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TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

O capitalismo em crise provoca a guerra

19.03.22 | Manuel

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Para se entender a guerra teremos de conhecer o que está por detrás, e por detrás desta encontra-se uma crise económica bastante grave que se vem arrastando sem fim à vista – estamos fartos de repetir isto e só não vê quem não quer. A guerra é o resultado e não a causa da crise económica, e é económica porque se trata da economia de mercado ou capitalista. E as sanções que o Império lança sobre a Rússia e sobre quem a apoia, a China irá a seguir para além das sanções que já lhe foram impostas, irão ser mais perniciosas para os povos do Ocidente do que propriamente para o povo russo que, também ele, irá sofrer mas, e ao contrário da propaganda daqui, irá sofrer menos. E os estados vassalos da União Europeia (uma construção americana para fazer frente à antiga URSS) não ficarão imunes ao tsunami da inflação, do desemprego e, mais cedo ou mais tarde, da guerra que poderá transbordar as fronteiras. Será mais fácil haver revoltas nos países europeus pela miséria que essas sanções irão provocar do que o povo russo. Aparentemente um paradoxo, mas não mais do que isso.

A Rússia, perante o cerco que lhe foi imposto pelos EUA, foi-se precavendo, apetrechou-se com divisas (principal produtor de ouro do mundo), substituiu muitos produtos importados por produção local, manteve um grande excedente comercial, é auto-suficiente em termos energéticos, criou sistema electrónico de pagamentos próprio e interligou-o ao sistema chinês e ambos os países, Rússia e China, basearam esse sistema numa bolsa de meia dúzia de moedas a fim de contornar o dólar e assim dar início à desdolarização do comércio mundial. O governo russo já anunciou que quem quiser receber pagamentos terá de ser em rublos. Quando o dólar deixar de ser a principal moeda de pagamento nas trocas comerciais será o fim do Império. E independentemente de como e quando a guerra na Ucrânia irá acabar, ela marcará o fim do dólar e a queda do Império e por arrasto da Europa com os seus falsos princípios humanistas.  O declínio do dólar, a estagflação de todas as economias do ocidente não deixam outra solução se não a guerra. Daqui para a frente o mundo não será igual.

Estará na lógica que, perante tal perspectiva, a potência que desde o fim da II Guerra Mundial tem dominado o mundo segundo as (suas) regras não queira cair pacificamente e nem sozinha. E os estados europeus parecem que querem cometer suicídio ao deixarem-se arrastar pela política belicista americana ao aceitarem comprar o gás mais caro vindo do outro lado do Atlântico, o que fará aumentar os custos de produção das mercadorias europeias, tornando-as menos competitivas em relação às provenientes da China e dos próprios EUA. A Alemanha deixará rapidamente de ser a “locomotiva da Europa”. Não é só o maior gestor de fundos do mundo BlackRock que assume perdas de 17 mil milhões de dólares devido à exposição em títulos de crédito à Rússia, mas a banca italiana com  25,3 mil milhões de dólares, a bancos francesa com 25,2 mil milhões e a austríaca com 17,5 mil milhões, no total por parte dos bancos da União Europeia serão 89,5 mil milhões de dólares. Com uma inflação média a disparar para 5,1% para já, a Europa, ao querer seguir e sujeitar-se ainda mais ao suserano EUA, irá praticar com certeza o seu hara kiri.