Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

O Universo do conhecimento de al-Farabi

29.01.24 | Manuel

al-Farabi.jpg

 

Abu Nasr Muhammad ibn Muhammad al Farabi, conhecido simplesmente como al-Farabi 1, foi um grande polímata muçulmano nascido no século IX, vivendo até a primeira metade do século X até falecer no ano 950. Pouco se sabe sobre a vida de al-Farabi, sua origem étnica é disputada entre persa ou turca, pendendo mais para persa nas pesquisas mais recentes de seus biógrafos. Entretanto, normalmente suas biografias concordam com a data de nascimento, que seria aproximadamente no ano 872 d.C.

Provavelmente al-Farabi tenha nascido em um local chamado Farab, dando origem assim ao seu nome “al-Farabi”, indicando que pertencia a tal lugar. Alguns historiadores medievais, como o turco Ibn Khallekan afirmam que Farabi nasceu na vila de Wasij (moderna Otrar no Cazaquistão), próximo de Farab e de pais turcos.

Mais tarde se mudaria para o Iraque, vivendo em Bagdad, capital do Califado Abássida na época e um grande centro intelectual, conhecido principalmente pela sua Casa da Sabedoria, uma instituição que reunia sábios do mundo todo, inclusos judeus, cristãos e muçulmanos estudando em conjunto.

Como nada foi escrito sobre sua vida enquanto al-Farabi estava vivo, as informações sobre ele são escassas, restando mais um estudo sobre suas obras do que sobre sua personalidade e história como indivíduo.

Passando quase que toda a vida em Bagdad, um dos poucos fragmentos sobre sua vida é um trecho autobiográfico preservado por Ibn Abi Usaibia 2, em que al-Farabi afirma ter começado seus estudos de lógica, medicina e sociologia com um professor chamado Yuhanna bin Haylan. É interessante observar que o professor de al-Farabi não era muçulmano, mas sim um clérigo cristão nestoriano.

Vindo a estudar também Aristóteles e seus Analíticos Posteriores, al-Farabi estudaria também a obra de Porfírio, Isagoge, e posteriormente voltaria para Aristóteles mais uma vez, dessa vez estudando as obras Categorias, Da Interpretação e os Analíticos Anteriores.

Obras e Estudos

Al-Farabi viria a estudar várias áreas distintas, não sendo por acaso que recebe o título de “polímata”, possuindo vastos conhecimentos nos ramos da lógica, matemática, música, filosofia, psicologia e dentre outras áreas.

Possuindo escritos que variavam desde alquimia até música, Farabi escreveu obras em cada uma dessas áreas ou no mínimo deixou sua magistral contribuição para a posterioridade sobre aquilo que decidiu dedicar seus estudos. Exemplo temos a sua “A necessidade da arte do elixir”, de alquimia, ou seu livro sobre música, o “Kitab al-Musiqa” (Livro de Música).

Indo mais além na área da música, al-Farabi escreveu outra obra sobre o tema. Enquanto na primeira (Kitab al-Musiqa) ele lidou com os princípios filosóficos que regem a música, juntamente com suas qualidades cósmicas e suas influências, seu segundo livro (Significados do Intelecto) ele trataria sobre a musicoterapia, abordando os efeitos terapêuticos que a música possuía na alma 3.

Filosofia

Exercendo grande influência na filosofia, al-Farabi chegaria a criar sua própria escola, sendo denominada posteriormente como “Farabismo”, vindo a pavimentar o caminho para outros grandes nomes da filosofia islâmica, como Avicena, principalmente através de sua obra que buscava realizar uma síntese entre a filosofia e o sufismo.

Para Netton (2008), al-Farabi iria desconectar-se com a tradição Platônica e Aristotélica, partindo da metafísica para a metodologia (método científico), movimento esse que anteciparia a modernidade. Unindo também a teoria com a prática na filosofia, na esfera política faria o oposto, libertando a prática da teoria.

Apesar de um certo distanciamento de al-Farabi com Platão, sua teologia ainda seria neoplatonista, sendo mais que a metafísica como retórica, vindo a descobrir “os limites do conhecimento humano” (NETTON, 2008).

A influência de al-Farabi na área da Filosofia (e também da ciência) duraria por séculos, mesmo quando superado pelo Avicenismo, sendo considerado em seu período como atrás somente de Aristóteles no conhecimento.

Al-Farabi, assim como outros grandes sábios muçulmanos do calibre de Avicena e Averróis após ele, escreveu comentários sobre as obras de Aristóteles, como em seu Al-Madina al-Fadila (A Cidade Virtuosa) onde teorizaria um Estado ideal, assim como Platão havia feito em sua famosa obra A República. Farabi argumentava que a religião tornava a verdade por meio de símbolos e persuasão, tendo como semelhança com Platão a ideia de que o filósofo deveria ser um guia para o Estado.

Assim como demais filósofos muçulmanos e de demais tradições religiosas, al-Farabi incorporaria a filosofia (no caso a visão platônica) ao contexto islâmico, mais especificamente no que diz respeito ao pensamento expressado em A República, adaptando o líder ideal ao contexto muçulmano. Dessa maneira, Farabi argumentaria que a cidade-estado ideal era Medina quando fora governada pelo Profeta Muhammad, uma vez que também estava em comunhão direta com Allah, pois as leis provinham diretamente de Deus, reveladas a Seu profeta.

Metafísica

Considerado como o pai do neoplatonismo islâmico, al-Farabi substituiria o relato corânico da criação ex nihilo (do nada) pela teoria neoplatônica da emanação do universo de um Ser Divino, chamado por al-Farabi de “o Primeiro”, em cuja existência e essência são totalmente um só.

Não somente, mas al-Farabi negaria o relato da predestinação islâmica, argumentando em seu comentário no De Interpretatione de Aristóteles que a onisciência não implica determinismo.

Epistemologia

Incluindo elementos tanto de Aristóteles quanto de Platão em seu pensamento, al-Farabi desenvolveria uma complexa teoria epistemológica. Dessa maneira, em sua obra Risala fil-aql classificaria o intelecto (aql) em seis categorias maiores: discernimento (ou prudência); senso comum (aquilo que reconhece o que é óbvio); a percepção natural (que permite ter certeza sobre verdades fundamentais); a consciência (que distingue o bem e o mal); o intelecto e a Razão Divina, fonte de toda energia e poder intelectual.

No que tange ao intelecto, Farabi dividiria também em quatro categorias, sendo elas: potência (aql bil quwwa), atual (aql bil-fil), adquirida (aql mustafad) e o Agente, também chamado de “intelecto ativo” (aql al-faal). As primeiras três categorias mencionadas seriam os diferentes estados do intelecto humano, enquanto que a quarta categoria seria o que foi chamado de o Décimo Intelecto na emanação cosmológica de al-Farabi.

O intelecto potencial seria a capacidade do indivíduo de pensar, algo que é característica de todos os seres humanos, algo “universal”, enquanto que o intelecto atual (presente) é quando o intelecto está comprometido com o pensamento. Com pensamento, al-Farabi queria dizer em abstrair universais inteligíveis de formas sensoriais dos objetos no qual foram apreendidos e retidos pela imaginação de cada indivíduo.

Lógica

Outra área do conhecimento em que al-Farabi teve uma atuação especial e uma grande influência foi a da Lógica, vindo a discutir assuntos como contingentes futuros, número e a relação das categorias, assim como a relação entre lógica e gramática. Indo mais além, influenciado por Aristóteles, mas sem se limitar ao sábio grego, estudaria sobre formas de inferência não-Aristotélicas, vindo posteriormente a separar a lógica em dois grupos distintos: o primeiro seria a “ideia”, enquanto o segundo seria a “prova”.

Al-Farabi via a lógica como o caminho para a felicidade. Quando discutiu sobre os contingentes futuros, se o valor de verdade das declarações sobre contingentes futuros for determinado imediatamente, ou seja, antes que o evento aconteça, então tudo é predeterminado e o livre arbítrio é uma ilusão. Apesar de Aristóteles já ter discutido isso em uma das primeiras obras do grande grego estudada por al-Farabi (De Interpretatione), o sábio muçulmano iria mais além na discussão, adicionando ao problema a questão do conhecimento prévio de Deus, defendendo o livre arbítrio contra alguns dos teólogos de sua época, afinal, como dito anteriormente: al-Farabi em sua metafísica negava que a onisciência de Deus implicasse em um determinismo.

Legado

Tendo sido um grande escritor, apesar de uma quantia significativa de suas obras terem sido perdidas, chegou até nós 117 volumes de seus escritos. Dentre essas obras sobreviventes, 43 são de lógica; 11 de metafísica; 7 de ética, outras 7 sobre ciência política; 11 comentários; 17 sobre música, medicina e sociologia.

A obra mais famosa de al-Farabi foi a sua al-Medina al-Fadila, brevemente discutida no presente artigo, um importante tratado de sociologia e ciência política que foi amplamente original em seu tempo, aproveitando muitos dos elementos do pensamento platônico.

Al-Farabi deixaria seu legado na ciência com seu livro Kitab al-Ihsa al Ulum, onde elaboraria os princípios fundamentais da ciência, sugerindo ainda um sistema de classificação.

Há ainda os já mencionados trabalhos na música, que juntamente com al-Kindi revolucionariam a maneira que essa fascinante arte era vista, ganhando um caráter de tratamento de doenças físicas e espirituais nos hospitais muçulmanos. Porém isso não é tudo, uma vez que Farabi também inventou seus próprios instrumentos musicais, dominando também outros, assim como seu “tom árabe puro” é usado até os nossos dias na música árabe.

Na física, al-Farabi seria responsável por demonstrar a existência do vácuo.

Na filosofia, metafísica, lógica e epistemologia, pavimentaria o caminho para Avicena. Desta feita, al-Farabi não pode ser considerado um aristotélico nem um platônico, mas sim um pensador original que se valeu dos recursos de seu tempo parar criar um pensamento único e que viria a influenciar outros grandes pensadores posteriormente.

Assim, al-Farabi levou seu nome das regiões incertas de onde surgiu até o espaço, onde se encontra marcado em um dos asteroides do grande cinturão que circunda o sistema solar, isso em homenagem a um dos maiores intelectuais que surgiu no seio da civilização do Islã medieval.

NOTAS

[1] Por vezes chamado também de Alfarabius, seu nome deu origem à palavra portuguesa “alfarrábio”, que significa “livro velho, de pouco valor ou utilidade”.

[2] Médico do século XIII que fez um compilado enciclopédico de biografias de grandes nomes da medicina, incluindo gregos, romanos, indianos etc.

[3] Vale lembrar que a musicoterapia, isto é, a música utilizada para tratar doenças físicas ou espirituais, foi amplamente utilizada nos hospitais islâmicos medievais, possuindo também influência de outros pensadores muçulmanos além de al-Farabi, como al-Kindi.

BIBLIOGRAFIA

MAHDI, Muhsin; LERNER, Ralph Lerner. Medieval Political Philosophy. Cornell University Press, 1972.

NETTON, I. R. Allah Transcendent: Studies in the Structure and Semiotics of Islamic Philosophy, Theology and Cosmology. London and New York: Routledge, 1989.

NETTON, Ian Richard. Breaking with Athens: Al-Farabi as Founder, Applications of Political Theory By Christopher A. Colmo. Journal of Islamic Studies. Oxford University Press. 2008.

FAKHRY, Majid. Al-Farabi, Founder of Islamic Neoplatonism: His Life, Works, and Influence. Oxford: Oneworld Publications, 2002.

Al-Farabi. (2016, February 20). New World Encyclopedia.

LAMEER, Joep. Al-Fārābī and Aristotelian syllogistics: Greek theory and Islamic practice. E.J. Brill, 1994.

