aos mais mirrados braços...
O brado que de um peito amado sai...
E o que do olhar das mães n’alma nos cai...

A herança é bela, miseráveis! vede...
Miseráveis! porquê? porque no estio
Só piedoso olhar vos mata a sede?
Porque, quando tremeis de fome e frio,
Deus só seio de amigo vos concede?
Só tendes a esperança, como rio,
Para banhar-vos no maior calor?
Eles têm tudo... sé lhes falta o Amor!

Não têm inteligência! a que vem d’alma!
Esse grande entender da Grande Cousa!
Cacho nascido na mais alta palma!
Coroa de quem crê e de quem ousa!
Sangue de irmãos a sede lhes acalma.
Dão banquetes no mármore da lousa...
E saber isto? é isto inteligência?
Não! que o Bem é o perfume dessa essência!

A cânfora… a balsâmica resina...
A essência que destila sobre os Povos,
Na fronte deles, como unção divina...
Quando o tronco deitou rebentos novos,
E palpitou a ave pequenina
Por um leve rumor dentro em seus ovos,
Então caiu também da imensidade,
Sobre a fronte dos povos, a Verdade!

É Ela, que ressalta, como lume,
Do choque das ideias e das cousas!
Não há grilhões que a prendam... que os consume!
Nem campa… que ela estala as frias lousas!
Machado de aço fino, com o gume
A árvore decepou onde te pousas
Tu, negro mocho da Hipocrisia,
E tu, águia fatal da Tirania!

Odes Modernas – Livro Segundo (Antero de Quental, Poesia Completa. Círculo de Leitores. 1991)

HINO À RAZÃO

Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

*

A UM POETA

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

*

EVOLUÇÃO

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

*

AMOR VIVO

Amar! mas d'um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delirios e desejos
D'uma douda cabeça escandecida...

Amor que vive e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser — e não só beijos
Dados no ar — delírios e desejos —
Mas amor... dos amores que têm vida...

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipa-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...

Nem murchará do sol á chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra débeis amores... se têm vida?

Antero de Quental, in 'Sonetos'

O AUTOR:

Antero Tarquínio de Quental 

(Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 – Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.

Biografia: 

Nascido na Ilha de São Miguel (Açores, filho do combatente liberal Fernando de Quental {Solar do Ramalho — do qual mandou tirar a pedra de armas da família —, 10 de maio de 1814 — Ponta Delgada, Matriz, 7 de março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (Setúbal, 16 de julho de 1811 — Lisboa, 28 de novembro de 1876). O casal teve sete filhos, sendo Antero o quarto, numa família onde proliferavam as mortes prematuras e a loucura.

Durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Deu início aos seus estudos na cidade natal, mudando-se para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.

Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais. (Wikipedia)

FERNANDO NAMORA

15.04.23 | Manuel

 

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O Intelectual que lutou pela Liberdade e contra a Censura

SOB «VIGILANCIA HOSTIL»

E de vigilância hostil a atmosfera que o escritor respira. Todavia, também se conhece a tenacidade do escritor em desobedecer-lhe, tomando-a um repto, e enfrentando os possíveis castigos. Terá sido, porém, benévola essa vigilância, coma alguns pretendem fazer crer, permitindo-se, em suma, que o escritor se se realize se nele a chama é mais forte que o regueiro que a pretende apagar, tão-somente podando-lhe uns excessos que a abra, coma arte, até dispensa? Torna-se, enfim, possível uma coexistência entre os condicionamentos e a literatura, quando aqueles não vão a0 ponto de a sufocar? Essa coexistência é sempre uma situação de opressor e oprimido. Não existem justificações válidas para critérios que imponham uma «norma» à criação artística: o critério, chamemos-lhe assim, pertence ao artista, responsável perante si próprio, os outros homens e o tempo. Eles o julgarão.

FERNANDO NAMORA, Encontros, Obras Completas de Fernando Namora, Lisboa, Círculo de Leitores, 1998. p. 36. (1.ª ed. Porto, Nova Crítica, 1979)

Por Paulo Marques da Silva

NAMORA, UM INDEPENDENTE NO MOVIMENTO LITERÁRIO NEORREALISTA

Fernando Gonçalves Namora (1919-1989) , natural de Condeixa (onde se encontra a sua Casa—Museu), a poucos quilómetros dc Coimbra, foi uma figura de primeira linha no movimento literário neorrealista português, além de se ter dedicado a pintura e ter sido um hábil caricaturista, com que f0i ganhando algum dinheiro ainda como estudante de Medicina, em que se formou, vindo na sua obra literária a narrar as suas experiências de clínico de aldeia, nomeadamente na célebre obra Retalhos da Vida de Um Médico. É apresentado como o autor do «Novo Cancioneiro» e são obras suas que configuram os primeiros lançamentos, quer da coleção referida, quer da coleção «Novos Prosadores». Tenta também atrair para o projeto outros escritores — como Soeiro Pereira Gomes —, além de se lançar em diversas iniciativas conotadas com o movimento.

