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TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

A propósito do debate do Estado da Nação, na Assembleia da República

25.07.22 | Manuel

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O ESTADO DA NAÇÃO:

Uns vão bem e outros mal

Fausto

Senhoras e meus senhores,

façam roda por favor

Senhoras e meus senhores,

façam roda por favor,

cada um com o seu par

Aqui não há desamores,

se é tudo trabalhador,

o baile vai começar.

 

Senhoras e meus senhores,

batam certos os pezinhos,

como bate este tambor

Não queremos cá opressores,

se estivermos bem juntinhos,

vai-se embora o mandador

 Vai-se embora o mandador

 

Faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres

Folha seca cai ao chão,

folha seca cai ao chão

 

Eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

Que eu sou doutra condição,

que eu sou doutra condição

 

De velhas casas vazias,

palácios abandonados,

os pobres fizeram lares

Mas agora todos os dias,

os polícias bem armados

desocupam os andares

Para que servem essas casas,

a não ser para o senhorio

viver da especulação

 

Quem governa faz tábua rasa,

mas lamenta com fastio

a crise da habitação

 

E assim se faz Portugal,

uns vão bem e outros mal.

 

Faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres, 

faz lá como tu quiseres

Folha seca cai ao chão,

folha seca cai ao chão

 

Eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

Que eu sou doutra condição,

que eu sou doutra condição

 

Tanta gente sem trabalho,

não tem pão nem tem sardinha

e nem tem onde morar

Do frio faz agasalho,

que a gente está tão magrinha

da fome que anda a rapar

 

O governo dá solução,

manda os pobres emigrar,

e os emigrantes que regressaram

Mas com tanto desemprego,

os ricos podem voltar

porque nunca trabalharam

 

E assim se faz Portugal,

uns vão bem e outros mal.

 

Faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres

Folha seca cai ao chão,

folha seca cai ao chão

 

Eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

Que eu sou doutra condição,

que eu sou doutra condição.

 

E como pode outro alguém,

tendo interesses tão diferentes,

governar trabalhadores

Se aquele que vive bem,

vivendo dos seus serventes,

tem diferentes valores.

 

Não nos venham com cantigas,

não cantamos para esquecer,

nós cantamos para lembrar

Que só muda esta vida,

quando tiver o poder

o que vive a trabalhar

 

Segura bem o teu par,

que o baile vai terminar.

 

Faz lá como tu quiseres,

faz lá como tu quiseres, 

faz lá como tu quiseres

Folha seca cai ao chão,

folha seca cai ao chão.

 

Eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

eu não quero o que tu queres,

Que eu sou doutra condição,

que eu sou doutra condição.

 

Uns vão bem e outros mal - pertence ao álbum Madrugada dos Trapeiros, que Fausto Bordalo Dias lançou em 1977

Imagem: TSF