Retirado de História Islâmica

Relacionado: Agora, mais do que nunca, precisamos de um verdadeiro filósofo da civilização

A obsessão do Fórum Económico Mundial (WEF) com IA e chips cerebrais

26.01.24 | Manuel

Brain_Illustration.jpg

“Nós” podemos criar um sistema de IA “onde nem precisamos de eleições democráticas” - Klaus Schwab

Por Peter Koenig

Lembre-se da entrevista de Klaus Schwab de 2016 com um moderador de TV suíço-francês, na qual Schwab disse algo como: “Imagine que até 2025 todos nós poderemos ter um chip implantado em algum lugar do nosso corpo ou cérebro, e poderemos ser capazes de nos comunicar uns com os outros”. sem telefone, mesmo sem usar a voz…”? Klaus Schwab chama isso de fusão entre o mundo físico, digital e biológico.

Ele também fala em ter “mordomos” personalizados em forma de robôs, que não são apenas escravos, mas sim assistentes, pois funcionam com Inteligência Artificial (IA), e vão aprender connosco….

A obsessão de Schwab com a Quarta Revolução Industrial – a digitalização total de tudo, parece não ter limites. Veja esta entrevista completa de 2016 (vídeo 28 min.), com os humanos chipados começando às 00:02:30.

https://youtu.be/IJcey1PPiIM

Tudo isto está a caminhar em direcção à globalização e a um Governo Mundial Único, para o qual é necessária uma população mundial drasticamente reduzida. Este continua a ser o objetivo número UM do FEM, de acordo com a Grande Reinicialização e a Agenda 2030 da ONU. O sonho de Klaus Schwab da Quarta Revolução Industrial, da IA ​​e da digitalização de tudo são apenas instrumentos para chegar lá mais rapidamente.

Outra ferramenta foi a covid e as “vacinas” de armas biológicas, e talvez o WEF Davos24 propagou o novo vírus “X” – ainda não existente, mas vagando em algum lugar por aí (Gates, Tedros OMS) e, ridiculamente, “vaxxes” já estão sendo desenvolvido – e um dos principais instrumentos para este genocídio globalista é a tremenda farsa climática.

A mentira climática tem estado em formação, pelo menos desde o devastador Relatório do Clube de Roma sobre “Limites ao Crescimento”, que ainda é o modelo para muito do que está a acontecer hoje, incluindo a redução da população. Sob as alterações climáticas, todos os sonhos eugenistas podem ser realizados. Se nós, o povo, deixá-los.

O Clube de Roma, uma invenção de Rockefeller, também está sediado na Suíça (Winterthur), assim como o WEF, a OMS, a GAVI (a aliança vacinal-farmacêutica) e – o Banco de Compensações Internacionais (BIS), também chamado de Banco Central de todos os Bancos Centrais. Todos com total imunidade diplomática e isentos de impostos. Uma coincidência?

A entrevista de Klaus Schwab à TV suíça foi em 10 de janeiro de 2016, pouco antes do FEM Davos16, o 46º FEM, realizado sob o tema “Dominando a Quarta Revolução Industrial”.

Oito anos depois, o 54º WEF Davos24, que terminou há 6 dias, ostentava o título “Reconstruindo a Confiança”. À partida, poderemos ficar tentados a acreditar que o FEM percebe que está a cair numa confusão cada vez mais profunda com as pessoas em todo o mundo, incluindo as grandes empresas e os anteriormente orgulhosos adeptos do FEM, e que, de facto, precisa de reconstruir a confiança.

Nada poderia estar mais longe da verdade. Os próprios tópicos discutidos nas plenárias do WEF “Mudanças Climáticas”, a chegada de uma nova doença ainda desconhecida “X” que “já está em algum lugar lá fora”, e a admiração de culto por uma IA cada vez mais aperfeiçoada – não ajudaram muito para “Reconstruir a Confiança”.

Especialmente quando se olha para algumas sessões isoladas, com um público limitado, onde a obsessão de Klaus Schwab por implantes de microchips, IA – e leitura de mentes, ganha destaque.

Esses são certamente alguns dos momentos mais terríveis do FEM Davos24. Por exemplo, quando conversa com Sergey Brin, cofundador do Google e ex-presidente da Alphabet, empresa-mãe do Google. Um patrimônio líquido de US$ 118 bilhões (2024) faz do Sr. Brin a nona pessoa mais rica do mundo ( Forbes).

Klaus Schwab pretende fantasiar:

“Imagine que daqui a dez anos estaremos sentados aqui e teremos um implante em nosso cérebro, e posso sentir imediatamente, porque todos nós estamos tendo implantes, posso medir suas ondas cerebrais e posso dizer imediatamente como as pessoas reagem ao seu respostas... isso é imaginável?”

Sergey Brin parece um tanto atordoado com a pergunta, visivelmente desconfortável, não sabe o que dizer, depois revira os olhos, depois fica meio envergonhado jogando os braços para o alto e dizendo hesitantemente… “Acho que isso é imaginável…” É um show para o circo.

E é uma reminiscência da entrevista de Klaus Schwab de 2016 para a TV suíça francesa.

O fundador e presidente do WEF leva então a sua obsessão um passo adiante, sugerindo:

“Podemos criar um sistema onde nem sequer precisamos de eleições democráticas, porque podemos prever como você vai pensar e sentir….”

Não importa que as eleições democráticas sejam uma coisa do passado distante. Nos últimos vinte anos, quase não houve eleições em todo o mundo que não fossem de alguma forma manipuladas pelos Mestres do Universo... mesmo na terra natal dos Mestres e dos autoproclamados imperadores.

Curiosamente, Schwab sempre se refere a Nós, já que em NÓS controlamos você, seus pensamentos, seus sentimentos, colocamos você em um modo “preditivo”.

O que o Sr. Schwab nunca diz, porém, está fortemente implícito, é que os “Nós” que controlam as ondas cerebrais eletronicamente equipadas influenciarão o seu pensamento da maneira que Nós queremos que seja.

Veja abaixo um videoclipe de 5 minutos para os momentos aterrorizantes completos do louco “planejamento preditivo”. Porque é um ritual de culto, Klaus Schwab – e outros da sua laia da idade das trevas, prever, contar e alertar as pessoas sobre o que estão a planear fazer connosco, Nós, o Povo, é uma OBRIGAÇÃO, para que elas sejam bem-sucedido.

https://youtu.be/yui8tEnSBak

Noutra sessão do WEF em Davos24, alguém perguntou: “O que podemos fazer para evitar que o Presidente errado seja eleito?” 

Não foram mencionados nomes, mas era óbvio que o comentador se referia a Donald Trump, um antiglobalista, que levaria os EUA a uma vitória esmagadora, se eleições JUSTAS fossem realizadas hoje.

Estamos atualmente no mundo ocidental, vivendo sob uma ditadura do Culto, e a maioria de nós ainda nem percebeu. Impregnadas por pensamentos de culto milenares, as ações obscuras só terão sucesso se forem contadas, de uma forma ou de outra, às pessoas que serão afetadas. 

Muitas vezes isso é feito disfarçado, ou como forma de fantasia, ou por meio de filmes (Hollywood faz parte da Cultura de Culto), para que as pessoas aceitem isso com calma e não se revoltem. Quando isso os atinge, é tarde demais.

A obsessão pelos chips implantados e pela IA que governam a nossa vida quotidiana, e pelos robôs que substituem os humanos nos mercados de trabalho, já existe há muito tempo. A doutrinação ou engenharia social, como uma das principais agências de manipulação da mente, como o Instituto Tavistock, com sede no Reino Unido, a chama, foi realizada com perfeição. É provável que Tavistock esteja a trabalhar em conjunto com Hollywood, tomando o pulso em eventos como o WEF-Davos, a Assembleia Geral da ONU e muitos outros eventos internacionais, bem como locais, aprendendo sobre as reacções e impulsos das pessoas.

É por isso que hoje é tão difícil ver a farsa, por exemplo, a farsa climática  e até reconhecer ter sido enganado. Admitir para si mesmo e para os outros que caiu na mentira ou na manipulação da mente é o obstáculo mais difícil de superar – e de acordar. Os engenheiros sociais sabem disso.

Estamos vivendo em dissonância cognitiva em um ambiente distópico, onde tudo vai e se torna “normal”. Estamos muito além do 1984 de George Orwell – onde a guerra é paz e o ódio é amor.

No WEF Davos24, alguém foi citado como tendo dito “Temos que bombardear o nosso caminho para a paz”. Desculpe, a referência não está mais disponível. Tornou-se vítima de “verificadores de factos” que eliminam “informações falsas”.

DEVEMOS estar atentos e alertas ao que está acontecendo ao nosso redor. Enquanto eles espalham o alarmismo em Bruxelas sobre a próxima implementação da identificação digital, que estaria ligada a tudo o que é pessoal, registos de saúde, registos vaxx, registos bancários e, em última análise, à moeda digital programável do Banco Central (CBDC), que controla tudo. Quando isso acontece, e deixamos acontecer por negligência – então, estamos cozidos.

A Identificação Digital, equivocada porque não é apenas uma identificação, em forma de disfarce, está sendo construída ao contrário. Na Suíça e em outros lugares da Europa, as pessoas estão sendo coagidas a usar códigos QR/e-banking em smartphones, que é o primeiro passo para controlar o dinheiro, o que você está comprando e onde você está comprando ou fazendo qualquer transação monetária, porque você está sendo rastreado através de o smartphone. O código QR coleta todos os dados.

A tirania bancária já está aqui. Se quiser continuar usando sua conta bancária, você deverá obedecer às regras do sistema financeiro. Nada a ver com leis – é a ordem baseada em regras.

O código QR pode conter uma quantidade quase ilimitada de dados pessoais, bem como dados relacionados a onde e para que você gasta seu dinheiro – eventualmente sabendo mais sobre você do que você mesmo.

Estejamos alertas, conscientes e prontos para construir um sistema monetário e bancário alternativo, gerido pelo Povo e para o Povo. Já não é esquerda nem direita (do regime). DEVEMOS lutar contra o globalismo (imperialismo).

FONTE

Genocídio dos Hereros e Namaquas: O primeiro genocídio do século XX

22.01.24 | Manuel

hereros2.jpgEm 12 de janeiro de 1904, o povo Herero do sudoeste africano (atual Namíbia) se levantou contra os colonizadores alemães. Havia vinte anos que os alemães ocupavam a região expandindo seu domínio estimulando a antiga rivalidade entre os povos nativos dos Herero e os Namaquas.

Liderados por Samuel Maharero, os hereros destruíam a ponte ferroviária perto de Osona e coraram a importante conexão telegráfica com a capital regional, Windhoek. As primeiras vítimas da guerra foram colonos alemães, a maioria proprietários de terras que tiveram suas fazendas destruídas. Os guerreiros se beneficiaram do fato de que a parte principal da força de proteção alemã e o governador Leutwein estavam no sul para reprimir uma revolta local. Como resultado, apenas forças alemãs fracas estavam na área de combate.

Os Hereros viviam basicamente da pecuária. Passo a passo, o orgulhoso povo de pastores perdeu seus campos para os colonizadores alemães. Às vezes na base de desvantajosas negociações e, frequentemente, por meio de falcatruas e violência.

A situação ficou insuportável levando Samuel Maharero, o chefe Herero, conclamar seu povo e outras tribos a resistirem à dominação alemã. Numa carta a Hendrik Witbooi, chefe do povo Namaqua ele escreveu: “Toda a nossa subserviência e paciência em relação aos alemães não nos trouxeram vantagens. Por isso, faço um apelo, meu irmão, para que participe de nossa revolta, de modo que toda a África levante suas armas contra os alemães”.

Os Namaquas, porém, ficaram na expectativa só entrando em combate meses depois.

 hereros1.jpg

Execução dos Hereros na forca, 1907.

O revide dos colonizadores alemães

O Império Alemão reagiu enviando tropas fortemente armadas para reprimir os rebeldes. O governador Leutwein foi substituído pelo general Lothar von Trotha que, em abril de 1904, trouxe 15 mil soldados para combater os Hereros. Ofereceu uma recompensa de 5 mil marcos para a captura de Samuel Maharero.

Em agosto de 1904, os Hereros foram cercados restando-lhes como alternativa a fuga para o deserto onde a maioria morreu de sede. Finalmente os Namaquas pegaram em armas e vieram em socorro dos Herero sendo tratados pelos alemães de forma semelhante.

