O Roubo das Joias do Museu Alberto Sampaio
“Em 16 de Novembro de 1975, um comando do denominado Movimento de Libertação de Portugal (MDLP), utilizando a violência, roubou do museu a coroa de Nossa Senhora da Oliveira – padroeira de Portugal, desde D. Afonso Henriques até D. João IV –, bem como outras valiosíssimas peças do tesouro da Real e Insigne Colegiada”.
Era deste modo que o “Público” (1992, “Museus de Portugal” IX) se referia ao roubo perpetrado pela extrema-direita das jóias do Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. Jóias de valor incalculável. Para além da coroa em oiro e pedras preciosas, do século XVIII, foram roubadas: uma meada em oiro, com 32 metros de comprimento, um grilhão de oiro, um peitoral de prata doirada, todos do século XVIII, e um cordão de oiro e uma cruz indiana, também de oiro, ambos do século XVII.
Os autores materiais do roubo foram um ex-fuzileiro, primeiro-tenente José Maria da Silva Horta, desertor após o falhanço do golpe de11 de Março de 1975, ajudado por Maria Alice da Silva Marques, secretária de um dirigente do Partido do Progresso, apoiados, por sua vez, por um outro casal, do qual apenas se sabe que o homem era também oficial da Força Aérea e pertencente à extrema-direita.
O roubo foi perpetrado utilizando-se a violência, o guarda do museu, Fernando Cunha, foi atacado à coronhada, manietado e anestesiado, sendo ameaçado de morte caso resistisse. O bando deslocou-se para Chaves, contou com o apoio de Joaquim Ferreira Torres, irmão do actual presidente de Marco de Canavezes e mais tarde assassinado, e depois refugiou-se em Espanha, onde as jóias terão sido vendidas ao desbarato. O dinheiro terá sido utilizado nas despesas do MDLP.
Nunca mais se soube do paradeiro do ex-tenente Silva Horta, coreu o rumor de que estaria em Espanha e que mais tarde teria ido para o Brasil, com entradas clandestinas no país. Quanto à companheira, Maria Alice, esta ainda foi detida, conseguindo fugir facilmente do Hospital Miguel Bombarda, onde estava internada sob prisão. Ambos foram julgados e condenados à revelia, em Janeiro de 1987 - doze anos depois! – a vinte e quinze anos de prisão, respectivamente, e ao pagamento de um milhão de contos.
As jóias jamais foram recuperadas e as penas não foram cumpridas. As investigações foram atrasadas propositadamente, na intenção de “deixar arrastar tudo até que o desinteresse e o esquecimento desgastem, irremediavelmente o processo… como se não houvesse responsabilidades para ninguém”, palavras de um autarca vimaranense, transcritas pelo “Público”.
Tempo de comemoração do cinquentenário da “revolução dos cravos” é tempo de avivar a memória histórica e perceber como a democracia (ou seja, os nossos impolutos democratas) convive tão bem com a extrema-direita, a antiga que foi reciclada e a nova que acaba de obter folgada vitória nas eleições legislativas, e salientar que um dos participantes da rede bombista de então é um “digno representante da Nação” na dita “casa da democracia". Talvez a desculpabilização dos crimes de uns justifique a impunidade dos crimes que agora se cometem.
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