Sabemos que Namorado foi sempre reconhecidamente um homem com um pendor independente e que resistirá à tentação da militância partidária, o passo mais óbvio, o caminho mais concreto para tantos, no imperativo de lutar contra os «fascismos», ainda mais, para quem gravitou no seio universitário de Coimbra, acompanhado por tantos amigos que acabaram por materializar tal intenção, e vários com um papel preponderante, o que, de resto, lhe valerá algumas incompreensões por parte de alguns deles.

(…)

UMA «RELAÇÃO» OBVIAMENTE TENSA COM A CENSURA

A Censura constituiu uma peça essencial na estrutura organizativa do Estado Novo, não só a nível do aparelho repressivo, mas também a nível da propaganda o do enquadramento politíco—ideológico da população. O regime procurou modelar as mentalidades o condicionar consciências e comportamentos, de acordo com os seus princípios e valores, tentando silenciar ou ocultar tudo o que não lhe interessava.

Daqui resultava quo as ideias, as reivindicações ou as lutas promovidas pelas hostes oposicionistas não chegavam aos seus destinatários, face à censura existente na imprensa e à ausência de liberdade para a exposição das suas razões o dos seus argumentos. A alternativa consistia, com frequência, no recurso à utilização dos panfletos o dos comunicados, elaborados clandestinamente, mas quase sempro com um alcance muito limitado.

Mário Soares afirmará mesmo que a Censura foi a arma mais temível do Salazar, «a sua arma absoluta», com consequências «muito mais devastadoras do quo as violências da própria polícia política». A sua ação incidia primordialmente sobre o meio jornalístico, mas também os escritores e outros artistas, por motivos óbvios, foram particularmente visados. A Censura não se limitava a cortar, proibir ou apreender os seus livros, mas procurava igualmente, como referiu José Cardoso Pires, manter o escritor e a sua obra num manto de silêncio publico ao «isolá-lo da comunidade, retirando-lhe a influência e o prestígio e, acima de tudo, tornando-o perigoso ou prejudicial para o editor».

Fernando Namora lutou contra a Censura ao longo de todo o período do Estado Novo, ficando para a história, à luz dos seus processos na PIDE, a sua participação nos principais protestos levados a cabo pelos intelectuais portugueses.

Apresentamos vários exemplos elucidativos daquilo que afirmamos, socorrendo-nos do mesmo arquivo da Polícia Política. Desde logo, em 1945, o jovem Namora, que deixara a Universidade em 1942, iniciando pouco depois a sua vida profissional, torna pública — como se referiu — a sua adesão ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), que clamava, entre varias outras exigências, pela liberdade de imprensa. Na sequência da criação deste Movimento, os intelectuais redigem um manifesto ao pais — conhecido por «Manifesto dos Intelectuais» —, criticando a falta de liberdade dos vinte anos anteriores, incluindo a ausência de liberdade de criação, enquanto requeriam a sua independência e o livre pensamento.

Em 1953, através de um comunicado à imprensa, datado de 4 de novembro (mas cuja publicação foi impedida), nascia a Comissão Pró-liberdade de Expressão, onde os intelectuais portugueses, entre os quais se contava Namora, reclamavam a extinção imediata da Censura em Portugal, circulando um abaixo-assinado para recolha de assinaturas, a fim de ser entregue na Presidência da Republica.

Já na parte final do ano de 1957, em vésperas de eleições, Fernando Namora e diversos outros intelectuais manifestavam o seu repudio pelo facto de os candidatos da União Nacional, não defenderem a abolição da Censura. Fazem-no através de um comunicado que não chega a ver a luz do dia em Portugal, por ter sido censurado.

Ano de 1967, Namora associa-se a muitos outros nomes da oposição, para enviar uma representação ao presidente da Assembleia Nacional, reclamando a aprovação de uma Lei de Imprensa e a extinção da Censura.

Em contexto de eleições para a Assembleia Nacional, no ano de 1969, Fernando Namora subscrevia um documento intitulado «Dos Escritores ao País», obviamente cortado pela Censura, onde se pretendia tornar publico, em dez pontos, o pedido de dissolução da máquina repressiva do regime e o restabelecimento completo das liberdades.

Por fim, em maio de 1971, um grupo de elementos ligados à vida intelectual portuguesa constituía-se na Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão e dirigia-se ao país para lançar um alerta, relativamente à questão das limitações à liberdade de expressão contidas na proposta governamental para uma nova Lei de Imprensa, que se preparava para ser discutida na Assembleia Nacional. O objetivo da Comissão era promover uma tomada de consciência pública quanto à gravidade da situação vivida em Portugal e prevenir o país para os graves prejuízos que resultavam da manutenção da falta de liberdade de expressão do pensamento.