Em outubro, sob anuência de Berlim, o general Trotha comunicou às suas tropas: “Todo Herero, dentro da fronteira alemã, deve ser baleado com ou sem rifle, com ou sem gado”. Era uma ordem de extermínio de toda população nativa.

Os massacres só foram suspensos dois meses depois quando o governo imperial foi convencido de que os Hereros eram mão de obra indispensável para as fazendas e minas do Sudoeste Africano Alemão e, por isso, deveriam ser poupados.

No total, morreram cerca de 65 mil Hereros (80% da população Herero total) e 10 mil Namaquas (50% da população total) entre 1904 e 1907. Outras estimativas dão um total de 100 mil mortos. Foi o primeiro genocídio do século XX.

Samuel Maharero conseguiu fugir levando cerca de 1000 hereros para o protetorado britânico de Bechuanalândia (hoje Botsuana). Ali ele faleceu em março de 1923.  Em agosto, seu corpo foi devolvido a Okahandja onde foi cerimoniosamente enterrado em 26 de agosto ao lado de seus ancestrais. A data é celebrada todos os anos como Dia Herero.

Em 12 de dezembro de 1904, o general Trotha retirou sua “ordem de extermínio” e os Hereros capturados foram levados para trabalhos forçados em campos de concentração. Muitos prisioneiros morreram de desnutrição e excesso de trabalho. A superlotação dos campos, a falta de água e a alimentação precária facilitaram a disseminação de doenças como escorbuto, febre tifóide e disenteria que mataram milhares de pessoas. Prisioneiros saudáveis ​​eram usados ​​para trabalhos forçados na construção de estradas, caminhos e ferrovias. O médico Hugo Bofinger fez experiências com os prisioneiros injetando-lhes várias substâncias como suco de limão, arsênico e ópio em busca de cura para o escorbuto, e depois examinava seus efeitos nas autópsias das vítimas.

O Império Alemão defendeu suas ações dizendo que os Hereros não podiam ser protegidos pela Convenção de Genebra – que definia os direitos humanos – porque não eram humanos “de verdade”, mas “subumanos”.

O domínio alemão ainda persistiu por mais uma década. Na mesma época, os diamantes foram descobertos no território contribuindo para aumentar a prosperidade dos colonizadores. No entanto, isso teve vida curta. Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, a colônia alemã foi tomada e ocupada pela União Sul-Africana (atual África do Sul). Terminada a guerra, a União Sul-Africana recebeu da Liga das Nações, em 1919, o mandato para administrar o território da antiga colônia alemã.

 

hereros3.jpg

Cabeça de herero proveniente da ilha de Shark usada para estudo.

Centenas de crânios de vítimas foram enviadas à Alemanha para estudos sobre diferenças raciais que tentavam identificar uma superioridade dos brancos. Vinte desses crânios foram devolvidos de um hospital em Berlim para a Namíbia em 2011. A luta pela libertação da Namíbia eclodiu em 1966, com o início das guerrilhas praticadas pela Organização dos Povos do Sudoeste da África (Swapo), de linha marxista. A Namíbia, no entanto, só se tornaria um país independente em 21 de março de 1990.

A ONU reconheceu o genocídio contra os Herero e Namaquas somente em 1985, enquanto a Alemanha só pediu desculpas em 2004.

Imagem de destaque: Sobreviventes Hereros do massacre do deserto de Omaheke, 1907.

Fonte:

NAHMEN, Carsten von. 1904: Revolta dos hereros contra os colonizadores alemães. Revista DW.

CHALK, Frank Robert; JONASSOHN, Kurt. The History and Sociology of genocide. Analyses and case studies. Instituto de Estudos de Genocídio de Montreal. New Haven: Imprensa da Universidade de Yale, 1990.

WHEWELL, Tim. O que aconteceu no ‘genocídio esquecido’ da Alemanha na Namíbia, reconhecido mais de um século. BBC News Brasil, 29 maio 2021.

Retirado de Ensinar História

Genocídio Cultural

19.01.24 | Manuel

genocidio cultural.jpg

 

Israel explode Universidade de Gaza: ‘Isto não é legítima defesa… Isto é limpeza étnica’

“Todas as universidades de Gaza foram danificadas ou destruídas”, disse um especialista em relações internacionais.

Por Julia Conley

A detonação de mais de 300 minas plantadas na Universidade Israa, em Gaza, pelas Forças de Defesa de Israel, na quarta-feira, forneceu a mais recente evidência de que o objetivo de Israel no bombardeamento do enclave não é a autodefesa, disseram defensores dos direitos humanos.

“Isto não é legítima defesa”, disse Chris Hazzard, um membro irlandês do Parlamento do Reino Unido. “Isto não é contra-insurgência. Isso é limpeza étnica.”

O Centro Internacional de Mídia do Oriente Médio (IMEMC) classificou a destruição da Universidade Israa como a última tentativa de Israel de levar a cabo um “genocídio cultural”, juntamente com o massacre de pelo menos 24.620 pessoas em pouco mais de três meses – pessoas que as autoridades israelenses alegaram serem militares legítimos, alvos, apesar de cerca de metade dos mortos serem crianças.

A destruição de marcos culturais foi incluída no caso do Tribunal Internacional de Justiça da África do Sul que acusou Israel de atos genocidas em Gaza na semana passada, com a denúncia observando que “Israel danificou e destruiu numerosos centros de aprendizagem e cultura palestina”, incluindo bibliotecas, uma dos mais antigos mosteiros cristãos do mundo, e a Grande Mesquita Omari, onde uma antiga coleção de manuscritos foi mantida antes do edifício ser destruído num ataque aéreo no mês passado.

Mais de 181 mil unidades habitacionais danificadas por Israel desde 7 de outubro

“O crime de atacar e destruir sítios arqueológicos deveria estimular o mundo e a UNESCO a agir para preservar esta grande herança civilizacional e cultural”, disse o Ministério do Turismo e Antiguidades de Gaza depois do bombardeamento da mesquita.

Agora, disse o professor de relações internacionais Nicola Perugini, da Universidade de Edimburgo, “todas as universidades de Gaza foram danificadas ou destruídas”.

Na sua página no Facebook, a universidade disse que as IDF ocuparam o campus durante cerca de 70 dias antes de plantar 315 minas e detonar o edifício principal da instituição, o seu museu, um hospital universitário e outros edifícios.

As FDI ocuparam a Universidade de Israa, disseram os administradores, “e usaram-na como base militar para os seus mecanismos e um centro para [o] sequestro de civis isolados nas áreas das ruas Rashid, Maghraqa e Zahraa, e deteve-os temporariamente para investigue com os cidadãos antes de movê-los.”

Mitchell Plitnick, presidente da Rethinking Foreign Policy, disse que o facto de 315 minas terem sido detonadas significava que “por definição… não era um alvo militar legítimo”.

“Israel teria que ter controle total para plantar tantas minas”, disse Plitnick. “Este é um exemplo claro de crime de guerra e destruição por diversão.”

Oito universidades em Gaza foram agora alvo de ataques desde que as FDI começaram o seu bombardeamento em 7 de Outubro, de acordo com o IMEMC.

A Universidade Birzeit, na Cisjordânia ocupada, condenou a destruição da escola e acusou Israel de roubar 3.000 artefatos raros do museu de Israa.

“A Universidade Birzeit reafirma o facto de que este crime faz parte do ataque da ocupação israelita contra os palestinianos”, disse a escola nas redes sociais. “Faz tudo parte do objectivo da ocupação israelita de tornar Gaza inabitável; uma continuação do genocídio levado a cabo na Faixa de Gaza.”

A fonte original deste artigo é Common Dreams

A máscara da sua escravidão

15.01.24 | Manuel

mascara-escravidao.jpg

Roberto Strongman

A imagem da Escrava Anastácia tem feito várias aparições em vários protestos anti-lockdown recentes em todo o mundo. A forma como a semelhança desta escrava brasileira amordaçada tem sido usada para ilustrar as várias formas de restrições populacionais pandêmicas, particularmente o uso obrigatório de máscaras faciais, tem sido criticada por vários meios de comunicação por sua percepção de apropriação cultural e irreverência para o mundo histórico. Sofrimento dos negros. Este artigo representa uma oportunidade de abordar essa reivindicação de cooptação e de explicar os méritos de iluminar as atuais limitações motivadas pela saúde como, de fato, uma forma de escravidão. 

Anastásia fala no silêncio após as orações, como se telepaticamente. Acho que consigo decifrar pelo som de certas palavras… O silêncio da Anastácia diz: “Fala por mim!”

A comparação entre o disfarce coercivo e covidoso dos manifestantes anti-lockdown e o amordaçar dos escravos insurretos é impossível de fazer? A comparação entre esses dois rebeldes amordaçados é um anacronismo irredimível? O amordaçamento trans-histórico de dissidentes por regras tirânicas. 

­­­_______

Oração popular à Escrava Anastácia

Anastácia, tu que sofrestes a maldade dos senhores de Engenho e foste uma das Mártires do Cativeiro; Sede benfeitora nos momentos de Aflição e de Angustia.
Em Que nossos Corações reclamar como Amarguras da Má Sorte e dos rudes golpes do nosso destino.
Tu que és venerada por uma legião de devotos pelos milagres
que realiza, ajuda-me instantaneamente de desespero e de aflição e de aperto, tirando-me desta situação desagradável por que passo.
Lembra-te da última existência terrena e saberás sentir e reconhecer minhas desventuras… Acendendo esta Vela para ti símbolo da minha FÉ e da minha Confiança permitir-me fazer um pedido; trata-se do seguinte: (Expõe o problema, de saúde, financeiro, má situação; desajuste amoroso etc….) Se me Atenderes, prometo lembrar de ti com todo o respeito, veneração e carinho. Assim Espero.
Assim Seja… ..
Anastácia, você que sofreu a maldade dos senhores da roça e foi uma das mártires do cativeiro, torna-se para nós uma benfeitora em tempos de aflição e angústia.
Em nossos corações que sofrem a amargura da má fortuna e os duros golpes de nosso destino,
Você que é adorado por uma legião de devotos por seus milagres.
Ajude-me neste momento de desespero, aflição e angústia, tirando-me desta situação desagradável que agora estou passando.
Lembra-te da tua última existência terrena e saberás ter empatia e reconhecer os meus infortúnios ... Acendendo esta Vela para ti, símbolo da minha FÉ e da minha confiança, permite-me fazer um pedido; é sobre o seguinte: (Expor o problema, saúde, situação financeira, má situação, desencontro amoroso, etc...) Se você cuidar de mim, prometo lembrar de você com todo respeito, veneração e carinho. Espero que sim.
Que assim seja…..

_______

Escrava Anastácia é uma santa popular venerada no Brasil, com grande número de devotos entre os Umbandistas. Ela também é venerada por muitos negros católicos brasileiros, tendo um importante santuário na proeminente igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Negros em Salvador da Bahia, embora nunca tenha sido reconhecida ou canonizada pela Igreja Católica Romana. 
Bem-aventurada Anastácia, como a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica me protegem de retaliações institucionais em decorrência do questionamento dos mandatos da máscara! Vós que prontamente socorrereis todos os que falam com coragem face à censura e ao silenciamento, cuida-me!

Sua hagiografia inclui múltiplas histórias que enfatizam a nobreza de sua personagem, apesar de seu amordaçamento discursivo e físico pelo poder opressor do sistema de escravidão. Em algumas histórias, ela é a filha mestiça de uma princesa africana e de um traficante de escravos que usa um focinho de metal para evitar que revele a infidelidade do comerciante e o estupro de sua mãe (Burdick, 1998). Em outras histórias, a própria Anastácia é vítima de estupro, ou pelo menos de tentativa de estupro, por um fazendeiro de escravos que também a pune e silencia com a engenhoca de metal. Em algumas versões da história, a dona da fazenda amordaça Anastásia para se salvar de qualquer vergonha pública que pudesse advir da divulgação da infidelidade do marido. Em outras variações desta história,as razões para seu amordaçamento envolvem a ajuda que ela forneceu a um escravo fugitivo e sua liderança na organização de uma revolta de escravos.

