Hipátia de Alexandria
Por Vanessa de Souza Gomes
Hipátia nasceu em Alexandria, Egito, por volta do ano de 370 d. C. Era filha de Theon, um matemático, filósofo e astrónomo conhecido no seu tempo; foi muito influenciada intelectualmente por seu pai, que foi o último diretor do Museu de Alexandria. Educada na escola neoplatônica, também foi líder das crenças neoplatônicas em Alexandria.
Ela nunca se casou, apesar de sua beleza e eloquência. Ela dedicou sua vida ao trabalho científico, declarando-se "casada com a verdade". Hipátia estudou em Atenas, Grécia, e de regresso à sua cidade natal tornou-se professora de Matemática e de Filosofia.
Hipátia é considerada a primeira mulher a ter trabalhos importantes na área das Ciências Exatas e, paralelamente, ter conhecimento em Filosofia e Medicina. Em Matemática, sua pesquisa foi apresentada em numerosos manuscritos, como “Comentários sobre a aritmética de Diofanto”. Cabe observar que Diofanto de Alexandria foi um importante matemático grego do século III a.C., considerado por muitos estudiosos como o "pai da álgebra”. Outra contribuição de Hipátia foi o lançamento de comentários sobre os “Elementos de Euclides”, que os fez juntamente com seu pai, Theon, que era especialista em trabalhos euclidianos. Ela também reescreveu um tratado sobre a obra“As Cônicas” de Apolônio [5]. Suas reinterpretações simplificaram os conceitos de Apolônio, usando uma linguagem mais acessível, tornando-o em um manual fácil de ser seguido pelo leitor interessado.
Infelizmente, muitas das contribuições de Hipátia foram perdidas. Graças a sua correspondência com seu aluno Sinésio de Cirene (mais tarde Bispo de Ptolemais, uma antiga capital da província romana de Cirenaica), conhecemos muitas de suas outras contribuições. Sinésio de Cirene compartilhou um gosto pela Matemática e Astronomia com sua tutora, mas tomou outra direção, tornando-se filósofo e bispo. Sinesio registrou a singularidade de Hipátia como intelectual. Ele afirma sua autoria na construção de um astrolábio, um hidrômetro e um higroscópico.
Hipátia também se destacou por suas habilidades como palestrante e por ser uma seguidora do neopitagorismo e neoplatonismo. Ela se tornou uma eminente professora de Matemática, dando aulas em sua casa a um grupo de aristocratas pagãos e cristãos. Sua inteligência a levou ao cargo de conselheira de Orestes, prefeito do Império Romano do Oriente, e também seu ex-aluno.
A natureza especial de Hipátia, tratando todos os seus alunos igualmente, sendo educada, tolerante e racional, desencadeou uma série de ciúmes que resultaram inimizades. Como pagã, defensora do racionalismo científico grego e de uma figura política influente, Hipátia sofreu uma intensa hostilidade. As acusações contra ela de blasfêmia e sentimentos anti-cristãos, simplesmente porque ela se recusou a trair seus ideais e abandonar o paganismo, levou à uma emboscada, onde foi brutalmente assassinada. Existem diversas versões do seu fim, sendo a mais difundida a de Edward Gibbon na obra O Declínio e a Queda do Império Romano, publicada em seis volumes entre 1776 e 1778. Segundo Gibbon, numa manhã da Quaresma de 415, Hipátia foi atacada na rua quando regressava a casa na sua carruagem. A multidão arrancou-lhe os cabelos e a roupa, depois os braços e as pernas e queimou o que restava do seu corpo. No entanto, Hipátia nunca proclamou sua aversão ao cristianismo. Simplesmente, com sua natureza liberal, ela aceitou todos os alunos, independentemente de suas crenças religiosas.
Hipátia foi um dos últimos intelectuais conhecidos a trabalhar na Biblioteca de Alexandria e a primeira mulher matemática que a história regista. Por isso, a sua morte violenta foi considerada o fim do período antigo da matemática grega. Hipátia foi imortalizada na parede do Museu do Vaticano pelo pintor renascentista Rafael Sanzio, no seu quadro “A escola de Atenas”. Voltaire e Bertrand Russell comentaram com apreço o seu trabalho. Hipátia foi tema de um romance de Charles Kingsley (Hypátia, 1853). Em 2011, o espanhol Alejandro Amenabar realizou um filme, Ágora, sobre a sua vida (https://www.youtube.com/watch?v=OD2VWJ97Fxg).
Referências Bibliográficas:
[1] Dzieslka, Maria de. Hipátia de Alexandria. Editora Relógio d’Água. 1ª Edição. 2009.
[2] Fernandez, José Carlos. Viagem iniciática de Hipátia: Na demanda da alma dos números, Edições Nova Acrópole. 1ª Edição. 2010.
[3]http://socientifica.com.br/2017/05/hipatia-de-alexandria-uma-matematicacontra-intolerancia/
[4] http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2014/03/viva_hypatia.html [5] http://www.sbem.com.br/enem2016/anais/pdf/5062_3970_ID.pdf
Imagem: Detalhe de um personagem do fresco “A Escola de Atenas” de Raphael Sanzio, que pode ser um autorretrato ou uma representação de Hipátia.