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TEMPOS DE CÓLERA

A Humanidade é uma revolta de escravos (Alberto Caeiro, Poemas)

O Natal não é igual para todos ou a privatização do estado

20.12.23 | Manuel

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Como foi a política do PS e de Costa para endrominar o povo em véspera do Natal de 2019 é o que versa a crónica. Com o governo demitido e em plena campanha para outras eleições legislativas antecipadas não é despiciendo fazer o balanço, talvez ajude um pouco ao abre olhos aquando da votação de Março próximo.

O Natal não é igual para todos ou a privatização do estado

O “nosso-primeiro”, o Costa do PS, veio arengar às massas em véspera de Natal acerca da salvaguarda do Serviço Nacional de Saúde, apresentado esta questão como a questão nacional e prioritária do actual mandato do governo socialista. Não deixa de ser uma táctica habilidosa que chegou a criar algum desconforto e desnorte no seio dos partidos formalmente de direita e, de certo modo, tentar unir os diversos sectores da sociedade portuguesa no apoio ao governo quanto a uma matéria que é sensível à generalidade dos cidadãos. Mais uma habilidade made in Costa, que, entretanto, não consegue esconder os verdadeiros propósitos em relação à Saúde: a ministra Leitão parece ter recebido a missão de destruir a ADSE pela via da opção “mutualista”, uma modalidade que tão bom resultado deu nos últimos tempos no Montepio, em vez de contratar os 80 trabalhadores em falta a fim de começarem a tratar os 650 mil documentos de despesas já entregues e em situação de espera.

Enquanto o primeiro-ministro tentava endrominar o povo português, o monarca que passa por Presidente da República, e como chefe supremo das forças armadas, embora tenha fugido à tropa, visitava as tropas portuguesas estacionadas em Cabul, Afeganistão, numa pretensa “intervenção humanitária e “luta contra o terrorismo” e “defesa das liberdades”, nem que seja para os países ocidentais aí defenderem uma classe política vendida e corrupta e cujo objectivo verdadeiro é proteger o cultivo e o comércio do ópio, para além da geo-estratégia. A recente divulgação dos Afghanistan Papers, pelo insuspeito “Washington Post”, mostra bem a natureza da intervenção dos países da Nato: saqueio, mentira e corrupção. É a Nato (OTAN, na sigla portuguesa) que promove e incorpora o verdadeiro terrorismo.

Estamos habituados que quando alguma grada figura da Igreja Católica vem a público botar faladura saia grossa asneira, foi o caso do bispo do Porto que, aproveitando a época e discordando de um hipotético “desinvestimento” do estado nas IPSS detidas pela ICAR, arrotou a hóstias: “o Estado não é pessoa fiável”.

É fácil, dá jeito e parece bem que se faça caridade e beneficência diversa com o dinheiro alheio, o bispo queixa-se que o estado está a comparticipar “apenas” com 30% do necessário à sobrevivência de muitos centros sociais e paroquiais que, mantendo-se a situação, correm o risco de encerrar, tendo o dislate de comparar a situação com a do regime liberal do século XIX que conduziu ao confisco dos bens religiosos, que, por sua vez, tinham sido roubados ao povo. Mas, pergunta-se: o que faz a Igreja Católica ao dinheiro e à riqueza patrimonial que possui, já que até está isenta de impostos? A verdadeira caridade é aquela que é feita à custa própria. A ICAR sempre se posicionou na primeira linha no assalto aos dinheiros públicos e aos bens do povo. Não contente em querer privatizar o estado, a ICAR ainda beneficia de situação de excepção, como o estado não fosse laico e republicano, mas confessional: o presidente da Câmara da Guarda decretou dois dias de luto municipal, com bandeira a meia haste, em homenagem ao cónego Geada Pinto, que morreu no hospital público da cidade.