Em todas essas narrativas, o amordaçar busca silenciar seus gritos contra a injustiça e uma voz que leva à libertação. Como forma de vergonha pública, serve de dissuasão para aqueles escravos da roça que pudessem se inspirar em Anastásia. Seu martírio acontece por causa da fome ou do tétano produzido pelo metal que enferruja em sua boca. Sua habilidade de fazer milagres, mesmo quando amordaçada, incluía curar seus opressores. Isso representa um martírio idealizado, uma resistência admirável, bem como uma impermeabilidade moral e uma vitória final sobre a pressão negativa da escravidão. Sua compaixão para com seus perseguidores, bem como sua alegada origem mestiça, é vista por muitos devotos como um sinal esperançoso de reconciliação racial no Brasil e em todas as terras afetadas pelo comércio de escravos. 

A beata Anastácia, os meus colegas de trabalho, docentes e funcionários denunciaram-me ao presidente do departamento por me avistar nas zonas comuns do edifício sem usar máscara! Sim, sendo bom Pavlik Molozovs (Catriona 2005)! Eu não experimentei essa cultura delator desde a Cuba comunista! A preocupação deles com “a vida dos outros” (Henckel 2006) lembra demais as técnicas do Bloco Oriental de controle social para que eu continue a interagir com eles. Você que foi denunciado por um informante na plantação, tenha misericórdia de nós! 

A aparição de Anastásia em comícios anti-lockdown representa uma oportunidade de entender a atual tirania médica como uma forma de escravidão e de forjar laços de solidariedade entre comunidades cuja liberdade está ameaçada em todos os grupos raciais. A reivindicação de cooptação merece ser descompactada, pois uma reivindicação válida de usurpação cultural poderia facilmente funcionar no sentido de romper alianças importantes em um modelo de dividir para conquistar. Embora existam especificidades claras entre o sofrimento dos africanos sob o sistema de escravidão e a privação das liberdades civis sofrida pela maioria dos cidadãos ao redor do mundo durante a atual pandemia de pânico, Anastásia nos lembra de certas constantes trans-históricas no processo de desumanização e subjugação de populações através do amordaçar e amordaçar seus corpos para reprimir seus protestos.Que Anastásia fale pela liberdade hoje!

Bendita Anastácia, Sempre que falo da irracionalidade das máscaras poderem filtrar vírus, sou rapidamente desligada por pessoas que me dizem que não sou médica e, portanto, não tenho o direito de falar sobre o assunto! Você, que entendeu como o poder despótico e coercitivo atua para silenciar os dissidentes, fortaleça nossa decisão de falar a verdade com ousadia em meio às mentiras. 

Embora esteja fora do escopo deste artigo discutir em detalhes a eficácia das máscaras para prevenir a infecção por patógenos transportados pelo ar, eu quero enfatizar que os dados sugerem que seu uso para esse propósito é questionável. Gostaria de direcionar aqueles com grande interesse em "seguir a ciência" sobre máscaras para o estudo mais recente financiado pela OMS, publicado em uma revista médica revisada por pares, disponível no site do CDC, provando que "as máscaras não demonstraram proteção contra influenza de laboratório confirmada ”(Xiao et al. 2020). A ineficácia das máscaras faciais para conter infecções respiratórias superiores era a política oficial da OMS e do CDC antes do atual pânico na saúde (Molteni e Rogers 2020) e continua a ser confirmada por pesquisas em andamento (Guerra e Guerra 2021).

Bem-aventurada Anastácia, vejo-me impossibilitado de entrar no supermercado por me recusar a usar máscara. Você, cuja máscara o impedia de comer e acabou morrendo de fome, tenha misericórdia de nós!

Embora a eficácia médica do uso de máscara no atual clima cultural pandêmico seja duvidosa, os elementos sociais e psicológicos de controle exercidos pelo mascaramento obrigatório são muito mais claros. Quais são os efeitos das máscaras na psique daqueles que são forçados a viver sob a atual tirania médica? O fato de os ditames sobre as máscaras não virem em grande parte dos imunologistas, mas do que parecem ser psicólogos comportamentais comprometidos, como Susan Michie, que prediz que usaremos máscaras para sempre (Stone 2021), nos obriga a considerar que as máscaras são menos impulsionado por razões de saúde e mais pelo uso malévolo de Pavlovian e conhecimentos de estudos de conformidade para quebrar a psique, dignidade e integridade dos indivíduos e da coerência social das sociedades,tornando ambos mais suscetíveis à manipulação e reconfiguração de acordo com as normas que conduzem à sua própria subjugação. O uso obrigatório de máscaras faciais durante o atual pânico da saúde transforma os cidadãos em escravos. Como símbolos de escravidão,

As máscaras nos privam de oxigênio. Produzem hipóxia, levando-nos a um estado de fraqueza física e mental em que a população está mais sujeita a lavagens cerebrais ideológicas e menos capaz de averiguar o grau de opressão. 

As máscaras são símbolos de submissão. Sua praticidade médica é muito questionável, mas as pessoas são forçadas a usá-los. O despotismo é estabelecido no cumprimento forçado de regras arbitrárias. Calígula planejou tornar seu cavalo um cônsul só porque ele podia.

As máscaras são o fetiche sinistro do poder. Dado que as máscaras têm um papel proeminente na escravidão e no sadomasoquismo (BDSM), que é investido na dinâmica mestre-escravo, não podemos ver o poderoso elemento psicológico de subjugação que representam para aqueles que são forçados a usá-las? Podemos considerar o prazer pervertido que a visão desses usuários de máscaras traz para os planejadores dessas políticas?

Junto com o bloqueio, as máscaras reforçam a criação de uma cultura carcerária. A terminologia e a estética são emprestadas das prisões, especialmente aquelas em que a tortura tem lugar de destaque. Lembre-se do encapuzamento das vítimas de tortura na prisão de Abu Ghraib e das tampas de boca daqueles em Guantánamo. Se pudermos considerar a transmutação histórica da plantação de escravos na prisão, podemos perceber a desumanização persistente e insidiosa das populações cativas e escravizadas por meio do mascaramento - uma técnica de dominação adequadamente articulada no título e no texto de Black Skin, White Masks de Frantz Fanon.

O mascaramento obrigatório leva ao apagamento da personalidade e à homogeneização das massas. O uso coletivizado de máscaras resulta em uma uniformidade forçada na qual o indivíduo cede lugar à coletividade sem nome como o neo-metacidadão. 

As máscaras são teatrais. Eles têm sido usados há milênios para a investigação e reformulação da personalidade. A própria palavra “pessoa” tem uma fonte etimológica no nome das máscaras usadas pelos atores nas antigas produções teatrais gregas. Como adereços teatrais, as máscaras ocultam e ofuscam nossas identidades, tornando-nos estranhos aos outros e a nós mesmos.

Antropologicamente, as máscaras desempenham um papel na elaboração de identidades liminais. Como tal, eles não são por si mesmos, mas preparam o indivíduo para seus novos papéis na sociedade. As máscaras moldam as subjetividades dos indivíduos. Eles podem ser removidos quando seu programa for assimilado pelos indivíduos recém-reformulados. Por mais transitório que seja o atual regime de mascaramento facial, a população deve enfrentar que estamos sendo obrigados a passar por um rito de passagem, um processo de ressocialização para o novo normal. Quanto mais aceitamos que estamos participando da ritualização de nossa expropriação e escravidão pelo uso da máscara, menos seremos capazes de colocá-la. 

As máscaras são insígnias de estado. Eles são uma demonstração visível de fidelidade ao sistema de controle tecnocrático medicalizante. Assim como o lenço de pescoço vermelho do movimento jovem pioneiro comunista professou publicamente lealdade a um único partido e ao líder supremo, a máscara facial é o símbolo da adesão política ao novo normal, confirmando a conformidade com o "pensamento correto", à la Mao Zedung.  

A supressão da expressão facial inibe a comunicação não verbal necessária à organização social que pode levar à revolução. As máscaras procuram desativar nosso potencial revolucionário. 

Açaime verbal: as máscaras reduzem a produção verbal geral. Junto com a imposição do distanciamento (anti) social, seu uso fomenta o isolamento do indivíduo e a atomização (Arendt 1951) da sociedade em rebeldes ineficazes, incapazes de se consolidar em unidades coerentes sob um discurso ou bandeira comum. 

As associações que simbolicamente e funcionalmente mascaram carregam focinhos falam da desumanização e da domesticação da população sob essas diretrizes. 

Assim como as máscaras funcionam como artefatos liminares em ritos de passagem e como parte do treinamento dos animais, essas máscaras cobiçosas são arautos de novas invasões à nossa integridade. Usar as máscaras está a apenas um passo de receber as injeções e, em seguida, aceitar os passaportes da vacina e os links neurais implantáveis até que a pessoa original seja enterrada por um ciborgue. As máscaras funcionam como um teste de conformidade empírico para a aceitabilidade projetada de futuras tecnologias corporais de controle. Onde você vai traçar a linha? 

As máscaras promovem uma cultura de medo. Cada máscara é um outdoor anunciando um estado de emergência, colocando os indivíduos em um constante modo de luta ou fuga do sistema nervoso simpático, o que reduz seu campo de possibilidade de se concentrar na suposta ameaça de infecção sempre presente. Enquanto isso, o sistema oligárquico de dominação corrói nossas liberdades civis em todo o mundo. As máscaras fazem parte da política de subjugação por meio do alarmismo. 

As máscaras são dissuasores da solidariedade. Eles promovem a percepção constante de seu vizinho como um vetor patogênico sem nome em vez de seu aliado. As máscaras dividem e conquistam.

O silêncio de Anastácia diz: “Ocupe!” O que isso significa, eu pergunto. “Ocupe o espaço que foi atribuído a você.” Isso significa usar minha posição atual na academia como uma plataforma a partir da qual desafiar os delírios histéricos coletivos desse pânico político na saúde? Anastácia re-afirma enigmaticamente, mas com firmeza: “Apenas ocupe…”

Os principais relatos da mídia criticaram a implantação da efígie de Anastásia em comícios de confinamento, categorizando-os como instâncias de apropriação cultural (Villareal 2020, Da Costa 2020). Não é permitido fazer uso da imagem da escravidão para descrever as medidas de bloqueio sem ser tachado de racista, especialmente se forem brancos (Chesler 2021). Será que o poder castiga aqueles que perguntam se nossas atuais privações de liberdade são semelhantes à escravidão porque há um elemento de verdade na pergunta?

Esse argumento de apropriação cultural apresenta Anastásia como tendo sido sequestrada e descontextualizada por elementos sociais dominantes que não têm interesse em sua política de libertação racial. Esses relatos enfocam a brancura dos manifestantes segurando a imagem do escravo negro como evidência de algo incongruente que fala de cooptação e roubo. No entanto, nenhum desses relatórios se preocupa em elaborar a hagiografia de Anastásia em qualquer profundidade significativa ou em desempacotar as camadas simbólicas que sua obra de vida incorpora. Para artigos que afirmam se preocupar profundamente com os abusos de vidas afro-diaspóricas, essas omissões são nada menos que problemáticas. Em vez de usar essas instâncias para investigar a curiosa aparência de imagens do catolicismo popular brasileiro no mundo industrializado e para indagar sobre as várias formas que a escravidão pode assumir,os autores apresentam essencialmente os manifestantes como racistas, a fim de evitar que as correspondências óbvias entre as punições por escravidão e as sanções de lockdown se manifestem. Aqueles que vêem a analogia como hiperbólica, no mínimo, não deveriam admitir que as estratégias de silenciamento nesses dois sistemas de opressão são estranhamente semelhantes?

