Uma respeitável e vetusta instituição nacional
Crónica datada (mas actual) sobre a bufaria no tempo do governo do Sócrates/PS e a propósito da actuação eventualmente ilegal do SIS a respeito do célebre computador com segredos de estado.
O governo do partido socialista, chefiado pelo jovem turco Sócrates indigitado pela Maçonaria, vai ficar na História nem que seja pelo reavivar de um fenómeno genuinamente nacional e que se encontrava em dormência praticamente desde o 26 de Abril (no dia 25 ainda estava activo); criação genuína de cariz religioso, instituída e medrada pela Santa Inquisição, mantida e desenvolvida pelos governos da monarquia constitucional mais conservadores, no tempo de Pina Manique registou um notável apogeu, D. Miguel utilizou-a como principal instrumento de poder, e Salazar mais não fez que dar continuidade a uma velha tradição secular – esta respeitável e vetusta instituição que agora o ps revitalizou é a bufaria, que muitos portugueses, mais que o desejável, auto-alimentam com algum gozo.
Os episódios que vieram à luz da opinião pública (outros haverão mas ainda não conhecidos) da piada sobre a licenciatura do primeiro-ministro ou do bloguista que procedeu à investigação da mesma, do cartaz que critica a postura do ministro da Saúde e que levou à exoneração da directora do centro de saúde, a violação da correspondência particular de funcionários pela coordenadora da sub-região de saúde de Castelo Branco, são fenómenos que se enquadram na política autoritária, que quase sempre dominou em Portugal, quer na vigência da monarquia quer na I República, e que conta com prestimosos e voluntários colaboradores; estes sim é que são colaboradores e não os trabalhadores que são sobre-explorados nas empresas da nova terminologia. Ao contrário do defendido por alguns jornalistas pagos pelo regime, a bufaria não é um fenómeno acidental com o qual não nos devemos preocupar atendendo ao grau relativamente elevado de maturidade (?) da democracia burguesia, a bufaria faz parte de uma certa alma lusitana, é o resultado de entre nós nunca se ter realizado a revolução industrial, e simultaneamente, uma revolução de mentalidades.
Ao tempo da PIDE, muitos informadores não recebiam dinheiro pelas informações fornecidas sobre a actividade política ou opiniões pessoais de vizinhos, colegas de trabalho, ou até familiares com quem se incompatibilizavam, porque o faziam de livre e consciente vontade, encarando a tarefa como um dever patriótico; outros, infiltrados em organizações políticas ou sindicais ou que contactavam com figuras importantes da oposição, como aconteceu com o general Humberto Delgado, recebiam uma gratificação regular pelo trabalho sujo. Um trabalho tão repugnante que alguns agentes da PIDE, que depois do 25 de Abril foram identificados como bufos por populares, vinham rápida e indignadamente desmentir, preferindo ir presos para Caxias. Contudo, este trabalho de delação não enoja muitos “socialistas” que se inscreveram no partido como antigamente se teriam inscrevido na União Nacional, ou na ANP de Marcelo Caetano, para estarem bem com o sistema e arranjar mais facilmente um empregozito para eles e para os filhos, são aqueles, como diz Aquilino Ribeiro, que vivem à cata das migalhas do regime.
A PIDE quando reconheceu que era para ser desmantelada, contrariando o que tinha sido antecipadamente acordado com o MFA (que aceitava a sua manutenção mas agora ao serviço dos novos senhores do poder), começou a queimar os ficheiros dos seus informantes, que na altura se pensava que ascenderiam a algumas dezenas de milhares, talvez mais de 50 mil. Demasiados bufos para a uma população tão pequena, que sofreu uma ditadura que se impôs durante quase meio século sem se ver obrigada a recorrer a uma opressão generalizada e feroz como aconteceu aqui ao lado na vizinha Espanha; é que beneficiou de uma cultura, mistura de resignação e de manhosice, em que a delação já era elemento intrínseco. Este comportamento, entre nós, ligado a pequenas profissões pré-capitalistas, ao pequeno campesinato proprietário, ao mundo rural atávico, dominado pelo padre e pelo mestre-escola, o Portugal de Salazar e de que ainda resta algumas excrescências, e são exactamente estes sectores que cultivam a bufaria a “bem da nação” e, no momento presente, do PS; este às voltas com a missão espinhosa de aplicar em Portugal as reformas exigidas pelo grande capital europeu e nacional a fim de aumentarem exponencialmente as suas mais-valias.
Uma parte significativa dos portugueses repudia a bufaria e os bufos metem-lhe asco, é esta indignação que devemos ampliar ao mesmo tempo que combatemos o governo sócrates/ps (com minúsculas) até ao seu completo derrube do poder.
03 de Julho 2007
OS BÁRBAROS