Infelizmente, não é só um bispo idiota que somos obrigados a ouvir, o ministro do Ambiente, o imbecil já habitual, veio dizer ao povinho que a melhor forma de evitar os prejuízos para as aldeias ribeirinhas do rio Mondego, quando este “bazófias” resolve transbordar, é mudá-las de sítio. O ministro, que é muito provavelmente o mais corrupto de todo o governo e, ao que parece, o mais cretino de todos, não teve a mesma ideia em relação à Celtejo quando esta entende, impune e livremente, poluir o rio Tejo; indústria esta que foi deslocada para o Sul da Europa por essas mesmas razões, de ser extremamente poluidora e predadora do meio ambiente. Ainda iremos ouvir desta boca mal cheirosa a ideia de mudar a capital do país para lugar mais seguro já que se encontra em cima de uma falha geológica particularmente instável.

Estas alarvidades que o Costa deixa para os seus ajudantes servem para esconder as responsabilidades do governo em não ter concluído as obras do Rio Mondego, que foi, por ideia de Mário Soares e executada por alemães, encanado artificialmente para levar água às celuloses situadas na parte sul do concelho da Figueira da Foz, e aí instaladas pelos suecos que assim se livraram da poluição do pé da porta. O regadio veio como que acréscimo, daí a não conclusão das obras, e para culturas intensivas e de agrado da União Europeia, esquecendo-se que as cheias do Mondego sempre foram uma maneira de fertilização dos terrenos pelo aluvião acarretado.

Não é só a Igreja Católica que quer abocanhar o estado, ficamos a saber nesta época natalícia entre outras coisas que:

- O governo PS/Costa e a Fertagus assinaram o acordo de “reposição do equilíbrio financeiro” do contrato de concessão da travessia ferroviária na Ponte 25 de Abril, que iria terminar agora mas como a empresa não tinha, ou não estava disposta a ter, os oito milhões que devia ao estado (Infraestruturas de Portugal SA), alegadamente por “um aumento imprevisto da taxa de uso que não estava contratualizado”, para além dos ganhos com os passes sociais, vê assim a prorrogação da concessão até 2024.

- O Novo Banco perdoou 24 milhões para salvar rei dos cogumelos, o dito “maior produtor português de cogumelos”, que teve o privilégio de visita real do PR Marcelo, possivelmente, mais selfie e beijoca; o verdadeiro artista e empreendedor nacional, com dívidas de 60 milhões de euros, mas que vê agora o negócio (e vigarice) salva com um “haircut” de 70% por parte da banca credora, com os credores comuns a perderem praticamente 100% dos seus créditos. Uma maravilha, é tão bom pagar tão pouco, ou seja, ser empresário neste país com o dinheiro dos outros, com garantia a 100% se o negócio não correr bem. O Zé paga sempre, ou directamente, ou através dos tais “apoios” à banca privada. Será para questionar: em quanto ficará o Novo Banco (BES) no final da operação de resgate? Não será somente os milhões já aí enterrados, serão 4 mil milhões, serão 5 mil milhões, seis mil milhões de euros? Ninguém sabe.

- Ah, e mais outra, o presidente do Crédito Agrícola, com o conhecimento do Banco de Portugal, pagava dois mil euros à mulher para lhe prestar… “estabilidade emocional”. Quando é que a banca pagará o mesmo a cada um dos cidadãos portugueses para o mesmo efeito, já que agora até seria uma boa altura para o fazer?!

- E o estado (APA, Agência Portuguesa do Ambiente) só “consegue” cobrar 24% das multas decididas sobre as empresas que foram apanhadas a poluir, porque não serão todas. Entretanto, através das Finanças, e só até 1 de Dezembro, já penhorou 58 mil e 752 salários a trabalhadores que não cumpriram com as suas ditas obrigações fiscais. Declaradamente, dois pesos e duas medidas.

É o fartar vilanagem!

Como se constata, o Natal não é igual para todos.

29 de Dezembro 2019