Para contornar a apresentação inconveniente da tirania médica atual como uma revisitação de sistemas de controle anteriormente condenados e evitar a reflexão nada lisonjeira de nós mesmos como escravos sob esse novo sistema, os artigos recorrem a uma curiosa estratégia retórica: eles usam um ad hominemataque que desacredita a fonte do argumento ao focar na etnia do manifestante e, ao mesmo tempo, nunca confrontar o cerne do argumento apresentado. O fato de o ataque ter levado a um pedido de desculpas da manifestante californiana me faz traçar uma conexão ainda mais poderosa entre Anastásia e ela como mulheres subjugadas, apesar de suas origens racialmente diferentes. Além de calar as pessoas, o mascaramento tem o efeito de induzir e realizar uma identidade de vergonha e punição por uma transgressão social, exibindo visivelmente a consequência de uma sentença de culpa como um impedimento para outros que ousem protestar contra seu silenciamento. A pressão experimentada pelo manifestante para se desculpar é análoga ao mandato de usar a máscara cobiçosa e o focinho de escravo. Todos têm o propósito de silenciar a dissidência.A retratação da denúncia é prova do crime. 

Anastásia diz: “Leve-me com você!” “Onde,” eu pergunto? “Para o protesto em Trafalgar Square? Você quer marchar pela Oxford Street com os manifestantes no sábado? ” “No seu coração”, ela diz. "Em seu coração…"

Na verdade, existe um “Culto Covidiano” (Hopkins 2020). Gostaria de complementar a conversa instanciada por sua frase provocativa, questionando a suposta negatividade associada a esse tipo de religiosidade. No estudo da religião, os “cultos” foram eufemisticamente rebatizados de “novas religiões” para serem mais relativistas e menos julgadores, curvando-se talvez às exigências do politicamente correto. Independentemente do termo que escolhemos usar, o papel do ritual, do dogma e das inquisições e pelourinhos daqueles que, questionando ortodoxias cobiçosas, cometem o pecado de blasfêmia, todos exibem um impulso que é concomitante com os aspectos mais brutais das religiões em todo o séculos. No entanto, percebendo o poder do discurso religioso,poderíamos aproveitá-lo para fins produtivos? Poderíamos usar nosso julgamento para nos tornarmos mais cientes de nossos próprios usos e habilidades para implantar a iconografia religiosa em direção ao ideal de liberdade? O culto a Anastásia pode superar o culto Covidian?

Ao fazer essas perguntas provocativas, não pretendo que recriemos literalmente o movimento pela liberdade como uma nova religião; em vez disso, exorto-nos a perceber o tremendo poder que a performance, o ritual e o espetáculo neo-religiosos possuem, a forma de espada de dois gumes, nossas próprias implantações incipientes de tais iconografias e sinalizam para nosso uso pleno da linguagem do espírito, cujo sinônimo também é liberdade. E para aqueles de nós dentro do movimento de liberdade com alguma forma de prática espiritual, especialmente aqueles com formação cristã, o retrato biográfico e visual da não canônica Anastásia pode ajudar a ilustrar o que muitos de nós sentimos: que há um elemento metafísico em tudo isso, dizer o contrário é estar "negando o demoníaco" (Curtin 2021), pois parece que "não lutamos contra carne e sangue, mas contra principados,contra os poderes, contra os dominadores das trevas deste mundo, contra a maldade espiritual nos lugares altos ”(Efésios 6:12).

Anastásia diz que quando eles te calam, o poder flui por suas mãos. O poder não está nas palavras; está na ação-inação. O que ela quer dizer com trabalhar com as mãos sem fazer? A verdade não pode ser impedida. Vai polir a rocha. Ele abrirá um grande desfiladeiro. Vai fluir. Quando silenciado, estenda suas mãos ...

Detratores dessa equivalência que estou fazendo entre os mecanismos da escravidão e as restrições ambiciosas às liberdades civis apontarão para as especificidades de cada sistema de dominação e se apoiarão na inexatidão inerente às analogias para argumentar. Antecipando tais argumentos, enfatizarei que a escravidão assume muitas formas diferentes em diferentes contextos espaciais e temporais. Se na era pré-industrial as algemas, bolas e correntes eram de ferro, numa era tecnológica marcada pela transmissão invisível de dados pelo espaço, os mecanismos de escravidão tornam-se mais evanescentes, finos como fios, diáfanos como tecidos. Por mais leves que as máscaras cirúrgicas possam ser, seu peso na psique iluminada pode ser sentido tão pesado quanto o pedaço de escrava de Anastásia.O pano pode ser tão corrosivo quanto o ferro enferrujado na pele do desperto, cuja consciência está ciente de sua intenção de reprimir e censurar. Certamente, a escravidão sofrida pelos afrodescendentes no início da modernidade não é exatamente o mesmo que o controle sobre o corpo das pessoas que a nova normalidade busca impor. Mas se deixamos de ver as continuidades e nos recusamos a ver além dos sintomas e da superfície, negamos a nós mesmos a capacidade de perceber as transmutações e adaptações que a escravidão adquire em cada época.Mas se deixamos de ver as continuidades e nos recusamos a ver além dos sintomas e da superfície, negamos a nós mesmos a capacidade de perceber as transmutações e adaptações que a escravidão adquire em cada época.Mas se deixamos de ver as continuidades e nos recusamos a ver além dos sintomas e da superfície, negamos a nós mesmos a capacidade de perceber as transmutações e adaptações que a escravidão adquire em cada época.

Aqueles que se recusam a ver os mandatos atuais das máscaras como uma tecnologia de escravidão são enganados pela camuflagem. A natureza camaleônica da escravidão é um de seus truques de sobrevivência duradouros. Tão variadas são as formas de escravidão que seu principal teórico se esforça para fornecer uma definição prática dela. Para Orlando Patterson, em seu Slavery as Social Death, o que torna a escravidão móvel singular é o conceito de “morte social” em que o escravo é negado a conexão com um lugar de origem e com as gerações ascendentes e descendentes. O escravo negro no início da América Moderna é um fracionário, quase / não / sub-humano, sem cidadania ou família. Parece-me evidente que as limitações das interações vocais e visuais das máscaras tornam os sujeitos socialmente mortos análogos.

O apagamento de metade de nossos rostos produz uma fracionamento de nossas subjetividades. É um atentado contra nosso senso de personalidade e o de nossos vizinhos, que cada vez mais devemos considerar como ameaças potenciais à nossa saúde. A imposição desse mascaramento sobre a população resulta em uma população uniformizada e homogeneizada, na qual as coletividades não são mais visualmente e legalmente uma coleção de indivíduos - pois o que mais são os indivíduos, senão eus que promulgaram escolha? - mas, em vez disso, massas indistintas, amordaçadas e multidões complacentes. Os amordaçados são escravos porque perderam parte de sua personalidade. É comum entre esses escravos recusar-se a ver suas máscaras como reduções de sua individualidade ou como algo semelhante à escravidão. É constrangedor ver a si mesmo quando você perde o prestígio.A escuridão da cabeça de avestruz assustada no buraco é preferível. Não há cegos como aqueles que não querem ver. 

A maioria das pessoas que viveu durante o período da Idade Moderna em ambos os lados do Atlântico racionalizou a escravidão como condição natural. O mais lamentável é que essa ideologia foi instilada entre os escravos, levando muitas pessoas de ascendência africana a aceitar sua escravidão nas plantações do Novo Mundo. É por isso que não me surpreende ver como a maioria das pessoas ao redor do mundo parece alheia à sua subjugação durante o atual regime de dominação. Shakespeare nos fornece uma dramatização de como essa lavagem cerebral ocorre. Em The Tempest (1611), Caliban é escravizado por Prospero através de seus encantamentos. Próspero usa amuletos mágicos para confundir e convencer Caliban de que sua posição legítima é a de um escravo. Quando Caliban exige uma explicação racional para sua escravidão, a culpa de Prospero leva Caliban a acreditar que ele tentou estuprar Miranda,Filha de Próspero. Um elemento semelhante dos usos discursivos do mau olhado escravizador pode ser estudado no “Discurso do senhor e do escravo” de Hegel (1807) em que miticamente, o escravo se constitui como tal à medida que perde a batalha com o pretenso mestre. Como o mestre poupa a vida do escravo no duelo, ele convence o escravo de que sua vida não é mais sua, que ele morreu para si mesmo e deve viver apenas para o mestre.

O papel que a culpa desempenha na supressão do anseio inato por liberdade ecoa nas inúmeras maneiras pelas quais o atual regime medicalizado de poder faz uma lavagem cerebral nas massas para que aceitem seus confinamentos e sequestros sem fim. Quantas vezes já ouvimos os novos normies condenar os excessos das reuniões de massa ilegais e os chamados eventos de super-propagação como a razão para as limitações de nossas liberdades civis? Sob essa retórica, a população merece bloqueios. Eles se abateram sobre si mesmos por terem sucumbido à tentação de entrar em contato com os perigos patológicos inerentes à natureza e seus semelhantes, seduzidos pelo clima ensolarado a se congregarem em praias e parques supostamente infestados de patógenos.O Caliban de Shakespeare e o escravo de Hegel são manipulados por meio do remorso por suas supostas inadequações morais (tentativa de estupro, fraqueza pugilística) para acreditar que são responsáveis ??por seu atual rebaixamento de status e, portanto, devem nobremente suportar as limitações que trouxeram sobre si mesmos.

A informante e traidora de Anastásia foi uma dessas escravas que, tendo internalizado a ideologia da escravidão, sinalizou sua virtude e fidelidade ao sistema ao denunciá-la por ter ajudado um fugitivo. Se por meio dessa analogia, os novos normies funcionam como escravos de lavagem cerebral, então aqueles de nós no movimento de liberdade podem encontrar inspiração na figura de Anastásia que apontou para o caminho para a liberdade, e a identificação final na figura do escravo fugitivo marrom. A internalização da culpa pelo próprio sofrimento é o elemento constitutivo mais importante da cegueira que impede muitos de nossos contemporâneos de compreender o cerceamento de nossas liberdades constitucionais como uma forma de escravidão.

A capacidade de desconstruir e rejeitar essa falsa atribuição de culpa é o fundamento de nossa liberdade. Nossas liberdades de expressão, reunião e religião não nos são concedidas: são inalienáveis. A transcendência dessa culpa cega, infundada e debilitante está no cerne do despertar das massas atualmente adormecidas. Compreendendo o atual medo da saúde como uma ilusão provocada pelos truques baratos de Próspero, a irracionalidade do conceito de confinamento derivado da prisão e o mascaramento psicossocio-somático que tenta silenciar aqueles que profetizam contra a tirania médica e todas as tiranias é o espírito de Anastásia hoje, viva em nosso meio. 

Parece apropriado que a língua espanhola usasse a mesma palavra para se referir a um escravo recém-chegado como a um focinho. A palavra “bozal” designa tanto um escravo recém-desembarcado, aquele que nasceu na África, quanto os escravos “crioulos” nascidos nas colônias do Novo Mundo. O fato de essa mesma palavra ser usada para se referir a um certo tipo de escravo e ao focinho usado por animais domésticos como cachorros sinaliza para o uso histórico desses dispositivos nesses escravos que tiveram um gostinho de liberdade, aqueles que tinham memórias de liberdade em uma terra ancestral. Esses escravos bozal eram os mais propensos a liderar rebeliões, como ilustram os mitos que cercam Anastásia. Para falantes de uma língua em que a palavra para uma espécie de escravo também indexa uma cobertura de boca,esta polissemia implica que em algum nível subconsciente há uma compreensão de que a máscara politicamente ordenada é um símbolo de sua escravidão. O riso deles quando confrontado com essa coincidência linguística implora para ser lido como uma evacuação da ansiedade psicológica e do reconhecimento desconfortável.

Independentemente das línguas que possamos falar, muitos de nós sabemos e suspeitamos que há algo performativo no uso da máscara, que estamos sendo coagidos a participar de um bal masqué em que elementos constitutivos de nossa identidade estão sendo remodelados de maneiras que trabalham contra nossos melhores interesses. Independentemente do idioma que você fale, a mensagem de Anastásia é inteligível para você como parte da resistência consciente. Você se lembra de ter corrido para as colinas que sinalizei para você há alguns séculos, quando morávamos no Brasil, não é? Por minha sugestão, você está começando a se lembrar daquela bela e próspera colônia de fugitivos, aquele Palenquenas terras altas tropicais frescas e férteis, você ajudou a estabelecer, de onde você invadiu os assentamentos portugueses e eventualmente garantiu a liberdade de incontáveis de nossos irmãos? Você lembra. No meu silêncio, lembre-se. Você é livre. Você é a liberdade!

https://www.blackstudies.ucsb.edu/people/roberto-strongman

Os 12 meses mais quentes?

