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TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

D. Marcelo, O Rei Presidente

19.06.23 | Manuel

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A propósito da eleição de Marcelo no primeiro mandato

O afilhado do último presidente do conselho de ministros do fascismo, na sua tomada de posse como o 20º presidente da República Portuguesa, eleito por cerca de um quarto do eleitorado nacional, quis ser diferente ao romper com o dito protocolo, teve um concerto por artistas conceituados da nossa praça, incluindo o da canção que manda “foder”, foi popularucho, abriu as portas do Palácio onde deu beijinhos a rodos e, ainda antes, deslocou-se à cidade "geradora de elites", onde teve um "banho de multidão” (cerca de 200 pessoas), foi bem recebido pelo povo do Bairro do Cerco, moradia de gente que vive do rendimento mínimo, pobre em tudo, irá em breve a Roma ver o Papa, passará por Madrid onde beijará a mão de Filipe VI de Espanha e VII de Portugal, aliás, o chefe de estado mais importante que teve a honra de assistir à não menos importante cerimónia, para além, como é óbvio, do emissário pessoal da fürher, o "amigo" Juncker. E já disse, ou alguém por ele, já não nos lembramos bem, que quer ser como o presidente-rei Sidónio.

Há alguém disse na imprensa de referência, ou coisa semelhante (a nossa confusão é grande com tanto mediatismo), que "começa uma nova fase da democracia portuguesa" – segundo nós, deve ser a fase final. E, para fazer jus às palavras do presidente da Comissão Europeia, o homem é "o homem certo no local certo", mas por outras razões; para além das que perpassaram pela cabeça do luxemburguês, amigo das multinacionais e outros notáveis cidadãos especialistas em branqueamento de capitais e de fuga ao fisco.

Não sabemos se foi gafe ou intencional que o jornal da direita espanhola tenha anunciado a tomada de posse do novo presidente português, pelo menos devido ao local de nascimento, "Marcelo Caetano". Contudo, não deixa de ser estranho atendendo a que os nuestros hermanos andam bem informados sobre o que se passa nesta “piolheira” à beira-mar plantada, para utilizar um termo tão caro ao último monarca português que teve o azar de apanhar uma fatal indigestão quando regressava de férias. O homem é patriota, por isso quer imitar o Sidónio (fazemos votos que o não imite em tudo), razão pela qual querer comemorar o Dia da Raça, perdão, o Dia de Portugal, em Paris.

O Silva de Boliqueime deixa-nos alguma mágoa, perdemos um labrego que, embora sendo uma figura sinistra e de alguma tristeza, fazia-nos rir, antes deveria ter sido substituído pelo pateta de Rans, assim ficaria mais explícita a imagem do país no estrangeiro. No entanto, este Caetano, perdão!, Marcelo, é bem possível, que nos venha ainda a divertir, apesar de esperarmos coisas mais graves do que aquelas que o patego algarvio nos ofereceu, um pouco à semelhança das anedotas que se contavam por toda a Lisboa sobre a rainha francesa D. Amélia, pessoa também muito popular.

Depois deste mandato, esperemos pelo segundo e veremos um apoio ainda mais encarniçado à formação de um governo de direita pura e dura que venha substituir o actual PS/Costa. Como igualmente alguém já afirmou (somos pouco originais), o Portugal (das nossas elites) é isto: "Fugiu de Alcácer Quibir, El-Rei Rei D. Sebastião, E uma lenda nasceu, Entre a bruma do passado, Chamam-lhe o desejado, Pois que nunca mais voltou, El-Rei D. Sebastião". Voltou a monarquia, nem que seja por já termos um Filipe.

Marcelo (ainda não tem o "I" porque é o primeiro, os reis são só numerados a partir do segundo) é um homem de Fé, vai todos os domingos à missa, fez questão de incluir na cerimónia de tomada de posse uma performance com os representantes de todas as correntes religiosas em Portugal, nem sabíamos que havia tantas (dezoito!), e de tolerância. Não é por acaso que irá ser construída uma nova mesquita em Lisboa, no bairro popular da Mouraria, o que poderá levar ao regresso do projecto da nova Sé-Catedral de Lisboa para o alto do parque Eduardo VII, tão acalentado por João Soares quando presidente da câmara da capital.

Fé, Tolerância e Mediatismo, as três virtudes cardeais ou teologais, farão do novo ocupante do palácio de Belém, lembra-nos o local de nascimento do outro salvador, a pessoa indicada, ou seja, o homem certo no local certo" para gerar "consensos" à esquerda e à direita, à frente e a atrás, e instituir a "estabilidade" tão necessária ao regime, num verdadeiro espírito, não verbalizado, social-democrata. Social-democracia, sempre! – como já dizia o outro que foi eleito por 95% do seu eleitorado.

Na verdade, começou um outro período da democracia portuguesa, há um presidente eleito pelas televisões, levado ao colo por toda a imprensa falada e escrita de referência; toda ela, por sinal, propriedade de grandes grupos económicos, que velam para o regresso ao fascismo seja coisa certa e útil, claro que nada de golpes militares, somente um fascismozito soft, tipo democracia musculada, onde as eleições são feitas não para o Parlamento mas para o cargo do presidente (conselho de ministros ou da dita república, tanto faz) que, por sua vez, nomeia os ministros e quem os secretaria pelo tempo que achar necessário.

Ah! houve quem, num jornal da provinciana cidade lusa Atenas, tenha já defendido alteração da Constituição para que vigore um regime presidencialista, com eleições de apenas de sete em sete anos; mas o homem que foi eleito em Janeiro passado já jurou, não sabemos se foi com os pés, que irá respeitar a Constituição da República. Quem é que irá duvidar?!

13 de Março 2016