Como é óbvio, estas tomadas de posição tornavam-se arriscadas para os seus promotores. Por exemplo, Papiniano Carlos, considerado o impulsionador do abaixo-assinado da Comissão Pró-Liberdade de Expressão, de 1953, ira receber a visita de uma brigada da PIDE, que apreenderá a representação que se destinava a ser entregue ao Presidente da República e o levará preso. Já o episódio de 1957 dará origem a uma investigação policial e a um relatório circunstanciado, por parte do agente Fernando Moutinho, que, entre diversas outras informações recolhidas, apontava os nomes de Urbano Tavares Rodrigues, Natália Correia e a sua irmã Carmen como os principais responsáveis daquela iniciativa, trazendo à liça também o nome de António Sérgio, que fazia parte da Comissão Promotora do Voto, e que, por esse motivo, não se queria expor para mostrar imparcialidade eleitoral, segundo apurou o agente. Para além destes desenvolvimentos, a PIDE não esqueceu, obviamente, de compilar todas estas informações nos processos individuais dos visados.

Lembramos, ainda, mais alguns episódios da luta de Namora pela liberdade de expressão, com referências apenas aos casos mais conhecidos.

(…)

Retirado do livro, que aconselhamos vivamente a ler: “Brandos Costume – O Estado Novo, a PIDE e os intelectuais”. Círculo de Leitores, 2022.

Sebastião da Gama

12.04.23 | Manuel

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Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.

Pequeno poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Meu País Desgraçado

Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!

Poema da minha esperança

Que bom ter o relógio adiantado!…
A gente assim, por saber
que tem sempre tempo a mais,
não se rala nem se apressa.
O meu sorriso de troça,
Amigos!,
quando vejo o meu relógio
com três quartos de hora a mais!
…Tic-tac… Tic-tac…
(Lá pensa ele
que é já o fim dos meus dias).
Tic-tac…
(Como eu rio, cá p’ra dentro,
de esta coisa divertida:
ele a julgar que é já o resto
e eu a saber que tenho sempre mais
três quartos de hora de vida).

Nota Biográfica

De seu nome completo Sebastião Artur Cardoso da Gama, este poeta e professor, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão a 10 de Abril de 1924. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa, tendo concluído a licenciatura em Filologia Românica, após a qual concorreu para o professorado do ensino técnico, vindo a exercer na Escola Industrial e Comercial de Extremoz.

Deixou várias obras poéticas que o distinguiram neste ramo, designadamente Serra Mãe, em 1945, Cabo da Boa Esperança, em 1949, Campo Aberto, em 1951; tendo juntamente com Miguel Celeiro, publicado em 1946, Loas a Nossa Senhora da Arrábida. Já depois da sua morte, ocorrida em Lisboa a 7 de Fevereiro de 1952, é editado o livro Pelo Sonho é Que Vamos, em 1953, tendo também sido publicada uma separata da Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, com Lugar de Bocage na Nossa Poesia de Amor, resultado de conferências realizadas pelo poeta, em 1958, Diário e Itinerário Paralelo, em 1967, complilação e prefácio de David Mourão Ferreira; em 1971, é publicada uma 2ª edição de Pelo Sonho é Que Vamos, com prefácio de Ruy Belo.

Fonte

Palestina: O massacre de Deir Yassin

10.04.23 | Manuel

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Por que é que ainda é importante 75 anos depois:

A brutalidade do Deir Yassin levou milhares de palestinos a fugir, poucas semanas antes do estado de Israel ser criado.

Há setenta e cinco anos, 9 de abril de 1948, as milícias sionistas invadiram as aldeias palestinas, massacrando os aldeões e expulsando os que permaneceram vivos, para abrir caminho para a criação do Estado de Israel.

Estima-se que 15.000 palestinos foram mortos e cerca de 750.000 fugiram de suas casas para viver como refugiados em outras partes da Palestina ou países vizinhos, um evento conhecido pelos palestinos como Nakba – “a catástrofe”.

Este ano, as Nações Unidas sediarão seu primeiro evento de alto nível para comemorar esse deslocamento forçado que resultou no estabelecimento do estado de Israel em 15 de maio de 1948.

Mas os palestinos nunca deixaram de comemorar a perda de cada aldeia que já fez parte de sua terra natal.

Entre eles estava Deir Yassin, um vilarejo situado em uma colina a oeste de Jerusalém, que se tornou emblemático do sofrimento que Israel infligiria aos palestinos.

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O que é o massacre de Deir Yassin?

Em 9 de abril de 1948, poucas semanas antes da criação do Estado de Israel, membros das milícias sionistas Irgun e Stern Gang atacaram a vila de Deir Yassin, matando pelo menos 107 palestinos.