12.01.24 | Manuel

leão euro.jpg

As alegações dos 12 meses mais quentes em 125.000 anos carecem de qualquer evidência científica

Por Chris Morrison

No ano passado, a humanidade viveu os 12 meses mais quentes em pelo menos 125 mil anos, informou uma CNN histérica, um sentimento adotado por grande parte da grande mídia. Os cientistas compararam os efeitos das mudanças climáticas em 2023 a um “filme-catástrofe”, acrescentou o canal a cabo americano. Claro, tudo isso é um disparate, com um motivo político líquido zero e pouca ou nenhuma evidência científica. Registros precisos de temperatura só existem desde o século 20, e medições recentes usando termômetros estacionários foram grandemente distorcidas pelo aumento do calor nas cidades. Usando medições substitutas, é possível ter uma boa ideia das flutuações gerais de temperatura nos últimos 125 mil anos. Tudo indica que as temperaturas eram significativamente mais elevadas, principalmente entre 10 mil e 5 mil anos atrás. O último artigo científico que analisa esta tendência acaba de ser publicado e sugere que as temperaturas de Verão no Mediterrâneo oriental eram pelo menos 1,5°C mais elevadas há cerca de 5.000 anos, numa altura em que a civilização se desenvolvia rapidamente.

Este não é o único artigo recente que sugere que houve temperaturas significativamente mais altas no passado recente. O blog científico No Tricks Zone relata que há 9.000 a 5.000 anos, as regiões do Ártico com pelo menos seis meses de cobertura de gelo marinho estavam livres de gelo durante a maior parte do ano e 2°C mais quentes do que hoje. Descobriu-se também que as temperaturas eram 7-8°C mais altas entre 130.000 e 115.000 anos atrás. Durante o início do Holoceno, há 10 mil anos, era tão quente que as florestas boreais se espalharam para o norte, em regiões árticas que agora são frias demais para suportar qualquer coisa que não seja a tundra. Os ursos polares sobreviveram não apenas sem gelo marinho durante o Holoceno mais quente, mas também durante os períodos muito mais quentes, há mais de 100 mil anos. Estes dois documentos mostram que tem sido muito mais quente ao longo dos últimos 125.000 anos, e outros exemplos abordados no Daily Skeptic podem ser encontrados aqui.

Dada esta riqueza de provas científicas, é simplesmente errado, e mesmo grosseiramente enganador, afirmar que as temperaturas atingiram um pico de 125 mil anos. Mas é claro que a credibilidade científica não tem nada a ver com a campanha incansável de catastrofização climática que impulsiona a agenda coletivista de emissões líquidas zero. Nada pode perturbar a narrativa da “ebulição global”. Por exemplo, poucos meios de comunicação tradicionais divulgarão números recém-divulgados pelo Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA, mostrando que Dezembro de 2023 registou o terceiro maior aumento do gelo marinho do Árctico nos seus 45 anos de história.

Ontem saiu um artigo interessante na revista Conservative Women do eminente médico Professor Angus Dalgleish. Como cético em relação à Covid, ele observou que recentemente se preocupou com as mudanças climáticas. Duas palavras me vieram à mente: “frágil e sofisma”. Na sua opinião, “a corrida global para Net Zero baseia-se inteiramente (sim, você adivinhou) em modelos informáticos inúteis e em simulações que foram fortemente manipuladas para dar a resposta desejada. Os dados anteriores foram homogeneizados para fazer parecer que as alterações climáticas recentes têm algo a ver com a produção de CO2 causada pelo homem, embora os dados brutos disponíveis não mostrem qualquer ligação e ignorem completamente o facto de que o aumento dos valores de CO2 geralmente segue as mudanças de temperatura. e não os cause.

Muitas das reportagens sobre o clima nos principais meios de comunicação hoje em dia são movidas pela emoção. O quadro sanduíche do Juízo Final é padrão na maioria das redações. “Estas são temperaturas que não deveríamos experimentar”, afirma Andrew Pershing, da Climate Central, citado pela CNN. A “grande maioria” da humanidade será afectada por um calor invulgarmente elevado em 2023, com 7,3 mil milhões de pessoas a experienciar “pelo menos 10 dias de altas temperaturas com impressões climáticas muito fortes”. Observe como números sem sentido e improváveis ​​são escolhidos a dedo e uma ligação não científica é imediatamente feita com as alterações climáticas a longo prazo. A Climate Central é especializada na publicação de reportagens na mídia sobre desastres climáticos e é financiada por um pequeno grupo de fundações bilionárias verdes.

A falta de uma perspectiva histórica também é comum. O artigo da CNN cita a professora de geografia Hannah Cloke dizendo que “já estamos” enfrentando tempestades mais severas, chuvas mais intensas e inundações, bem como ondas de calor, secas e incêndios florestais mais intensos, mais frequentes e mais longos. Infelizmente, existem poucos dados científicos que apoiem isto, pois, na realidade, existem poucas provas de que os fenómenos meteorológicos extremos e os seus impactos estejam a piorar.

Mas quando o clima foi perfeito, pergunta o autor científico Roger Pielke Jnr. em uma postagem recente no blog. Os activistas climáticos afirmam que qualquer aquecimento adicional em comparação com a linha de base pré-industrial de 1850-1900 significa mais danos para as pessoas e para o planeta. Pielke observa que esta base serve como uma “utopia climática”, uma vez que quase ninguém tem ideia de como era o clima naquela altura, muito menos quais os impactos climáticos que realmente ocorreram. Mas os investigadores conseguem reunir alguns acontecimentos dramáticos, particularmente num ano de forte El Niño como o que estamos a viver actualmente, e muito forte em 1877-88. Este período assistiu a terríveis secas e fomes, somando-se a outros grandes desastres da época. Os grandes incêndios no meio-oeste americano de 1871 mataram até 2.400 pessoas. Outros eventos incluíram a enchente do Mar Báltico em 1872, um enxame de gafanhotos no Meio-Oeste em 1875 com cerca de 12,5 trilhões de insetos, o tufão de 1878 na China que matou até 100 mil pessoas e os seis grandes furacões da década de 1870 atingiram a costa, em comparação com três em década de 2010.

grafico.png

Pielke fornece o gráfico acima, que mostra o declínio dramático nas mortes estimadas por eventos climáticos extremos desde a década de 1870. Aconselha-se cautela, pois as estimativas são incertas, embora ele observe que os números de 1870 e 1920 são certamente subestimados. Mesmo que estes não sejam números exatos, eles ainda fornecem uma orientação em termos de magnitude.

Só podemos imaginar a especulação meteorológica histérica e febril dos imaginativos jornalistas climáticos modernos se eles exercessem o seu ofício na era vitoriana. Uma coisa pode ser certa: o pecado do homem seria sempre responsabilizado por desequilibrar a Mãe Natureza.

Imagem: Leão europeu esculpido em mármore, 400 AC

Fonte

Tortura em Abu Ghraib

08.01.24 | Manuel

abu graib.jpg

Por Seymour Hersh

Estou de férias esta semana, mas pensei que seria útil republicar uma história dolorosa que escrevi há duas décadas para o New Yorker sobre um grupo de soldados do exército dos EUA que ficou fora de controle em meio de uma guerra no Iraque que, segundo lhes disseram, estava sendo travada contra o terrorismo que atingiu a América em 11 de setembro. O que os soldados fizeram então foi o que qualquer exército faz na guerra quando odiar e temer o inimigo é encorajado e percorre as fileiras, desde os soldados de nível mais baixo até aos generais seniores. É preciso um líder especial, como você lerá a seguir, que confunde seus superiores ao não encobrir os crimes de seus soldados e de seus oficiais mais graduados, e o faz sabendo que sua carreira acabou. Será que hoje existiam líderes tão destemidos no Médio Oriente?

­­­____

Na era de Saddam Hussein, Abu Ghraib, trinta quilómetros a oeste de Bagdad, era uma das prisões mais notórias do mundo, com tortura, execuções semanais e condições de vida vis. Cerca de cinquenta mil homens e mulheres — não é possível contar com precisão — foram amontoados em Abu Ghraib de uma só vez, em celas de quatro por três metros e meio que eram pouco mais do que fossos de contenção humanos.

Nos saques que se seguiram ao colapso do regime, em Abril passado, o enorme complexo prisional, então deserto, foi despojado de tudo o que pudesse ser removido, incluindo portas, janelas e tijolos. As autoridades da coligação mandaram revestir o chão, limpar e reparar as celas, e adicionaram casas de banho, chuveiros e um novo centro médico. Abu Ghraib era agora uma prisão militar dos EUA. A maioria dos prisioneiros, porém – no outono eram vários milhares, incluindo mulheres e adolescentes – eram civis, muitos dos quais tinham sido detidos em operações militares aleatórias e em postos de controlo rodoviários. Eles se enquadravam em três categorias vagamente definidas: criminosos comuns; presos de segurança suspeitos de “crimes contra a coligação”; e um pequeno número de líderes suspeitos de “alto valor” da insurreição contra as forças da coligação.

Em Junho passado, Janis Karpinski, general de brigada da reserva do Exército, foi nomeado comandante da 800ª Brigada da Polícia Militar e encarregado das prisões militares no Iraque. A General Karpinski, a única mulher comandante na zona de guerra, era uma oficial experiente em operações e inteligência que serviu nas Forças Especiais e na Guerra do Golfo de 1991, mas nunca dirigiu um sistema prisional. Agora ela estava encarregada de três grandes prisões, oito batalhões e 3.400 reservistas do Exército, a maioria dos quais, como ela, não tinha treinamento para lidar com prisioneiros.

A General Karpinski, que queria ser soldado desde os cinco anos, é consultora de negócios na vida civil e estava entusiasmada com o seu novo trabalho. Numa entrevista em Dezembro passado ao St. Petersburg  Times, ela disse que, para muitos dos presos iraquianos em Abu Ghraib, “as condições de vida agora são melhores na prisão do que em casa. A certa altura, estávamos preocupados que eles não quisessem ir embora.”

Um mês depois, o General Karpinski foi formalmente advertido e discretamente suspenso, e estava em curso uma grande investigação sobre o sistema prisional do Exército, autorizada pelo Tenente-General Ricardo S. Sanchez, comandante superior no Iraque. Um relatório de cinquenta e três páginas, obtido pela  The New Yorker , escrito pelo major-general Antonio M. Taguba e não destinado à divulgação pública, foi concluído no final de fevereiro. As suas conclusões sobre as falhas institucionais do sistema prisional do Exército foram devastadoras. Especificamente, Taguba descobriu que entre Outubro e Dezembro de 2003 houve numerosos casos de “abusos criminosos sádicos, flagrantes e arbitrários” em Abu Ghraib. Este abuso sistemático e ilegal de detidos, relatou Taguba, foi perpetrado por soldados da 372ª Companhia da Polícia Militar e também por membros da comunidade de inteligência americana. (O 372º foi anexado ao 320º Batalhão de MP, que se reportava ao quartel-general da brigada de Karpinski.) O relatório de Taguba listou algumas das irregularidades:

Quebrar luzes químicas e derramar o líquido fosfórico nas partículas; derramar água fria em detalhes nus; espancar detidos com cabo de vassoura e cadeira; ameaçar detidos do sexo masculino com estupro; permitir que um policial militar suturasse o ferimento de um detido que ficou ferido após ser jogado contra a parede de sua cela; sodomizar um detido com uma luz química e talvez um cabo de vassoura, e usar cães militares de trabalho para assustar e intimidar os detidos com ameaças de ataque e, num caso, morder realmente um detido.

Havia provas impressionantes para apoiar as alegações, acrescentou Taguba – “depoimentos detalhados de testemunhas e a descoberta de provas fotográficas extremamente gráficas”. Fotografias e vídeos feitos pelos soldados enquanto os abusos aconteciam não foram incluídos no seu relatório, disse Taguba, devido à sua “natureza extremamente sensível”.

As fotografias – muitas das quais foram transmitidas no programa “60 Minutes 2” da CBS na semana passada – mostram soldados maliciosos a insultar prisioneiros iraquianos nus que são forçados a assumir poses humilhantes. Seis suspeitos - o sargento Ivan L. Frederick II, conhecido como Chip, que era o alistado mais velho; Especialista Charles A. Graner; Sargento Javal Davis; Especialista Megan Ambuhl; Especialista Sabrina Harman; e o soldado Jeremy Sivits – enfrentam agora processos judiciais no Iraque, sob acusações que incluem conspiração, abandono do dever, crueldade para com prisioneiros, maus-tratos, agressão e actos indecentes. Um sétimo suspeito, o soldado Lynndie England, foi transferido para Fort Bragg, na Carolina do Norte, após engravidar.

As fotos contam tudo. Em uma delas, a soldado England, com um cigarro pendurado na boca, faz um alegre sinal de positivo e aponta para os órgãos genitais de um jovem iraquiano, que está nu, exceto por um saco de areia na cabeça, enquanto ele se masturba. Três outros prisioneiros iraquianos encapuzados e nus são mostrados, com as mãos cruzadas reflexivamente sobre os órgãos genitais. Um quinto prisioneiro está com as mãos ao lado do corpo. Em outro, a Inglaterra está de braços dados com o Especialista Graner; ambos estão sorrindo e fazendo sinal de positivo atrás de um grupo de talvez sete iraquianos nus, com os joelhos dobrados, empilhados desajeitadamente uns sobre os outros em uma pirâmide. Há outra fotografia de um grupo de prisioneiros nus, novamente empilhados numa pirâmide. Perto deles está Graner, sorrindo, com os braços cruzados; uma soldado está na frente dele, curvada, e ela também está sorrindo. Depois, há outro aglomerado de corpos encapuzados, com uma soldado parada na frente, tirando fotos. Ainda outra fotografia mostra um prisioneiro ajoelhado, nu e sem capuz, com a cabeça momentaneamente afastada da câmara, posando para fazer parecer que está a praticar sexo oral noutro prisioneiro, que está nu e encapuzado.

Esta desumanização é inaceitável em qualquer cultura, mas é especialmente inaceitável no mundo árabe. Os atos homossexuais são contra a lei islâmica e é humilhante para os homens ficarem nus na frente de outros homens, explicou Bernard Haykel, professor de estudos do Médio Oriente na Universidade de Nova Iorque. “Ser colocados um em cima do outro e forçados a se masturbar, ficar nus um na frente do outro – é tudo uma forma de tortura”, disse Haykel.

Dois rostos iraquianos que aparecem nas fotografias são de homens mortos. Há o rosto machucado do prisioneiro nº. 153399, e o corpo ensanguentado de outro prisioneiro, embrulhado em celofane e embalado em gelo. Há uma fotografia de uma sala vazia, salpicada de sangue.

Imagem: "Abu Ghraib", Fernando Otero.

Leia o artigo completo

O novo ano, o estado mínimo e a concertação social

05.01.24 | Manuel

novo ano.jpg

 Crónica escrita em Janeiro de 2014, em último ano do governo PSD/CDS/PP, denunciando a política de austeridade e de compra da paz social, muito semelhante à que se seguiu com o governo da geringonça mas este em versão mais mitigada. A história tende a repetir-se.

O ano de 2013 terminou com a privatização dos CTT, ficando como sócio privado maioritário o banco norte-americano Goldman Sachs, e o novo ano de 2014 iniciou-se com a privatização da Caixa Seguros, que é entregue à sociedade chinesa Fosun Internacional por 1209 milhões de euros, na saga da EDP e REN. É a privatização a todo o vapor e a todo o custo, com as empresas públicas a serem alienadas abaixo do seu real valor e entregues ao grande capital financeiro estrangeiro.

ctt.jpg

O ano de 2014 começou com a nomeação do ex-ministro José Luís Arnaut para o conselho consultivo internacional do tal Goldman Sachs, como paga pelos bons serviços prestados pela privatização dos CTT e não só, e com o ex-ministro Álvaro Santos Pereira para braço direito do economista-chefe da OCDE, também pelos bons serviços em prol do grande capital estrangeiro, e da candidatura de Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças, a director para os assuntos fiscais do FMI, contando com o apoio da Alemanha, igualmente pelo bom trabalho realizado em Portugal a favor do FMI, da Alemanha e do restante capital financeiro europeu; isto é, os lacaios do grande capital entre nós são premiados pelo trabalho de empobrecimento do povo português.

Dá para afirmar que até existe um estado social, cá e lá fora, para o bem-estar de toda a sorte de homens de mão dos bancos, entretanto as funções sociais do estado são privatizadas, bem como restante património público, no aumento da pobreza entre nós e na Europa. É mais do que simples promiscuidade entre a política e a economia, entre o estado e os interesses económicos privados, é o estado capitalista a funcionar no seu máximo esplendor, revelando a sua natureza, uma máquina de exploração e de opressão do trabalho pelo capital, é o Robin Hood ao contrário, roubando aos pobres para dar aos ricos.

Assim se vê que o estado não é uma entidade neutra, acima das classes, ele é um instrumento ao serviço da classe possidente e actuando sempre contra quem trabalha e produz, e quando concede mais alguma migalha aos trabalhadores ou aos cidadãos em geral é porque, como qualquer patrão que se preze, foi obrigado a isso pela luta travada por aqueles. A classe que o gere é gente cujos interesses se medem exclusivamente pelo saldo das contas bancárias, cuja alma sempre pertenceu ao diabo (capital), ainda antes de terem nascido, e que vão garantindo o futuro nem que seja pela eventualidade do povo se revoltar e ter de dar às de Vila Diogo. Há que acabar com a s ilusões quanto à natureza e bondade do estado, próprias da pequena-burguesia.

O ano de 2013 terminou com greves dos trabalhadores dos transportes e o ano de 2014 começou com greves dos mesmos trabalhadores, no entanto, em ritmo de passeio, numa paz podre social que tem permitido ao governo aguentar-se; greves que têm desaguado em pouca coisa. É a concertação social a funcionar, embora as medidas austeritárias sejam impostas à revelia do acordo pelo menos expresso das direcções sindicais, com excepção da UGT, e de alguma relutância das associações dos comerciantes que se vêem, estes, em grande parte, confrontados com a falência em catadupa; muito do aval é dado de forma implícita e disfarçada.

Esta paz social foi bem exemplificada, ainda há pouco tempo, pelo acordo entre o maior banco privado português (BCP), em situação de semi-falência, diga-se de passagem, e os sindicatos (da UGT), para a redução dos salários a troco de não haver despedimentos (estariam uns 400 previstos), embora este banco tenha sido dos que mais tem despedido ultimamente; no entanto, faz parte do plano acordado as reformas antecipadas, que mais não são que despedimento disfarçado, rescisões por mútuo acordo e programa de saídas por adesão voluntária. Ou seja, os despedimentos far-se-ão, mas de forma discreta, sem dar muito nas vistas. Na prática, os sindicatos foram levados, e com eles os trabalhadores, a aceitar todo o plano montado pela administração do banco a fim de o rentabilizar e assim salvá-lo da falência, já anunciada por diversos indícios, um pouco à semelhança do que o governo vem fazendo a nível do país.

O povo sente-se revoltado mas não manifesta essa revolta, não dá rédea larga ao que sente, auto-reprime-se, para além do cinto de contenção em que é envolvido pelos sindicatos reformistas e pelos partidos da esquerda responsável. Como que uma relação dialéctica entre os representados e os representantes, direcções sindicais apaziguantes, trabalhadores conciliadores e pacíficos. Embora a revolta seja visível, mas latente, só que não eclode, como vulcão adormecido.

O governo, através do Orçamento Rectificativo, vai “recalibrar” os cortes feitos aos aposentados, alargando a base sobre a qual o saque é exercido, será a partir dos 1000 euros mensais, que é na prática um verdadeiro imposto. Contudo, talvez para dourar a pílula, o roubo aos aposentados não se denomina “roubo” mas “contribuição extraordinária de solidariedade” (solidariedade para com os ladrões). De igual modo, o roubo de 5% e 6%, respectivamente, dos subsídios de doença e desemprego não é roubo mas “contribuição”, ou o aumento dos descontos para a ADSE, como forma de compensar em parte o chumbo pelo Tribunal Constitucional aos cortes nas pensões como o governo delineou inicialmente, é também uma “contribuição”; o alargamento do roubo a uma camada mais vasta do povo denomina-se “alargamento da base de incidência”.

Utiliza-se uma linguagem branda, simpática, soft, como agora gosta-se de dizer, para esconder a rudeza e a crueldade da realidade que se pratica. Passou a ser moda usar este tipo de linguagem especialmente quando Cavaco foi para o governo e deu início ao plano de concentração capitalista que agora estará perto de chegar ao seu terminus. Desde o cavaquismo que se começou a dizer “colaborador” em vez de trabalhador, ou seja, o trabalhador “colabora” com o patrão, a quem vende a sua força de trabalho e assim vê extorquida por este a mais-valia; o patrão já não é patrão é “empresário”, isto é, um empreendedor que gosta de empreender, de preferência à custa do estado, sem investimento de risco e quando há prejuízo o estado que fique com o passivo porque ele, o empresário e de sucesso, já colocou em bom recato os seus ricos lucros.

Esta mudança de linguagem aconteceu um pouco à semelhança, e pelas mesmas razões, da concertação social; ela própria faz parte da concertação social, ela é resultado da paz podre social que se vive em Portugal. Uma faceta do que se denomina como “nacional porreirismo”. Mas não é com esta paz podre e este mundo de conciliações que os trabalhadores se livrarão da política de austeridade que se promete por muitos e bons anos, senão décadas, assim como do que se encontra na sua base, a exploração do capitalismo.

Tem sido a concertação social que tem impedido a realização de greves gerais nacionais em quantidade e em amplitude de molde a derrubar o governo fascista PSD/CDS-PP. Em 2014, com a continuação da política de austeridade, com ou sem segundo resgate, e formalmente sem a troika, a atitude dos trabalhadores deve ser a de combate sem tréguas, embora em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu saia da cartola alguma benesse ou ligeiro alívio da austeridade.

É intenção clara do senhor Silva de Boliqueime ir prolongando, custe o que custar, a vida do governo, em Maio acabará o resgate e a troika ir-se-á embora, será um final feliz, segundo eles, e será véspera de eleições. Até ao Verão ir-se-á encanar a perna à rã, e para a encenação contribuirão PCP, BE e CGTP com o receio de não sofrerem o ónus do derrube do governo. Enquanto esta gente continuar com a estratégia de não ultrapassar os limites do quadro institucional, de querer apresentar propostas para resolver a crise, mas sem eliminar a causa que a provoca, então teremos esta paz podre, porque também o povo trabalhador eleitor ainda acredita que é possível resolver a crise do capitalismo sem lhe pôr fim, que este regime de democracia parlamentar é o regime político capaz de lhe resolver os problemas de povo explorado. Enquanto se mantiver estas ilusões, o governo de Cavaco sem Cavaco manter-se-á e outro que lhe suceda continuará a obra de acumulação e concentração capitalistas.

13 de Janeiro 2014

In www.osbarbaros.org

John Pilger: uma vida contando a verdade ao poder

03.01.24 | Manuel

JohnPilger.jpg

Original, corajoso, assumindo grandes riscos pessoais e extremamente trabalhador, Pilger nunca esteve no grupo da grande imprensa

Por Victoria Brittain

David Munro, o diretor e produtor brilhantemente talentoso de 20 dos 50 filmes e documentários de John Pilger, escreveu-lhe certa vez: “Você abriu meus olhos e eu agradeço, desde quando eles nunca foram fechados”. Ninguém conhecia Pilger melhor do que Munro e a amizade deles continuou mesmo depois que Munro passou para outros projetos pessoais, com John dizendo: “Nunca trocamos uma palavra dura”. 