Muitas das pessoas massacradas – desde aquelas que foram amarradas a árvores e morreram queimadas até aquelas alinhadas contra uma parede e baleadas por metralhadoras – eram mulheres, crianças e idosos.

À medida que as notícias das atrocidades se espalhavam, milhares fugiram de suas aldeias com medo. Eventualmente, cerca de 700.000 palestinos fugiriam ou seriam deslocados à força no início da criação de Israel, tornando o massacre um momento decisivo na história palestina.

O que aconteceu em Deir Yassin?

Era uma tarde de sexta-feira quando a milícia atacou Deir Yassin, onde viviam cerca de 700 palestinos. A maioria eram trabalhadores de pedreiras e cortadores de pedras.

De acordo com a narrativa israelense, a Operação Nachshon visava romper a estrada bloqueada para Jerusalém e os combatentes encontraram forte resistência dos moradores que os forçaram a avançar lentamente de casa em casa.

Mas os palestinos e alguns historiadores israelenses dizem que os aldeões assinaram um acordo de não agressão com o Haganah, o exército sionista pré-estado israelense. Eles foram, no entanto, assassinados a sangue frio e enterrados em valas comuns.

De acordo com um relatório de 1948 apresentado pela delegação britânica nas Nações Unidas, o assassinato de “cerca de 250 árabes, homens, mulheres e crianças, ocorreu em circunstâncias de grande selvageria”.

“Mulheres e crianças foram despidas, alinhadas, fotografadas e depois massacradas por disparos automáticos e os sobreviventes relataram bestialidades ainda mais incríveis”, disse o relatório. “Aqueles que foram feitos prisioneiros foram tratados com brutalidade degradante.”

O historiador israelense Benny Morris disse que as milícias “saquearam sem escrúpulos, roubaram dinheiro e joias dos sobreviventes e queimaram os corpos. Mesmo desmembramento e estupro ocorreram.”

O número de mortos é contestado, mas varia de 100 a 250. Um representante da Cruz Vermelha que entrou em Deir Yassin em 11 de abril relatou ter visto os corpos de cerca de 150 pessoas amontoados ao acaso em uma caverna, enquanto cerca de 50 estavam reunidos em um local separado.

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O proeminente intelectual judeu Martin Buber escreveu na época que tais eventos foram “infames”

“Em Deir Yassin, centenas de homens, mulheres e crianças inocentes foram massacrados”, disse ele. “Que a vila permaneça desabitada por enquanto e que sua desolação seja um terrível e trágico símbolo de guerra, e um aviso para nosso povo de que nenhuma necessidade militar prática pode justificar tais atos de assassinato.”

Por que isso importa até hoje?

Morris observou que “Deir Yassin teve um profundo efeito demográfico e político: foi seguido pela fuga em massa de árabes de suas localidades”.

A notícia do massacre espalhou pânico entre os palestinos, levando centenas de milhares a fugir.

Quatro aldeias próximas foram as seguintes: Qalunya, Saris, Beit Surik e Biddu.

Deir Yassin não foi um erro, de acordo com o historiador israelense Ilan Pappé.

“Despovoar a Palestina não foi um evento de guerra consequente, mas uma estratégia cuidadosamente planeada, também conhecida como Plano Dalet, que foi autorizada pelo [líder israelense David] Ben-Gurion em março de 1948”, escreveu Pappé. “A Operação Nachshon foi, de fato, o primeiro passo do plano.”

O massacre desencadeou um ciclo de violência e contraviolência que tem sido o padrão desde então. As forças judaicas consideram qualquer aldeia palestina como uma base militar inimiga, o que abriu caminho para a distinção nebulosa entre massacrar civis e matar combatentes, segundo o historiador.

O que isso diz sobre a visão de Israel hoje?

Deir Yassin tornou-se um poderoso símbolo da desapropriação palestina, bem como um facto histórico que Israel deve enfrentar ao recontar sua narrativa nacional.

Segundo Pappé, dado que o “terrorismo” é um modo de comportamento que os israelenses atribuem exclusivamente ao movimento de resistência palestino, “não poderia fazer parte de uma análise ou descrição de capítulos do passado de Israel”.

“Uma saída para esse enigma era credenciar um determinado grupo político, de preferência extremista, com os mesmos atributos do inimigo, exonerando assim o comportamento nacional dominante”, escreveu ele.

Historiadores israelenses e a sociedade israelense foram capazes de admitir o massacre em Deir Yassin atribuindo-o ao grupo de direita Irgun, mas encobriram ou negaram outros massacres – notadamente o de Tantura em 1948 – perpetrados pelo Haganah, a principal milícia judaica da qual evoluiu o atual exército israelense.