Nos 23 anos desde a morte do seu colaborador mais próximo, incontáveis ​​milhares de pessoas que assistiram aos filmes de Pilger ou leram os seus livros e artigos sentiram exactamente o mesmo sentimento de gratidão. Pilger foi um comunicador brilhante, um repórter e pesquisador incansável com um histórico incomparável de quase meio século no terreno, expondo as mentiras e crueldades dos regimes mais poderosos do Ocidente, liderados pelos Estados Unidos, e o seu impacto sobre as pessoas do Sul Global.

A formação australiana de Pilger e seus primeiros trabalhos no jornalismo desde a Reuters e por 23 anos no Mirror, passando pelo World In Action da ITV e, mais tarde, pelo pouco conhecido Consortium News and CounterPunch, deram-lhe um status de outsider livre no jornalismo do Reino Unido. 

Original, corajoso, assumindo grandes riscos pessoais e extremamente trabalhador, Pilger nunca fez parte da grande imprensa. Talvez fosse em parte porque ele era muito famoso e seu perfil elevado provocava ciúmes. Ele ganhou ou foi indicado para vários prêmios BAFTAs e Emmy e em 1967 e 1979 foi o jornalista do ano. 

Na década de 1960, ele passou oito anos entre o Vietnã e os EUA como o principal escritor do Mirror. Foram tempos de intensidade frenética para qualquer jornalista. No Vietname, Pilger mergulhou na catástrofe do povo vietnamita sob o bombardeamento dos EUA e na destruição da vida, do gado e do campo pelo veneno do Agente Laranja. Nos EUA, as histórias centraram-se na violência contra o movimento dos direitos civis e nos assassinatos de líderes dos EUA que anunciavam mudanças, como Martin Luther King e Robert Kennedy. Ele olhou para o Vietname décadas mais tarde como uma “farsa cheia de mentiras”. Na época parecia um nível intolerável de injustiça e dor para pessoas sem voz, pelas quais ele, com a sorte de ser jornalista, falaria. 

Palestina e Camboja

Esse foi um dos pilares da experiência de vida que o marcou indelevelmente como jovem jornalista. A segunda foi permanecer feliz num kibutz em Israel na década de 1960, mas ver gradualmente “a desumanização dos palestinianos”. Seu filme de 1977, Palestina ainda é o problema , abordou a grande injustiça da ocupação ilegal de terras palestinas e o tornou famoso.

O seu conselheiro histórico era um historiador israelita então pouco conhecido, Ilan Pappe, hoje o mais conhecido dos académicos sobre o assunto na Grã-Bretanha. Seguiu-se uma investigação da indústria e não apoiou as críticas. Esse filme verdadeiro e o seguimento de 2002 com o mesmo nome conquistaram a John um grande e duradouro respeito em um mundo muito mais amplo.

Michael Green, então presidente da Carlton Communications e produtor do filme, renegou publicamente o filme de 2002 numa crítica devastadora e totalmente injusta. Green estabeleceu um tom que grande parte da grande mídia usaria para assediar Pilger ao longo de sua carreira. “Foi unilateral, foi totalmente irrealista, mas foi John Pilger… foi factualmente incorreto, historicamente incorreto”, escreveu ele enquanto o Conselho de Deputados Judeus, os Amigos Conservadores de Israel na Grã-Bretanha e o Estado israelense respondiam com indignação a um filme sério feito por uma equipe cuidadosa e profissional.

John Pilger - jornalista de campanha, cineasta, autor e crítico fervoroso da política externa dos EUA e da Grã-Bretanha

Os dois primeiros de seus quatro filmes sobre o Camboja, Ano Zero: A Morte Silenciosa do Camboja e Camboja Ano Um , feitos com Munro e exibidos em 1979 e 1980, foram reveladores dos horrores do governo de Pol Pot e suas consequências e foram muito elogiados. O primeiro ajudou a arrecadar ajuda de £ 45 milhões para cambojanos famintos. Mas uma visita, em 1980, dos filmes às poderosas redes de distribuição nos EUA deu a Pilger uma dura lição. Os executivos ficaram entusiasmados com as imagens abrasadoras do Khmer Vermelho, mas “ninguém quis mostrar como três administrações dos EUA foram coniventes na tragédia do Camboja”, explicou mais tarde. E no momento mais amargo desta experiência, na PBS a mais liberal e independente de todas, o produtor recusou-o com: “os seus filmes teriam-nos dado problemas com a administração Reagan – desculpe”.

Mais dois grandes filmes na Ásia se seguiram na década de 1990 – A Morte de uma Nação: A Conspiração de Timor e Por Dentro da Birmânia: Terra do Medo . A reportagem e comentários de Pilger de 1994 sobre a antiga colónia portuguesa de Timor-Leste (até 1975), actualizados em 1998, foram um destaque particular, centrando-se num lugar vergonhosamente desconhecido no Ocidente durante uma invasão indonésia e uma ocupação militar brutal que terminou em 1999. Quando foi exibido tarde da noite na ITV, a empresa recebeu um dilúvio sem precedentes de telefonemas do público.

Mais uma década, outra guerra e outro continente se seguiram com Paying The Price: Killing the Children of Iraq (2000). Além desse filme comovente, Pilger escrevia copiosamente e falava em nome do movimento anti-guerra no Reino Unido, incendiado pela oposição à Guerra do Golfo liderada pelos EUA e depois à guerra do Iraque que, na sequência das sanções económicas ocidentais e da ONU, destruiu um dos os melhores apoiantes da Palestina no mundo árabe e um dos seus países mais educados e culturalmente significativos.

Kate Hudson, secretária-geral da Campanha pelo Desarmamento Nuclear, descreve Pilger como “um orador notável e incisivo sobre a questão antinuclear, expondo décadas de mentiras e hipocrisia sobre os impactos dos testes nucleares e do colonialismo nuclear, de uma forma profunda e acessível. .”

Antecipando a História

Três filmes mostram a capacidade de Pilger de antecipar a história. Em 2004, Stealing a Nation , sobre Diego Garcia e as Ilhas Chagos, mostrou um canto virtualmente desconhecido da história colonial britânica: pessoas deslocadas, sucessivas mentiras do governo do Reino Unido, os olhos cegos selectivos do poder judicial do Reino Unido. Dezoito anos depois, em Fevereiro de 2019, o Tribunal Penal Internacional concluiu que a autoridade colonial do Reino Unido já não era legal no caso Diego Garcia. Em 2016, a iminente guerra contra a China prenunciou uma das preocupações políticas mais perigosas do mundo de hoje. E The Dirty War on the NHS, feito em 2019, deu uma prévia da realidade atual no Reino Unido.

Ao longo das décadas, as exibições de seus filmes no maior cinema do British Film Institute esgotaram, a exibição sempre foi seguida por uma série de perguntas e seus fãs o cercaram no caminho para a recepção privada. Ele escreveu em jornais e revistas do Reino Unido, desde o New Statesman, passando pelo The Guardian até o The Express, e mais tarde em muitos outros veículos em todo o mundo. Seus doze livros, incluindo a exposição da corrupção política e da história genocida da Austrália em Um país secreto , têm vida longa.

Paul Rogers, professor emérito de Estudos para a Paz na Universidade de Bradford, disse esta semana: “John foi extremamente eficaz em seu extenso trabalho sobre as realidades da guerra e especialmente os custos sociais muitas vezes ocultos. A isto somam-se as suas numerosas revelações envolvendo governos e interesses ocidentais que foram tão facilmente encobertos. Depois, há o seu apoio consistente a Julian Assange, que foi tão eficaz na revelação de tantos segredos da guerra no Iraque.” 

Apesar de toda a sua fama, Pilger era um homem bastante reservado, imbuído de uma forte lealdade aos amigos e de sua feliz parceria de 30 anos com Jane Hill, uma jornalista de revista, e seus amados filhos Zoe e Sam. Muitos amigos e conhecidos tiveram seus livros e filmes generosamente endossados ​​e suas vidas enriquecidas pelo fato de John dedicar tempo a eles. Lembro-me de muitas dessas ocasiões, uma noite aleatória há 23 anos, por exemplo. Fomos ao teatro Royal Court, em Londres, porque eles realmente queriam saber a opinião dele sobre uma peça palestina, mas não gostaram de perguntar-lhe seu tempo. Ele se divertiu, fez elogios generosos e disse modestamente que estava honrado por ter sido convidado.

Nos últimos anos, o apoio activo de John a Assange alienou-o ainda mais de sectores da imprensa do Reino Unido que há muito se distanciavam de Assange. E alguns dos julgamentos escritos de Pilger contra a opinião dominante sobre questões mundiais complexas, como a responsabilidade real pela utilização de armas químicas na Síria – com cientistas a assumirem pontos de vista opostos – trouxeram-lhe duras críticas. Essa guerra moderna foi muito diferente das reportagens no terreno que lhe deram fama. Ele foi acusado de ser pró-Assad ou pró-Putin. Mas Pilger nunca apoiou o poder em sua vida. E, como todos, cometeu erros como o da responsabilidade russa pelo envenenamento dos Skripals em Salisbury em 2018. Outros jornalistas que queriam derrubá-lo por causa de sua política e de seu brilhantismo de campanha nunca poderiam tocar suas décadas de dizer a verdade ao poder.

Modelo

É uma honra que a Biblioteca Britânica mantenha o arquivo da enorme obra de Pilger, acessível para a história. As novas gerações aprenderão lá muito sobre o mundo visto de lugares como a Nicarágua, a Palestina, o Camboja, Timor-Leste e o Vietname em primeira mão, e também descobrirão a tomada de decisões de Washington sob uma luz nua e crua.

Um dia quente em julho de 2005 resume perfeitamente as escolhas de vida de John e reflete o melhor do homem privado que foi meu amigo gentil e leal em tempos difíceis durante quatro décadas. Naquele dia, sua prioridade era comparecer a uma reunião modesta nos Jardins Jubilee, às margens do rio Tamisa, longe de qualquer centro das atenções. Foi um memorial para os veteranos restantes das Brigadas Internacionais, jovens voluntários que lutaram contra o fascismo de 1936 a 1939 na Espanha, agora todos com 80 anos ou mais. John leu um poema para um deles, George Green, escrito por seu filho, que tinha quatro anos quando seu pai foi morto. Em seguida, ele falou de sua dívida para com sua falecida amiga Martha Gellhorn, a lendária jornalista americana da Segunda Guerra Mundial que estava fazendo reportagens na Espanha em 1938. Ele leu um de seus despachos, dizendo que sua experiência lhe ensinou “sobre coragem moral, sobre falar, quebrar o silêncio”. Ao pequeno grupo de veteranos idosos com boinas vermelhas ao seu serviço, ele disse: “Agradeço a vocês e aos seus camaradas caídos pelo que fizeram por todos nós e pelo seu legado de verdade e coragem moral”.

Ecoando esses sentimentos, após a morte de Pilger, o professor Paul Rogers descreveu-o como “um modelo de raro valor”.

____

Victoria Brittain trabalhou no The Guardian durante muitos anos e viveu e trabalhou em Washington, Saigão, Argel, Nairobi e fez reportagens em muitos países africanos, asiáticos e do Médio Oriente. Ela é autora de vários livros sobre a África e foi coautora das memórias de Guantánamo de Moazzam Begg, Enemy Combatant, autora e coautora de duas peças textuais de Guantánamo e de Shadow Lives, as mulheres esquecidas da guerra ao terror. Seu livro mais recente é Love and Resistance, os filmes de Mai Masri.

Imagem em destaque: John Pilger, fotografado em 2006, cujas décadas no jornalismo incluíram a Reuters e 23 anos no Mirror, depois no World In Action da ITV (Wikicommons)

A fonte original deste artigo é Middle East Eye