Apesar dessa transferência de culpa, organizações líderes de direitos humanos como a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional rotularam o próprio Israel como um estado de apartheid.

“Chegamos a essa determinação com base em nossa documentação de uma política governamental abrangente para manter a dominação dos judeus israelenses sobre os palestinos”, disse HRW em 2021.

“À medida que cresce o reconhecimento de que esses crimes estão sendo cometidos, o fracasso em reconhecer essa realidade exige que você enterre a cabeça cada vez mais fundo na areia”, acrescentou. “Hoje, o apartheid não é um cenário hipotético ou futuro.”

Mais:

Dia da Nakba: O que aconteceu na Palestina em 1948?

lista 2 de 3

Filme Nakba é transmitido na Netflix apesar das ameaças israelenses

lista 3 de 3

Israel foi construído em aldeias palestinas queimadas

fim da lista

Banco de dados de aldeias palestinas destruídas em PalestineRemix.com

Fonte

MANIFESTO ANTI-DANTAS

08.04.23 | Manuel

almada-negreiros.jpg

por José de Almada-Negreiros

POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO

BASTA PUM BASTA!
UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!
ABAIXO A GERAÇÃO!

MORRA O DANTAS, MORRA!mão.png PIM!
UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE!
UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA UNI SECO!
O DANTAS É UM CIGANO!
O DANTAS É MEIO CIGANO!
O DANTAS SABERÁ GRAMMÁTICA, SABERÁ SYNTAXE, SABERÁ MEDICINA, SABERÁ FAZER CEIAS P'RA CARDEAIS SABERÁ TUDO MENOS ESCREVER QUE É A ÚNICA COISA QUE ELLLE FAZ!
O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS!
O DANTAS É UM HABILIDOSO!
O DANTAS VESTE-SE MAL!
O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA!
O DANTAS ESPECÚLA E INÓCULA OS CONCUBINOS!
O DANTAS É DANTAS!
O DANTAS É JÚLIO!

MORRA O DANTAS, MORRA! mão.pngPIM!
O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA QUE TANTO O PODIA SER COMO A SORÔR IGNEZ OU A IGNEZ DE CASTRO, OU A LEONOR TELLES, OU O MESTRE D'AVIZ, OU A DONA CONSTANÇA, OU A NAU CATHRINETA, OU A MARIA RAPAZ!
E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!
O DANTAS É UM CIGANÃO!
NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM PANTOMINEIRO, BASTA SER-SE PANTOMINEIRO!
NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER SALTEADOR, BASTA ESCREVER COMO DANTAS! BASTA NÃO TER ESCRÚPULOS NEM MORAES, NEM ARTÍSTICOS, NEM HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER JUDAS! BASTA SER DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA! mão.pngPIM!
O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER!
O DANTAS É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO!
O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!
O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM!
O DANTAS NÚ É HORROROSO!
O DANTAS CHEIRA MAL DA BOCA!

MORRA O DANTAS, MORRA! mão.pngPIM!
O DANTAS É O ESCARNEO DA CONSCIÊNCIA!
SE O DANTAS É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL!
O DANTAS É A VERGONHA DA INTELLECTUALIDADE PORTUGUEZA! O DANTAS É A META DA DECADÊNCIA MENTAL!
E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS!
E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO!
E QUEM LHE LAVE A ROUPA!
E QUEM TENHA DÓ DO DANTAS!
E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O DANTAS NÃO VALE NADA, E QUE NÃO SABE NADA, E QUE NEM É INTELLIGENTE NEM DECENTE, NEM ZERO!
VOCÊS NÃO SABEM QUEM É A SOROR MARIANNA DO DANTAS? EU VOU-LHES CONTAR:
A PRINCÍPIO, POR CARTAZES, ENTREVISTAS E OUTRAS PREPARAÇÕES COM AS QUAES NADA TEMOS QUE VÊR, PENSEI TRATAR-SE DE SORÔR MARIANNA ALCOFORADO A PSEUDO AUCTORA D'AQUELLAS CARTAS FRANCEZAS QUE DOIS ILLUSTRES SENHORES D'ESTA TERRA NÃO DESCANÇARAM ENQUANTO NÃO ESTRAGARAM P'RA PORTUGUEZ, QUANDO SUBIU O PANNO TAMBÉM NÃO FUI CAPAZ DE DISTINGUIR PORQUE ERA NOITE MUITO ESCURA E SÓ DEPOIS DE MEIO ACTO É QUE DESCOBRI QUE ERA DE MADRUGADA PORQUE O BISPO DE BEJA DISSE QUE TINHA ESTADO À ESPERA DO NASCER DO SOL!
A MARIANNA VEM DESCENDO UMA ESCADA ESTREITÍSSIMA MAS NÃO VEM SÓ. TRAZ TAMBÉM O CHAMILLY QUE EU NÃO CHEGUEI A VER, OUVINDO APENAS UMA VOZ MUITO CONHECIDA AQUI NA BRAZILEIRA DO CHIADO. POUCO DEPOIS O BISPO DE BEJA É QUE ME DISSE QUE ELLE TRAZIA CALÇÕES VERMELHOS. A MARIANNA E O CHAMILLY ESTÃO SÒZINHOS EM SCENA, E ÀS ESCURAS DANDO A ENTENDER PERFEITAMENTE QUE FIZERAM INDECÊNCIAS NO QUARTO. DEPOIS O CHAMILLY, COMPLETAMENTE SATISFEITO DESPEDE-SE E SALTA P'LA JANELLA COM GRANDE MAGUA DA FREIRA LACRIMOSA. E ANDA HOJE OS TURISTES TEEM OCCASIÃO DE OBSERVAR AS GRADES ARROMBADAS DA JANELLA DO QUINTO ANDAR DO CONVENTO DA CONCEIÇÃO DE BEJA NA RUA DO TOURO, POR ONDE SE DIZ QUE FUGIU O CÉLEBRE CAPITÃO DE CAVALOS EM PARIS E DENTISTA EM LISBOA.
A MARIANNA QUE É HISTÉRICA COMEÇA DE CHORAR DESATINADAMENTE NOS BRAÇOS DA SUA CONFDENTE E EXCELLENTE PAU DE CABELEIRA SORÔR IGNEZ.
VEEM DESCENDO P'LA DITA ESTREITÍSSIMA ESCALA (sic), VARIAS MARIANNAS TODAS EGUAES E DE CANDEIAS ACESAS, MENOS UMA QUE USA ÓCULOS E BENGALLA E AINDA (sic) TODA CURVADA P'RÁ FRENTE O QUE QUER DIZER QUE É ABBADESSA.
E SERIA ATÉ UMA EXCELENTE PERSONIFICAÇÃO DAS BRUXAS DE GOYA SE QUANDO FALLASSE NÃO TIVESSE AQUELLA VOZ TÃO FRESCA E MAVIOSA DA TIA FELICIDADE DA VIZINHA DO LADO, E REPARANDO NOS DOIS VULTOS INTERROGA ESPAÇADAMENTE COM CADÊNCIA, AUSTERIDADE E IMMENSA FALTA DE CORDA...
QUEM ESTÁ AHI?... E DE CANDEIAS APAGADAS?
- FOI O VENTO, DIZEM AS POBRES INNOCENTES VARADAS DE TERROR... E A ABADESSA QUE SÓ É VELHA NOS ÓCULOS, NA BENGALA E EM ANDAR CURVADA P'RÁ FRENTE MANDA TOCAR A SINETA QUE É UM DÓ D'ALMA O OUVI-LA ASSIM TÃO DEBILITADA, VÃO TODAS P'RÓ CÔRO, MAS EIS QUE, DE REPENTE BATEM NO PORTÃO E SEM SE ANNUNCIAR NEM LIMPAR-SE DA POEIRA, SOBE A ESCADA E ENTRA P'LO SALÃO UM BISPO DE BEJA QUE QUANDO ERA NOVO FEZ BRÉGEIRICES CO'A MENINA DO CHOCOLATE.
AGORA COMPLETAMENTE EMENDADO REVELA À ABBADESSA QUE SABE POR CARTAS QUE HÁ HOMENS QUE VÃO ÀS MULHERES DO CONVENTO E QUE AINDA HÁ POUCO VIRA UM DE CAVALLOS A SALTAR P'LA JANELLA. A ABADESSA DIZ QUE EFFECTIVAMENTE JÁ HÁ TEMPOS QUE VINHA DANDO P'LA FALTA DE GALLINHAS E TÃO INNOCENTINHA, COITADA, QUE N'AQUELLES OITENTA ANNOS AINDA NÃO TEVE TEMPO P'RA DESCOBRIR A RAZÃO DA HUMANIDADE ESTAR DIVIDIDA EM HOMENS E MULHERES.
DEPOIS DE SÉRIOS EMBARAÇOS DO BISPO É QUE ELLA DEU COM O ATREVIMENTO E MANDOU CHAMAR AS DUAS FREIRAS DE HÁ POUCO CO'AS CANDEIAS APAGADAS. N'ESTA ALTURA ESTA PEÇA POLICIAL TOMA UM PEDAÇO D'INTERESSE PORQUE O BISPO ORA PARECE UM POLÍCIA DE INVESTIGAÇÃO DISFARÇADO EM BISPO, ORA UM BISPO COM A FALTA DE DELICADEZA DE UM POLÍCIA D'INVESTIGAÇÃO, E TÃO PERSPICAZ QUE DESCOBRE EM MENOS DE MEIO MINUTO O QUE O PÚBLICO JÁ ESTÁ FARTO DE SABER - QUE A MARIANNA DORMIU CO'O NOEL. O PEOR É QUE A MARIANNA FOI À SERRA CO'AS INDISCREÇÕES DO BISPO E DESATA A BERRAR, A BERRAR COMO QUEM SE ESTAVA MARIMBANDO P'RA TUDO AQUILLO. ESTEVE MESMO MUITO PERTO DE
SE ESTRElAR COM UM PAR DE MURROS NA CORÔA DO BISPO NO QUE (SE) MOSTROU DE UM ATREVIMENTO, DE UMA INSOLÊNCIA E DE UMA DECISÃO REFILONA QUE EXCEDEU TODAS AS EXPECTATIVAS.
OUVE-SE UMA CORNETA A TOCAR UMA MARCHA DE CLARINS E MARIANNA SENTINDO NAS PATAS DOS CAVALLOS TODA A ALMA DO SEU PREFERIDO FOI QUAL PARDALITO ENGAIOLADO A CORRER ATÉ ÀS GRADES DA JANELLA A GRITAR DESALMADAMENTE P'LO SEU NOEL. GRITA, ASSOBIA E REDOPIA E PIA E RASGA-SE E MAGÓA-SE E CAE DE COSTAS COM UM ACCIDENTE, DO QUE JÁ PREVIAMENTE TINHA AVISADO O PÚBLICO E O PANNO TAMBÉM CAE E O ESPECTADOR TAMBÉM CAE DA PACIÊNCIA ABAIXO E DESATA N'UMA DESTAS PATEADAS TÃO ENORMES E TÃO MONUMENTAES QUE TODOS OS JORNAES DE LISBOA NO DIA SEGUINTE FORAM UNÂNIMES N'AQUELLE ÊXITO TEATRAL DO DANTAS.
A ÚNICA CONSOLAÇÃO QUE OS ESPECTADORES DECENTES TIVERAM FOI A CERTEZA DE QUE AQUILLO NÃO ERA A SORÔR ALCOFORADO MAS SIM UMA MERDARIANNA ALDANTASCUFURADO QUE TINHA CHELIQUES E EXAGEROS SEXUAES.
CONTINUE O SENHOR DANTAS A ESCREVER ASSIM QUE HÁ-DE GANHAR MUITO CO'O ALCUFURADO E HÁ-DE VER, QUE AINDA APANHA UMA ESTÁTUA DE PRATA POR UM OURIVES DO PORTO, E UMA EXPOSIÇÃO DAS MAQUETES P'RÓ SEU MONUMENTO ERECTO POR SUBSCRIÇAO NACIONAL DO SÉCULO A FAVOR DOS FERIDOS DA GUERRA, E A PRAÇA DE CAMÕES MUDADA EM PRAÇA DO DR. JULIO DANTAS, E COM FESTAS DA CIDADE P'LOS ANNIVERSÁRIOS, E SABONETES EM CONTA «JULIO DANTAS» E PASTAS DANTAS P'RÓS DENTES, E GRAXA DANTAS P'RÁS BOTAS, E NIVEINA DANTAS, E COMPRIMIDOS DANTAS E AUTOCLISMOS
DANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS... E LIMONADAS DANTAS - MAGNESIA.
E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE UM DIA HOUVER JUSTIÇA EM PORTUGAL TODO O MUNDO SABERÁ QUE O AUTOR DOS LUZÍADAS É O DANTAS QUE N'UM RASGO MEMORÁVEL DE MODÉSTIA SÓ CONSENTIU A GLÓRIA DO SEU PSEUDÓNIMO CAMÕES.
E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.
MAS JUYGAES QUE N'ISTO SE RESUME A LITTERATURA PORTUGUEZA? NÃÓ! MIL VEZES NÃO!
TEMOS, ALÉM D'ISTO O CHIANCA QUE JÁ FEZ RIMAS P'RA ALUBARROTA QUE DEIXOU DE SER A DERROTA DOS CASTELHANOS P'RA SER A DERROTA DO CHIANCA.
E AS PINOQUICES DE VASCO MENDONÇA ALVES PASSADAS NO TEMPO DA AVÔSINHA! E AS INFELICIDADES DE RAMADA CURTO! E O TALENTO INSÓLITO DE URBANO RODRIGUES! E AS GAITADAS DO BRUN! E AS TRADUCÇÕES SÓ P'RA HOMEM (D) O ILLUSTRÍSSIMO EXCELENTÍSSIMO SENHOR MELLO BARRETO! E O FREI MATTA NUNES MÔXO! E A IGNEZ SYPHILITICA DO FAUSTINO! E AS IMBECILIDADES DO SOUSA COSTA! E MAIS PEDANTICES DO DANTAS! E ALBERTO SOUSA, O DANTAS DO DESENHO! E OS JORNALISTAS DO SECULO E DA CAPITAL E DO NOTICIAS E DO PAIZ E DO DIA E DA NAÇÃO E DA REPUBUCA E DA LUCTA E DE TODOS, TODOS OS JORNAES! E OS ACTORES DE TODOS OS THEATROS! E TODOS OS PINTORES DAS BELLAS ARTES E TODOS OS ARTISTAS DE PORTUGAL QUE EU NÃO GOSTO. E OS DA AGUIA DO PORTO E OS PALERMAS DE COIMBRA! E A ESTUPIDEZ DO OLDEMIRO CESAR E O DOUTOR JOSÉ DE FIGUEIREDO AMANTE DO MUSEU E AH OH OS SOUSA PINTO HU HI E OS BURROS DE CACILHAS E OS MENÚS DO ALFREDO GUISADO! E (O) RACHITICO ALBINO FORJAZ SAMPAIO, CRITICO DA LUCTA A QUEM O FIALHO COM IMMENSA PIADA INTRUJOU DE QUE TINHA TALENTO! E TODOS OS QUE SÃO POLITICOS E ARTISTAS! E AS EXPOSIÇÕES ANNUAES DAS BELLAS ARTE(S)! E TODAS AS MAQUETAS DO MARQUEZ DE POMBAL! E AS DE CAMÕES EM PARIS! E OS VAZ, OS ESTRELLA, OS LACERDA, OS LUCENA, OS ROSA, OS COSTA, OS ALMEIDA, OS CAMACHO, OS CUNHA, OS CARNEIRO, OS BARROS, OS SILVA, OS GOMES, OS VELHOS, OS IDIOTAS, OS ARRANJISTAS, OS IMPOTENTES, OS SCELERADOS, OS VENDIDOS, OS IMBECIS, OS PÁRIAS, OS ASCETAS, OS LOPES, OS PEIXOTOS, OS MOTTA, OS GODINHO, OS TEIXEIRA, OS DIABO QUE OS LEVE, OS CONSTANTINO, OS GRAVE, OS MANTUA, OS BAHIA, OS MENDONÇA, OS BRAZÃO, OS MATTOS, OS ALVES, OS ALBUQUERQUE, OS SOUSAS E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!!
E AS CONVICÇÕES URGENTES DO HOMEM CHRISTO PAE E AS CONVICÇÕES CATITAS DO HOMEM CHRISTO FILHO!
E OS CONCERTOS DO BLANCH! E AS ESTATUAS AO LEME, AO EÇA E AO DESPERTAR E A TUDO! E TUDO O QUE SEJA ARTE EM PORTUGAL! E TUDO! TUDO POR CAUSA DO DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA! mão.pngPIM!
PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES, CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DO PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO OMUNDO! O PAIZ MAIS SELVAGEM DE TODAS AS ÁFRICAS! O EXILIO DOS DEGRADADOS E DOS INDIFERENTES! A AFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS! O ENTULHO DAS DESVANTAGENS E DOS SOBEJOS! PORTUGAL INTEIRO HA-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA - SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE ASSEIADO!
MORRA O DANTAS, MORRA! mão.pngPIM!

Nota:

Este texto virulento do jovem Almada (que contava 23 anos) terá sido escrito entre Abril e Setembro de 1916, sendo, portanto, anterior à conferência de 1917, início oficial do movimento futurista em Portugal.

Saiu este folheto de 8 páginas impresso em papel de embrulho, ao preço de 100 reis, todo grafado em maiúsculas e utilizando aqui e além, para sublinhar a onomatopeia - PIM!-, uns ícones representando uma mão no gesto de apontar. Segundo se diz, terá esgotado nos primeiros dias, por obra do açambarcamento do próprio visado. Apesar disso, ou graças a isso, o escândalo rapidamente se propalou e a polémica causada teve uma grande intensidade. É que, no fundo, não é só a pessoa de Dantas que é atacada, mas toda uma geração de literatos, actores, escritores, jornalistas, etc, que ele personificava: "Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi". Através da ironia e do sarcasmo, utilizando uma linguagem iconoclasta e insultuosa, abusando de exclamações, repetições e enumerações, Almada zurze o academismo instalado e os valores tradicionais que pretendia abalar.

Em suma, trata-se de um ataque implacável ao edifício cultural e artístico vigente que impedia a entrada e frutificação das novas correntes estéticas em Portugal. É Almada a abrir caminho ao Futurismo e a si próprio.(Leia-se a propósito desta querela um curioso artigo de Fernando Dacosta, que nos atrevemos a transcrever, com a devida vénia).

Por António Valdemar (Jornalista e investigador)

Imagem de destaque: Auto-Retrato - José de Almada Negreiros

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